domingo, 31 de março de 2013
Posted:
30 Mar 2013 03:25 PM PDT
Um
mês e meio depois de ter saído da liderança do Governo, José Sócrates comprou um
Mercedes-Benz classe S 250 CDI em primeira mão, no valor de 95 mil euros, que
continua em seu nome, apurou o CM Anteontem à noite, porém, o
ex-primeiro-ministro deixou o carro de luxo com o motorista e apresentou. -se na
RTP, para a sua primeira entrevista desde que regressou de Paris, ao volante de
um Volskwagen Golf alugado. Sócrates adquiriu o Mercedes, novo, em Agosto de
2011 - pouco depois de ter sido derrotado nas eleições de 5 de Junho e de ter
saído do Governo no dia 21 do mesmo mês. Mas na RTP, quarta--feira, afirmou: "A
primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um
empréstimo para ir viver um ano para Paris, sem nenhuma responsabilidade ao
nível profissional." O ex-líder do PS não referiu, porém, ter contraído qualquer
empréstimo para comprar um classe S por 95 mil euros. Isto apesar de, segundo as
suas palavras, ter "uma única conta
Do PREC que ainda por aí anda, de pedras na mão e saído debaixo delas
Sábado, 30 de Março de 2013
Depois do Adeus
Já anteriormente
aqui tinha deixado links para os episódios de Depois do Adeus mas eles
desapareceram. Seria interessante saber-se se se este tipo de programas,
substancialmente documentais, não devem fazer parte do serviço público
propalado pela RTP e disponibilizados sem constrangimentos.
Aqui ficam novos links.
Episódio 1 - O Fim - 18 de Julho de 1975
Episódio 2 - A balbúrdia - 25 e 26 de Julho de 1975
Episódio 3 - Entre o desespero e a esperança - 31 de Julho de 1975
Episódio 4 - Mais uma mudança - 7 e 8 de Agosto de 1975
Episódio 5 - Zangas em família - 14 e 15 de Agosto de 1975
Episódio 6 - Um novo desafio - 18, 19 e 20 de Agosto de 1975
Episódio 7 - Fomos abandonados - 1, 2 e 3 de Setembro de 1975
Episódio 8 - Lar doce lar - 18 a 21 de Setembro de 1975
[Muito embora estes uploads não sejam meus, tenho os episódios em ficheiro. Se desaparecerem logo se vê.]
Aqui ficam novos links.
Episódio 1 - O Fim - 18 de Julho de 1975
Episódio 2 - A balbúrdia - 25 e 26 de Julho de 1975
Episódio 3 - Entre o desespero e a esperança - 31 de Julho de 1975
Episódio 4 - Mais uma mudança - 7 e 8 de Agosto de 1975
Episódio 5 - Zangas em família - 14 e 15 de Agosto de 1975
Episódio 6 - Um novo desafio - 18, 19 e 20 de Agosto de 1975
Episódio 7 - Fomos abandonados - 1, 2 e 3 de Setembro de 1975
Episódio 8 - Lar doce lar - 18 a 21 de Setembro de 1975
[Muito embora estes uploads não sejam meus, tenho os episódios em ficheiro. Se desaparecerem logo se vê.]
Alhos e bugalhos da alter-monarquia portuguesa
Joaquim Vieira ao i: “Soares foi absolvido pelos media. O mesmo não aconteceria com Cavaco”
Por Catarina Falcão e Luís Rosa, publicado em 28 Mar 2013 - 03:10 | Actualizado há 2 dias 10 horas
O autor da biografia “Mário Soares, uma vida” escrutinou a carreira do ex-Presidente e diz que foi beneficiado pela comunicação social, particularmentenos casos relacionados com Macau
Joaquim Vieira recebeu o i em sua casa como se recebesse meros colegas de profissão, sem formalidades nem protocolo. Mas o precursor do jornalismo de investigação e antigo director-adjunto do “Expresso” está há já algum tempo afastado das redacções, embora continue a ter uma intervenção activa no jornalismo como presidente do Observatório de Imprensa. Desde 2006 Joaquim Vieira concentrou-se em reconstruir a vida de Mário Soares e contá-la de forma independente através de 16 entrevistas com o próprio, mas falando também com os seus amigos e inimigos.
Apresenta-nos um Soares burguês, mimado, intuitivo, corajoso, egocêntrico, contraditório, pragmático, mas sempre um passo à frente dos restantes políticos. Soares nasceu para ser político? É o animal político por excelência?
