domingo, 27 de março de 2011

LADRÕES À SOLTA EM PORTUGAL



OPINIÃO - DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Quando o Estado dá péssimos exemplos

Lê-se e fica-se incrédulo. Na véspera do chumbo do PEC IV no Parlamento, e já com a crise política provocada pela demissão do primeiro-ministro a adivinhar-se, foi publicado em Diário da República o decreto-lei que autoriza várias entidades públicas a aumentarem exponencialmente os valores dos contratos que podem fazer por ajuste directo, sem concurso público.

As novas regras, promulgadas pelo Presidente a 1 de Março e que entram em vigor já a 1 de Abril, permitem que o primeiro-ministro possa entregar directamente contratos públicos de 11,2 milhões de euros, quando antes só podia autorizar 7,5 milhões. Os valores autorizados aos ministros passam de 3,75 para 5,6 milhões, os dos autarcas de 150 para até 900 mil e os dos directores--gerais de 100 para 750 mil.

Numa época de crise absoluta, em contenção orçamental, quando se conhecem medidas cada vez mais draconianas para controlar as despesas do Estado, a justificação do Ministério das Finanças não pode ser aceitável: uma "actualização dos montantes dos limites da autorização da despesas" que se mantinham desde 99.

O que está aqui em causa, muito mais que existir ou não razoabilidade para a medida - e, no caso concreto, nem sequer se percebe que a haja -, são as suas consequências e a imagem que ela dá. Autorizar despesas deste género e deste valor sem qualquer escrutínio ou controlo (sendo que é possível fraccionar obras e quintuplicar montantes) é, dada a condição humana, um estímulo, no mínimo, ao despesismo.

Mas é, também, um convite à desconfiança dos cidadãos. Quando o que se pede é que o Estado dê o exemplo, surgem actos completamente inversos. Um péssimo sinal. Crise do teatro, teatro da crise Há duas formas de encarar a situação do teatro em Portugal e a sua eterna crise, neste dia mundial que hoje se celebra: ou sublinhar, como Joaquim Benite em recente intervenção, que, "desde 2000, essa crise resulta do carácter errático, improvisado, caprichoso e casuístico de políticas constantemente alteradas por ministérios incompetentes e incapazes de definir um quadro global de funcionamento do tecido teatral português"; ou optar pelo optimismo, como Maria João Luís hoje ao DN: "O teatro está de óptima saúde.

Estão a acontecer muitas coisas, podem não ser coisas muito inovadoras e extraordinárias, mas nota-se que há uma grande vontade de criar, de trabalhar e de fazer." O que pode parecer mais espantoso é que ambos têm razão. Manuel Maria Carrilho foi o último ministro da Cultura que decidiu, com coerência, um plano global para o teatro (e para outras políticas sectoriais no âmbito da cultura). Desde então, os profissionais do teatro foram substituídos pelos burocratas na definição e gestão de um serviço público raramente entendido como tal. Mas também temos assistido a formas originais de organização e resistência, como tentativas de resposta a uma crise mais geral que não podia deixar de achegar aos palcos.

Por isso, à crise do teatro (e do resto) responderam muitos actores com o combate, a iniciativa e a originalidade de um teatro da crise que, em muitos casos, os fez sair dos grandes centros e procurar novos públicos. E só assim, com política definida ou errática, muitos ou poucos subsídios, o teatro é, e sempre será (para usar as palavras da dramaturga Margarida Fonseca Santos, autora da Mensagem da SPA para este dia mundial), "o palco onde a vida se pode mostrar e onde se constrói vida para além da que vivemos

A LÍBIA E A HIPOCRISIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


23/3/11

O que se passa na Líbia e a reacção da “comunidade internacional” (alguém sabe o que isso é?), é a prova acabada da refinada hipocrisia que preside às relações entre as entidades políticas sejam elas quais forem.

E, outrossim, da desorientação que grassa no chamado mundo ocidental, nomeadamente entre os países que fazem parte da NATO e da UE.

Os cerca de milhão e setecentos mil Km2, de pedra e areia, com uma orla marítima mediterrânica de 1770 km, onde se amontoam 90% dos seus 6 milhões de habitantes (cerca de 25% de emigrantes), não apresenta qualquer estrutura que possa permitir constituir um país. A Nação é inexistente e o Estado uma espécie de estado-maior de poder unipessoal, espraiado por uma rede tentacular de nepotismo familiar e étnica. O país é tribal, isto é, constituído por descendentes de 140 tribos árabes e outras berberes, hoje os Tuaregues[1]. Aquilo que os une são as fronteiras coloniais da antiga Tripolitanea e Cirenaica, que a Itália pré fascista conquistou, em 1911, e continuou a administrar a custo, até à independência da Líbia decretada, em 1952, no seio das Nações Unidas. O único cimento comum é a religião muçulmana que, no espaço em questão, não apresenta cisões de vulto.

Kadhafi está no poder há 40 anos, data assinalada com pompa e circunstância em tendas luxuosas visitadas pelos grandes do mundo.

Quando jovem oficial, Kadafi liderou um golpe de estado, em 1969, que se impôs a uma anquilosada monarquia liderada pelo Rei Idris I, antigo líder religioso dos Sanusis, povo que mais se opôs ao domínio italiano. No poder, substituiu os sucessores de Beis e Califas por uma ditadura pessoal de contornos difusos que procurou sustentar com uma doutrina excêntrica saída de uma noite de insónia e colorida a verde.

Os países do mundo e a solidariedade árabe/muçulmana, acomodaram-se à coisa como, de resto, se acomodam a tudo.

O novo grande líder, fogoso como era, de matriz marxista e fundamentalista muçulmano, decidiu apoiar as causas dos “oprimidos” e passou a destilar ódio aos povos do Ocidente cujos governos culpava dos males do mundo.

Não lhe chegando o palco mediático e a acção político – diplomática, o que estaria no seu direito, decidiu apoiar, de motu próprio, a acção de outras organizações empenhadas em acções de terrorismo internacional.

O evento mais espectacular ocorreu com o atentado bombista ao voo 103 da PANAM, que se despenhou na Escócia, em Dezembro de 1988. Morreram 270 pessoas que, porventura, nem sabiam apontar no mapa onde ficava a Líbia.

Fartos de aturar as diatribes de tão original personagem, dois estadistas de rara coragem política – Reagan e Tatcher, decidiram bombardear pelo ar, vários alvos na Líbia, a começar no alvo número um que era o próprio Kadhafi. Corria o ano de 1986.

Morreram umas quantas pessoas, mas não o dito cujo. Nessa altura não pediram autorização a ninguém a não ser para sobrevoo. A Força Aérea Portuguesa mandou descolar aparelhos de alerta, a fim de escoltarem alguns destes voos, quando passavam ao largo da nossa costa. Convém que esta gente saiba que isto aqui não é terra de ninguém…

Votaram-se, então, sanções económicas contra a Líbia que foram em geral cumpridas, sobretudo pelo mundo ocidental (Resolução nº 748 de 31/3/92).

O povo líbio manteve-se pobre e calado e toda esta situação veio reforçar o controle interno do regime, incluindo o reforço em meios militares.

Acontece que a Líbia é o 4º produtor africano de hidrocarbonetos dispondo, porém, das maiores reservas de todo o continente. O desenvolvimento lento da indústria extractiva (iniciada em 1961) e o cada vez maior apetite que os mercados internacionais têm por petróleo e gás natural, não eram compatíveis com a quarentena líbia. Quando Saddam caiu no Iraque, em 2003, Kadhafi desistiu do seu programa de armas de destruição maciça e pagou três biliões de dólares às famílias dos que morreram no voo da Pan Am e de um outro (UTA Flight). O namoro começou, então, de todos os lados. O embargo foi levantado, Kadhafi admitiu a responsabilidade nalgumas vilanias que cometeu e os negócios floresceram. Portugal foi na onda.

As visitas sucediam-se e eram só sorrisos e abraços. O grande líder (e seus rebentos) continuavam a fazer tropelias e a dizer enormidades, mas tudo se lhes passou a admitir.

Na véspera da actual “revolta”, as exportações de petróleo e gás já representavam 10% das necessidades europeias, além de que a UE lhe passou a pagar uma soma considerável para ele não deixar os emigrantes clandestinos passarem do seu território para a margem norte do mare nostrum. Na Líbia desabaram milhares de técnicos, empresas, toda a casta de produtos e … muito armamento. Armamento que agora aqueles que o venderam, querem destruir! Um “filme” continuadamente em reposição, agora em tecnicolor e quase por antecipação desde que criaram a CNN!