Sim. Não sei se nasceu para ser, mas foi educado para ser. Teve uma educação de príncipe tendo em vista o futuro exercício de cargos políticos, sendo o seu pai oposicionista e tendo sempre acreditado que as coisas dessem a volta. Acreditava que o filho teria um futuro num regime republicano aberto. E o que não educou ele, pediu a outros tutores (Álvaro Salema, Agostinho da Silva e Álvaro Cunhal) que educassem - tinha esse privilégio por ser proprietário do Colégio Moderno. Escolheu a dedo aqueles que achava importantes para a formação extracurricular do filho. Não para ter melhores notas, até porque Soares não era um aluno brilhante, mas sim para lhe dar uma formação humanística, com os elementos da filosofia, da ciência política, da sociologia - tudo o que fosse culturalmente válido para formar um político.
Trata-se de uma biografia não autorizada, mas ao lermos o livro facilmente nos deparamos com técnicas de jornalismo de investigação. Pretendeu escrutinar Mário Soares?
Sim. Das suas autobiografias, tanto “Portugal Amordaçado”, correspondente ao período anterior ao 25 de Abril, à mais recente, “Um Político Assume-se”, passando pelas entrevistas que deu à Maria João Avillez (e que leu antes da publicação, tendo oportunidade de corrigir tudo o que lá estava), temos uma narrativa sobre Mário Soares contada pelo próprio. Assim, para fazer uma coisa diferente, tive de seguir uma via diferente. A figura maior do regime democrático ainda não tinha sido alvo de um trabalho independente e aceitei o desafio. Não diria que é uma biografia não autorizada, como aquelas a que estamos habituados, porque normalmente neste género o autor não fala com o biografado, vai por caminhos autónomos. Neste caso tive o privilégio de conversar com Mário Soares, só que ele não leu o trabalho final antes da publicação - recebeu o livro já impresso, como qualquer leitor.
O papel político de Soares é historicamente mais relevante no pós-25 de Abril. Tornou-se o primeiro chefe do governo eleito em eleições livres e o primeiro Presidente da República civil. A democracia portuguesa teria tido mais dificuldade em consolidar-se sem Mário Soares?
Provavelmente sim, até porque Mário Soares teve um papel decisivo em 1975, na fase em que o país estava muito indeciso na definição do regime. Sem desprimor de quem interveio na altura, Soares foi fundamental como ministro dos Negócios Estrangeiros para estabelecer a ligação com os líderes estrangeiros e para organizar a resistência civil à deriva do regime - coisa que nem PSD nem CDS fizeram, por várias razões históricas.
Quando é confrontado com o facto de criticar as actuais medidas impostas pela troika quando teve de aplicar medidas semelhantes em 1979 e 1984 como primeiro-ministro, Soares frisa que “são situações muito diferentes”. São mesmo?
Vista à lupa, a carreira de Mário Soares está cheia de contradições. Ele costuma dizer que não mudou, que manteve sempre os mesmos princípios, o que mudou foi a realidade à volta dele, mas isso é uma versão muito bondosa dos acontecimentos. Soares tem tido uma carreira sinuosa e tem sido um pragmático em todos os momentos para atingir os seus objectivos. Um caso muito concreto e de que se tem falado bastante na actualidade é o da Venezuela. Mário Soares era um grande apoiante de Carlos Andrés Pérez (que representava um regime corrupto e que deu bastantes ajudas ao PS) e, no entanto, também se tornou um grande apoiante de Hugo Chávez, que o tirou do poder. Mário Soares foi desde 1975 até ao final do seu último mandato presidencial um acérrimo defensor da democracia representativa. Depois de sair da presidência passou a ser um apreciador da democracia de base, derivando para movimentos alternativos. Isto mostra muitas das suas atitudes contraditórias tendo em conta o desígnio da democracia, da defesa da União Europeia e do socialismo democrático - um conceito que o próprio nunca definiu muito bem.
Hoje em dia vemos uma grande parte da geração de Mário Soares a contradizer as opções políticas que tomaram no princípio dos anos 90 com a adesão ao euro. Soares não defende a saída do euro, mas tem tecido críticas muito fortes à política seguida pela Europa…
Ele, no fundo, está a tomar uma posição contra si próprio, mas provavelmente nem tem consciência disso.
Naquela altura, ele não tinha consciência das consequências da opção pela moeda única?
Não, de maneira nenhuma. Soares não tem qualquer formação económica nem se interessa por estudar a fundo a questão. Apanha as ideias pelo ar. Daí aquela frase célebre que ele diz: “Mandem-me as coisas numa frase resumida, ou, no máximo, numa folha A4, mas não me mandem dossiês e estudos que não vou ler.” É curioso do ponto de vista histórico que tenhamos tido três resgates internacionais em pouco mais de 30 anos - uma coisa dramática para este país - e os dois primeiros foram negociados por governos de Mário Soares. Para ele, na altura, era muito fácil porque se tratava de desvalorizar a moeda e isso agora não existe.
Tem causado polémica a sua opção por falar das infidelidades de Mário Soares. É comum em Inglaterra, Estados Unidos ou França que esse tipo de questões sejam abordadas em estudos biográficos.
Sim, durante as nossas conversas até falei com ele sobre o livro de Mitterrand - em que foi denunciado que ele teria tido uma filha fora do casamento - e outras questões relacionadas com a sua vida privada. Soares disse-me logo: “Olhe que eu nunca tive uma filha fora do casamento, pode procurar à vontade que não encontra.” Eu expliquei-lhe que, como figura pública, tem de se sujeitar a esse escrutínio. Ele não apreciou isto. Confrontei Maria Barroso com o facto de o marido ser um galanteador e ela considerou a pergunta normal. Respondeu e admitiu implicitamente. Disse que o marido em Paris fez a vida que quis. Que bem lhe diziam que vendesse o Colégio Moderno e fosse também para lá, mas que ela sempre quis manter uma vida em Portugal. Mais tarde vim a perceber que era o próprio Mário Soares que não queria que isso acontecesse e ela até queria ir para lá. Ninguém ficou chocado com as perguntas que fui fazendo, nem a família nem os amigos. Se eu quero fazer um livro e tenho a preocupação de que seja um livro de referência, tenho de dar o retrato da vida de corpo inteiro, incluindo a parte pessoal.
Essa faceta de Soares, tal como acontecia em França com Mitterrand, era do conhecimento dos jornalistas que os acompanhavam. Acha que Soares foi protegido pelos media?
Sim, em vários aspectos. Soares sempre teve boa imprensa. Não sei explicar porquê. É uma figura simpática e ele próprio sempre disse que se deve seduzir os jornalistas como político - e os jornalistas embarcaram nisso. Se compararmos Cavaco com Soares, Cavaco sempre teve má imprensa. Depois Cavaco disse que nunca lia jornais e isso criou logo anticorpos. Por isso o tipo de linguagem que Soares utiliza em privado nunca transpareceu, e certas ligações afectivas também não. No caso de Macau e no livro de Rui Mateus, a imprensa reagiu com distância porque era Mário Soares. A comunicação social absolveu-o. O mesmo não aconteceria se fosse com Cavaco.
Nas transcrições das conversas com Soares optou por não “amaciar” o tom coloquial. Queria que as pessoas, nalguns pontos, sentissem que era uma história na primeira pessoa?
Não compete ao entrevistador alterar ou polir as palavras do entrevistado. Se eu tiro uma palavra o que é que ponho lá a substituir? Seria eu a inventar. Eu pedi--lhe autorização não só para falar com ele, mas também para gravar as conversas, e ele sabia que estava a falar para prestar declarações para um livro. Até lhe dei a oportunidade de ler as transcrições que usei no livro antes da publicação. Sobre os três primeiros capítulos mandou dizer pela secretária que estava tudo bem, em relação aos outros nunca mais me respondeu até o ter encontrado na Fundação Mário Soares. Disse--lhe que estava à espera da resposta dele para avançar no livro e ele disse-me que já tinha percebido que eu era rigoroso. Na véspera do Natal passado ele ligou- -me e disse-me que não queria ter nada a ver com o texto e que a edição ficava totalmente por minha conta. Neste caso publiquei tal como ele me tinha dito as coisas. Esta mudança de atitude talvez tenha sido por causa da nossa última conversa, que foi complicada porque discutimos as questões de Macau, e aí terá ficado de pé atrás em relação ao que ia sair.
O caso Emaudio (empresa fundada por dirigentes do PS próximos de Soares para antecipar a onda de privatizações da comunicação social nos primeiros anos da década de 90) pode comparar-se com a tentativa de controlo da comunicação social por parte de José Sócrates que foi revelada no processo Face Oculta?