Na sequência da revolta popular na Tunísia e Egipto (partindo do principio que não há mais nada por detrás…), elementos de uma das “tribos” estranhas ao clã Kadhafi, revoltaram-se em Bengasi (bem longe de Tripoli!) e revelaram o seu desejo de afastar o concorrente discursivo de Fidel de Castro, para longe dos bunkers onde se refugia.

A partir daqui os eventos precipitaram-se.

Esquecendo-se que a realidade social na Líbia não era idêntica ao Egipto e Tunísia e que ao contrário daqueles países não existia um exército nacional (que por enquanto têm conseguido controlar os acontecimentos), mas sim um corpo mercenário de segurança pessoal, os principais lideres dos países ocidentais puseram-se logo ao lado dos revoltosos excomungando liminarmente o “louco” Kadhafi com quem aliás, almoçavam na véspera. Nisto foram coadjuvados pela esmagadora maioria dos jornalistas que cobriam os eventos.

Alguns lideres que nos habituámos a ver tão moderados, até perante situações mais graves, decretaram urbi et urbi, o fim de Kadhfi e do seu regime, de novo transformado em eixo do mal. A França, à revelia da UE (aliás de tudo e todos), reconheceu diplomaticamente um poder desconhecido, em Bengasi…

O governo de Lisboa foi na onda guardando distâncias.

A Liga Árabe baralhada com tudo o que vai acontecendo de Marrocos ao Iémen, nem sabe o que há-de fazer.

Parecia que as coisas estavam a correr bem para os revoltosos e que aquela espécie de milícias circenses ululantes e de pé descalço, que rumavam a Oeste, rapidamente tomariam Tripoli.

No Conselho de Segurança (CS) pensava-se em sanções e congelamento de contas e bens.

Mas a Kadhafi não faltavam fiéis (a sua tribo à cabeça), armas e dinheiro. E o que lhe faltava em soldados passou a sobrar-lhe em mercenários. Quando conseguiu pôr alguma ordem nas hostes (ou o filho mais mediático, por ele), desatou a malhar nos que se lhes opunham, fechou a fronteira com a Tunísia e começou a empurrar perigosamente a tribo de Bengasi para o deserto egípcio.

Aqui soaram as campainhas de alarme em Washington e nalgumas capitais europeias. Desenhou-se uma zona de interdição aérea, mas russos e chineses opunham-se. Até que, In extremis, na sexta-feira, dia 18/3, com as forças de Kadhafi às portas de Bengasi, o CS aprovou a Resolução nº 1973, que permitia “todas as acções necessárias à protecção de civis”.

De imediato navios e aviões americanos, ingleses e franceses, previamente posicionados, começaram a pulverizar alvos das forças do ditador líbio, com bombas e mísseis.

Mais uma vez os franceses se adiantaram para serem os primeiros e existem fortes dúvidas se efectuaram o primeiro ataque ainda antes da resolução do CS ter entrado em vigor.

Não se percebe o que terá levado russos e chineses a absterem-se na votação, permitindo os ataques e agora, depois destes terem ocorrido, virem pedir que parem…

Aliás a resolução, que contém 95% de palha e 5% de substância, é vaga quanto a esta última. De facto é imprecisa quanto ao âmbito e objectivo; quem pode intervir, durante quanto tempo, etc. Ou seja, permite que qualquer país no mundo vá lá molhar a sopa e se queira posicionar para reclamar eventuais dividendos quando o fumo dissipar.

E, pelos vistos, estabelecer uma zona de exclusão aérea e proteger civis (o que será um civil naquelas circunstâncias?) tem tido um entendimento bastante alargado…

Ao fim de três dias os únicos países que se decidiram a largar armamento sobre as forças de Kadhafi, os EUA, a GB e a França, aparentemente desentenderam-se, não se sabe bem porquê. Como a NATO e a UE não se entendem como intervir e a Liga Árabe começou a virar o bico ao prego, o comando conjunto tem que ser estabelecido com as três potências belicosas para não começarem a disparar cada um para seu lado.