Segue a mesma filosofia. No PS sempre houve esta relação difícil com a comunicação social. Sempre tentaram ter órgãos próprios: caso da “República”, da “Luta”, do “Portugal Hoje”. Como tudo isso falhou, tentaram alternativas como a Emaudio, era uma dessas alternativas. Nessa altura percebeu-se que não era possível criar de raiz um grupo de comunicação social e por isso passou a tentar--se influenciar os grupos já existentes.
A Emaudio foi criada parcialmente com dinheiro recolhido para financiar as campanhas eleitorais do PS. A forma como se financiavam partidos nos anos 80 era muito diferente da de agora. A circulação de malas de dinheiro era muito comum…
Eu próprio assisti a isso… Numa viagem de regresso a Portugal depois de ter estado em reportagem em Macau vim sentado no avião ao lado de um dirigente do CDS que trouxe todo o tempo entre as pernas uma mala que ele me confessou estar cheia de dinheiro recolhido naquele território e doado ao seu partido por um conhecido empresário local (cujo nome me revelou). Ele vinha até com um certo receio de ser revistado pelos funcionários da alfândega na Portela, mas mostrou passaporte diplomático e passou sem ser incomodado. Também fui eu quem noticiou em primeira mão no “Expresso” uma cena algo rocambolesca em que um dirigente socialista foi interceptado no aeroporto de Hong-Kong por outro socialista, membro do governo de Macau, no momento em que se preparava para embarcar para a Europa com uma mala cheia de dinheiro que tinha recolhido de empresários do território alegadamente como donativos ao seu partido. Parece que havia divergências sobre o destino daquele dinheiro e o governante de Macau impediu o outro de seguir viagem com a mala.
Na altura do caso do faxe de Macau (caso em que o governador de Macau, Carlos Melancia, foi julgado e absolvido por corrupção passiva) a própria Polícia Judiciária ponderou investigar Mário Soares, mas o procurador-geral da República, Cunha Rodrigues, acabou por não autorizar a investigação. Soares foi beneficiado?
Tive oportunidade de discutir essa questão com Cunha Rodrigues para escrever o livro. Tenho uma visão muito crítica disso porque acho que o Ministério Público podia e tinha a obrigação de ter ido mais longe. Não quis porque houve receio na altura do faxe de Macau de que as eleições presidenciais fossem perturbadas de alguma forma, numa altura em que estava em causa a reeleição de Soares. Com a saída do livro de Rui Mateus em 1996, que contém matéria complicadíssima em relação ao sistema de financiamento dos partidos em Portugal e que podia motivar a abertura de um processo judicial, Cunha Rodrigues foi muito timorato. Já em relação ao caso do faxe se punha a questão de interrogar Mário Soares no processo e foi decidido não o fazer. Uma decisão polémica sobre um interrogatório que a PJ acha que devia ser feito. Há uma fonte de Belém que me contou que em 1996, na primeira audiência entre Jorge Sampaio (então eleito Presidente da República) e o procurador-geral Cunha Rodrigues, este terá dito que não mandou abrir o inquérito porque podia pôr em causa o funcionamento do regime. Cunha Rodrigues não confirma isto. Com a filosofia actual com que se encara estas coisas a nível judicial, a investigação teria ido mais longe.
Aborda de forma desenvolvida a circulação de dinheiro entre as diferentes fundações do PS, as campanhas presidenciais de Soares e a própria criação da Fundação Mário Soares. Considera que existem indícios de que Soares e a sua família beneficiaram ilegitimamente do dinheiro angariado para campanhas políticas?
Não. Para benefício pessoal não tenho nenhum indício disso. A família sempre teve uma vida confortável com o Colégio Moderno, que é uma fonte própria de rendimento. A verdade é que Soares é uma pessoa que nunca ligou muito ao dinheiro e não há uma fronteira entre dinheiro que é de um e o que do outro. Em termos de dinheiro, Soares é generoso. Como nunca lhe faltou dinheiro desde a juventude, Soares habituou-se a esbanjar, a pagar as rodadas nos cafés aos amigos. Como Presidente, Soares pagava do seu próprio ordenado uma espécie de subvenção a artistas em dificuldades. Nunca deu importância ao dinheiro e por isso fica chocado com este tipo de questões. Ele acha que é generoso e que nunca beneficiou desses movimentos. Considera uma ofensa que se levante alguma questão sobre isso. Também é um facto que nunca houve um controlo rigoroso da circulação do dinheiro.
Nos casos do faxe de Macau e da Emaudio sempre houve dúvidas sobre o grau de conhecimento que ele tinha do que os amigos faziam…
Para mim, ele teve conhecimento de tudo. Era o supervisor. Estava lá em cima no topo da pirâmide e nada era feito sem o seu conhecimento. Não intervinha, deixava as coisas correr. Por vezes podia intervir para corrigir algumas coisas e Rui Mateus narra algumas conversas no seu livro em que se discutia onde e como aplicar o dinheiro. Hoje em dia seria completamente impensável que um Presidente da República convidasse empresários de gabarito internacional como Berlusconi, Murdoch e Maxwell para fazer negócios com uma empresa a que estava ligado o Presidente. Curiosamente, ele não se lembrava dos encontros com Murdoch e Maxwell, só com Berlusconi.
Compreende como é possível que o livro de Rui Mateus tenha sido apresentado pelos media como um livro de um traidor na altura em que saiu?
É a tal boa imprensa de que Soares sempre beneficiou. Se alguma coisa põe em causa Soares, quem é o culpado? Não é Soares, mas quem pôs em causa Soares. Não consigo explicar o que sucedeu em 1996. De facto, Soares teve essa capacidade de seduzir os jornalistas. Eu percebi isso pessoalmente, depois de fazer a cobertura da campanha presidencial de 1986. Os jornalistas nunca puseram em causa Soares.
Soares teve grandes duelos com Cunhal, Ramalho Eanes e Cavaco Silva, descrevendo-os como uma antítese de si próprio: personagens frias, previsíveis, que não gostam dos prazeres da vida. As gerações futuras vão guardar melhor memória de Soares que das restantes figuras políticas?
Independentemente das questões políticas, podemos dividir os políticos em dois grupos: os hedonistas, que fazem da política uma actividade lúdica, e o grupo mais espartano que faz da política uma obrigação e um dever. Aí há um choque entre uma visão e outra e Soares assume esse lado lúdico da política. E desconfia dos políticos que estão desse lado mais severo. Ao mesmo tempo dava-se muito bem com políticos de outras áreas que também tinham uma atitude idêntica à dele. Por exemplo, Mota Pinto. Era uma relação de grande amizade apesar de um ser do PS e outro do PSD. O Bloco Central viveu muito desta relação pessoal entre os dois. Há uma assessora do Soares que diz que em relação às mulheres não eram festas bunga-bunga, mas era uma coisa desse género.
Mário Soares foi um Presidente da República muito interventivo, particularmente no segundo mandato. Considera que foi o Presidente que levou mais longe os poderes presidenciais?
Aí há várias questões. Para já, foi ele que definiu a fórmula da magistratura de influência - Alfredo Barros, chefe da Casa Civil, reclama o termo - e aplicou-a de uma forma próxima da perfeição. Pelo menos, teve sempre grande empatia e compreensão por parte do eleitorado. O contrapeso ao governo foi muito bem aceite pelas pessoas. Temos a imagem de Ramalho Eanes como um Presidente conflituoso, Sampaio também teve algumas dificuldades na fase de transição Durão Barroso-Santana Lopes, e as pessoas não compreenderam muito bem essa atitude. Soares dissolveu a Assembleia uma vez mas isso foi completamente compreendido pelo eleitorado porque foi a favor do governo que estava na altura em funções. De seguida, Soares foi reeleito com mais de 70%. Foi também Soares quem inventou a história das presidências abertas, iniciativa que foi bem recebida pela população: viam o presidente, conviviam com ele. À distância parece-me ter havido um certo exagero como opositor - ele considerava que não havia uma verdadeira oposição do PS. A opinião pública de uma forma geral sempre aceitou a forma como Soares exerceu os seus mandatos. Aliás, nunca houve um Presidente com as quotas de aprovação que ele teve.
Já falou com Mário Soares sobre o produto final?
Tivemos duas conversas telefónicas no dia em que lhe enviei o livro. Nesse dia fui à editora, os livros tinham acabado de chegar e fiz questão que o primeiro livro fosse para ele. Logo a seguir, recebi uma chamada sua a dizer que ainda não tinha recebido o livro e estava furioso por coisas que lhe contaram que o livro tinha. A conversa foi tão intempestiva que nem houve oportunidade para explicar nada, pedi-lhe apenas para esperar até receber o livro e depois voltávamos a falar. Nessa tarde voltou a ligar-me, depois de já ter recebido a obra, bastante mais calmo e cordato - Soares tem um tom muito contrastante; pode estar aos gritos com uma pessoa e 30 segundos depois está a rir para ela - tinha acabado de ver o livro, viu as partes que mais o preocupavam e viu que não era bem aquilo que lhe tinham dito. Disse que ia ler, “se tivesse paciência” e admitiu que me podia dar a opinião. Mas não voltámos a falar depois disso.