A Alemanha pôs-se de fora, sem explicar muito bem porquê. Mais uma vez a França faz o que costuma, que é baralhar tudo e ter espirros de personalidade relativamente a ingleses e americanos. Não se entende muito bem os objectivos da operação: eliminar Kadhafi? Levar os rebeldes ao poder? Parar o fluxo migratório para a Europa? Ganhar contratos após a “crise” ter passado? E o que fará correr Sarkozy? Não deixar que se conheça a extensão do eventual financiamento da sua última campanha eleitoral, por parte do líder líbio? Obter proeminência na UE? Afastar os EUA de África (quintal das traseiras europeu) como os EUA afastam os europeus do continente americano?

Muitas perguntas se levantam, porém: como reagirão os russos e chineses, se o assunto voltar ao CS? Como irá reagir a rua Árabe? E a Liga Árabe? Como reagirão os núcleos de emigrantes muçulmanos na Europa? Porque é que se ataca o governo líbio e não se atacam os governos do Bahrein e do Iémen, por exemplo? Há dois pesos e duas medidas? Porque é que os governos do Irão e de Israel, até agora não emitiram um som?

O que se passa na Líbia é um prenúncio de guerra civil, a mais cruel de todas as guerras. À partida ninguém se deve imiscuir numa guerra civil (a não ser que um interesse vital de uma potência, normalmente um vizinho esteja em perigo). Havendo envolvimento internacionaliza-se o conflito e ninguém sabe onde vai parar!...

Tudo isto parece profundamente errado e aleatório.

Por uma vez, parece que o governo português se resguardou – embora não fique bem votar a resolução do CS e depois pôr-se de fora da sua aplicação. Aliás o governo português não tem dinheiro para mandar cantar um cego e um dia destes terá apenas uma existência virtual. Mas o povo português, além de ter de aprender rapidamente a escolher o sistema político e os políticos para se bem governar, deve relembrar uma máxima que aprenderam ao longo dos séculos e que é esta: nós não podemos confiar verdadeiramente em ninguém, na cena internacional. E devemos contar, sobretudo, com nós próprios. Imaginem, por um momento, que uma qualquer coligação intentava uma acção semelhante contra Portugal…

João José Brandão Ferreira

SALARIOS CÁ E LÁ FORA

15.3.09
Salários de gestores cá e lá fora

Saber é preciso!

Ignorar é cumplicidade !

É preciso que se saiba

"... se os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, os nossos gestores recebem, em média:

- mais 32% do que os americanos;
- mais 22,5% do que os franceses;
- mais 55 % do que os finlandeses;
- mais 56,5% do que os suecos"

(dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/08)

E são estes indivíduos que ousam chamar a nossa atenção dizendo que "os portugueses gastam acima das suas possibilidades".

Entre eles, salienta-se o ILUMINADO génio das finanças Vítor Constâncio.

Comentário do remetente do e-mail em que eram transportados estes dados.

Como é que se chegou a esta situação?
Os chamados “gestores de ponta” foram os que verdadeiramente se orientaram com o 25 de Abril!
Os dados aqui transcritos são bastante claros.

O leque da diferença foi-se alargando e estes “bons rapazes” foram tomando conta da situação. Têm ordenados chorudos, carros de alta cilindrada por conta da instituição, cartões de crédito, reformas douradas.

É desejável que um dia, não muito distante, haja oportunidade de os chamar à responsabilidade pelas empresas que levaram à ruína, pelas perdas das empresas públicas e pelas aldrabices e falcatruas que têm feito com o dinheiro dos contribuintes.

Nunca houve tanta diferença entre os seus ordenados e os dos seus equivalente4s em Estados ricos e desenvolvidos.

Mas não são apenas os “gestores de ponta” os grandes orientados.

Há o pessoal do futebol, gestores, treinadores e jogadores, pessoal da TV, actores e modelos, os inúteis “famosos” que fazem as capas das revistas cor-de-rosa e uma boa percentagem dos políticos.

A caminhar à velocidade actual, alguma coisa grave irá acontecer neste País, muito em breve. Talvez acabe aí esta vida “airada” de alguns que ainda nos gozam com as desigualdades!


J Morais Silva