Por Catarina Falcão e Luís Rosa, publicado em 28 Mar 2013 - 03:10 | Actualizado há 2 dias 10 horas
O autor da biografia “Mário Soares, uma vida” escrutinou a carreira do ex-Presidente e diz que foi beneficiado pela comunicação social, particularmentenos casos relacionados com Macau
Joaquim Vieira recebeu o i em sua casa como se recebesse meros colegas de profissão, sem formalidades nem protocolo. Mas o precursor do jornalismo de investigação e antigo director-adjunto do “Expresso” está há já algum tempo afastado das redacções, embora continue a ter uma intervenção activa no jornalismo como presidente do Observatório de Imprensa. Desde 2006 Joaquim Vieira concentrou-se em reconstruir a vida de Mário Soares e contá-la de forma independente através de 16 entrevistas com o próprio, mas falando também com os seus amigos e inimigos.
Apresenta-nos um Soares burguês, mimado, intuitivo, corajoso, egocêntrico, contraditório, pragmático, mas sempre um passo à frente dos restantes políticos. Soares nasceu para ser político? É o animal político por excelência?
Sim. Não sei se nasceu para ser, mas foi educado para ser. Teve uma educação de príncipe tendo em vista o futuro exercício de cargos políticos, sendo o seu pai oposicionista e tendo sempre acreditado que as coisas dessem a volta. Acreditava que o filho teria um futuro num regime republicano aberto. E o que não educou ele, pediu a outros tutores (Álvaro Salema, Agostinho da Silva e Álvaro Cunhal) que educassem - tinha esse privilégio por ser proprietário do Colégio Moderno. Escolheu a dedo aqueles que achava importantes para a formação extracurricular do filho. Não para ter melhores notas, até porque Soares não era um aluno brilhante, mas sim para lhe dar uma formação humanística, com os elementos da filosofia, da ciência política, da sociologia - tudo o que fosse culturalmente válido para formar um político.
Trata-se de uma biografia não autorizada, mas ao lermos o livro facilmente nos deparamos com técnicas de jornalismo de investigação. Pretendeu escrutinar Mário Soares?
Sim. Das suas autobiografias, tanto “Portugal Amordaçado”, correspondente ao período anterior ao 25 de Abril, à mais recente, “Um Político Assume-se”, passando pelas entrevistas que deu à Maria João Avillez (e que leu antes da publicação, tendo oportunidade de corrigir tudo o que lá estava), temos uma narrativa sobre Mário Soares contada pelo próprio. Assim, para fazer uma coisa diferente, tive de seguir uma via diferente. A figura maior do regime democrático ainda não tinha sido alvo de um trabalho independente e aceitei o desafio. Não diria que é uma biografia não autorizada, como aquelas a que estamos habituados, porque normalmente neste género o autor não fala com o biografado, vai por caminhos autónomos. Neste caso tive o privilégio de conversar com Mário Soares, só que ele não leu o trabalho final antes da publicação - recebeu o livro já impresso, como qualquer leitor.
O papel político de Soares é historicamente mais relevante no pós-25 de Abril. Tornou-se o primeiro chefe do governo eleito em eleições livres e o primeiro Presidente da República civil. A democracia portuguesa teria tido mais dificuldade em consolidar-se sem Mário Soares?
Provavelmente sim, até porque Mário Soares teve um papel decisivo em 1975, na fase em que o país estava muito indeciso na definição do regime. Sem desprimor de quem interveio na altura, Soares foi fundamental como ministro dos Negócios Estrangeiros para estabelecer a ligação com os líderes estrangeiros e para organizar a resistência civil à deriva do regime - coisa que nem PSD nem CDS fizeram, por várias razões históricas.
Quando é confrontado com o facto de criticar as actuais medidas impostas pela troika quando teve de aplicar medidas semelhantes em 1979 e 1984 como primeiro-ministro, Soares frisa que “são situações muito diferentes”. São mesmo?
Vista à lupa, a carreira de Mário Soares está cheia de contradições. Ele costuma dizer que não mudou, que manteve sempre os mesmos princípios, o que mudou foi a realidade à volta dele, mas isso é uma versão muito bondosa dos acontecimentos. Soares tem tido uma carreira sinuosa e tem sido um pragmático em todos os momentos para atingir os seus objectivos. Um caso muito concreto e de que se tem falado bastante na actualidade é o da Venezuela. Mário Soares era um grande apoiante de Carlos Andrés Pérez (que representava um regime corrupto e que deu bastantes ajudas ao PS) e, no entanto, também se tornou um grande apoiante de Hugo Chávez, que o tirou do poder. Mário Soares foi desde 1975 até ao final do seu último mandato presidencial um acérrimo defensor da democracia representativa. Depois de sair da presidência passou a ser um apreciador da democracia de base, derivando para movimentos alternativos. Isto mostra muitas das suas atitudes contraditórias tendo em conta o desígnio da democracia, da defesa da União Europeia e do socialismo democrático - um conceito que o próprio nunca definiu muito bem.
Hoje em dia vemos uma grande parte da geração de Mário Soares a contradizer as opções políticas que tomaram no princípio dos anos 90 com a adesão ao euro. Soares não defende a saída do euro, mas tem tecido críticas muito fortes à política seguida pela Europa…
Ele, no fundo, está a tomar uma posição contra si próprio, mas provavelmente nem tem consciência disso.
Naquela altura, ele não tinha consciência das consequências da opção pela moeda única?
Não, de maneira nenhuma. Soares não tem qualquer formação económica nem se interessa por estudar a fundo a questão. Apanha as ideias pelo ar. Daí aquela frase célebre que ele diz: “Mandem-me as coisas numa frase resumida, ou, no máximo, numa folha A4, mas não me mandem dossiês e estudos que não vou ler.” É curioso do ponto de vista histórico que tenhamos tido três resgates internacionais em pouco mais de 30 anos - uma coisa dramática para este país - e os dois primeiros foram negociados por governos de Mário Soares. Para ele, na altura, era muito fácil porque se tratava de desvalorizar a moeda e isso agora não existe.
Tem causado polémica a sua opção por falar das infidelidades de Mário Soares. É comum em Inglaterra, Estados Unidos ou França que esse tipo de questões sejam abordadas em estudos biográficos.
Sim, durante as nossas conversas até falei com ele sobre o livro de Mitterrand - em que foi denunciado que ele teria tido uma filha fora do casamento - e outras questões relacionadas com a sua vida privada. Soares disse-me logo: “Olhe que eu nunca tive uma filha fora do casamento, pode procurar à vontade que não encontra.” Eu expliquei-lhe que, como figura pública, tem de se sujeitar a esse escrutínio. Ele não apreciou isto. Confrontei Maria Barroso com o facto de o marido ser um galanteador e ela considerou a pergunta normal. Respondeu e admitiu implicitamente. Disse que o marido em Paris fez a vida que quis. Que bem lhe diziam que vendesse o Colégio Moderno e fosse também para lá, mas que ela sempre quis manter uma vida em Portugal. Mais tarde vim a perceber que era o próprio Mário Soares que não queria que isso acontecesse e ela até queria ir para lá. Ninguém ficou chocado com as perguntas que fui fazendo, nem a família nem os amigos. Se eu quero fazer um livro e tenho a preocupação de que seja um livro de referência, tenho de dar o retrato da vida de corpo inteiro, incluindo a parte pessoal.
Essa faceta de Soares, tal como acontecia em França com Mitterrand, era do conhecimento dos jornalistas que os acompanhavam. Acha que Soares foi protegido pelos media?
Sim, em vários aspectos. Soares sempre teve boa imprensa. Não sei explicar porquê. É uma figura simpática e ele próprio sempre disse que se deve seduzir os jornalistas como político - e os jornalistas embarcaram nisso. Se compararmos Cavaco com Soares, Cavaco sempre teve má imprensa. Depois Cavaco disse que nunca lia jornais e isso criou logo anticorpos. Por isso o tipo de linguagem que Soares utiliza em privado nunca transpareceu, e certas ligações afectivas também não. No caso de Macau e no livro de Rui Mateus, a imprensa reagiu com distância porque era Mário Soares. A comunicação social absolveu-o. O mesmo não aconteceria se fosse com Cavaco.
Nas transcrições das conversas com Soares optou por não “amaciar” o tom coloquial. Queria que as pessoas, nalguns pontos, sentissem que era uma história na primeira pessoa?
Não compete ao entrevistador alterar ou polir as palavras do entrevistado. Se eu tiro uma palavra o que é que ponho lá a substituir? Seria eu a inventar. Eu pedi--lhe autorização não só para falar com ele, mas também para gravar as conversas, e ele sabia que estava a falar para prestar declarações para um livro. Até lhe dei a oportunidade de ler as transcrições que usei no livro antes da publicação. Sobre os três primeiros capítulos mandou dizer pela secretária que estava tudo bem, em relação aos outros nunca mais me respondeu até o ter encontrado na Fundação Mário Soares. Disse--lhe que estava à espera da resposta dele para avançar no livro e ele disse-me que já tinha percebido que eu era rigoroso. Na véspera do Natal passado ele ligou- -me e disse-me que não queria ter nada a ver com o texto e que a edição ficava totalmente por minha conta. Neste caso publiquei tal como ele me tinha dito as coisas. Esta mudança de atitude talvez tenha sido por causa da nossa última conversa, que foi complicada porque discutimos as questões de Macau, e aí terá ficado de pé atrás em relação ao que ia sair.
O caso Emaudio (empresa fundada por dirigentes do PS próximos de Soares para antecipar a onda de privatizações da comunicação social nos primeiros anos da década de 90) pode comparar-se com a tentativa de controlo da comunicação social por parte de José Sócrates que foi revelada no processo Face Oculta?
Segue a mesma filosofia. No PS sempre houve esta relação difícil com a comunicação social. Sempre tentaram ter órgãos próprios: caso da “República”, da “Luta”, do “Portugal Hoje”. Como tudo isso falhou, tentaram alternativas como a Emaudio, era uma dessas alternativas. Nessa altura percebeu-se que não era possível criar de raiz um grupo de comunicação social e por isso passou a tentar--se influenciar os grupos já existentes.
A Emaudio foi criada parcialmente com dinheiro recolhido para financiar as campanhas eleitorais do PS. A forma como se financiavam partidos nos anos 80 era muito diferente da de agora. A circulação de malas de dinheiro era muito comum…
Eu próprio assisti a isso… Numa viagem de regresso a Portugal depois de ter estado em reportagem em Macau vim sentado no avião ao lado de um dirigente do CDS que trouxe todo o tempo entre as pernas uma mala que ele me confessou estar cheia de dinheiro recolhido naquele território e doado ao seu partido por um conhecido empresário local (cujo nome me revelou). Ele vinha até com um certo receio de ser revistado pelos funcionários da alfândega na Portela, mas mostrou passaporte diplomático e passou sem ser incomodado. Também fui eu quem noticiou em primeira mão no “Expresso” uma cena algo rocambolesca em que um dirigente socialista foi interceptado no aeroporto de Hong-Kong por outro socialista, membro do governo de Macau, no momento em que se preparava para embarcar para a Europa com uma mala cheia de dinheiro que tinha recolhido de empresários do território alegadamente como donativos ao seu partido. Parece que havia divergências sobre o destino daquele dinheiro e o governante de Macau impediu o outro de seguir viagem com a mala.
Na altura do caso do faxe de Macau (caso em que o governador de Macau, Carlos Melancia, foi julgado e absolvido por corrupção passiva) a própria Polícia Judiciária ponderou investigar Mário Soares, mas o procurador-geral da República, Cunha Rodrigues, acabou por não autorizar a investigação. Soares foi beneficiado?
Tive oportunidade de discutir essa questão com Cunha Rodrigues para escrever o livro. Tenho uma visão muito crítica disso porque acho que o Ministério Público podia e tinha a obrigação de ter ido mais longe. Não quis porque houve receio na altura do faxe de Macau de que as eleições presidenciais fossem perturbadas de alguma forma, numa altura em que estava em causa a reeleição de Soares. Com a saída do livro de Rui Mateus em 1996, que contém matéria complicadíssima em relação ao sistema de financiamento dos partidos em Portugal e que podia motivar a abertura de um processo judicial, Cunha Rodrigues foi muito timorato. Já em relação ao caso do faxe se punha a questão de interrogar Mário Soares no processo e foi decidido não o fazer. Uma decisão polémica sobre um interrogatório que a PJ acha que devia ser feito. Há uma fonte de Belém que me contou que em 1996, na primeira audiência entre Jorge Sampaio (então eleito Presidente da República) e o procurador-geral Cunha Rodrigues, este terá dito que não mandou abrir o inquérito porque podia pôr em causa o funcionamento do regime. Cunha Rodrigues não confirma isto. Com a filosofia actual com que se encara estas coisas a nível judicial, a investigação teria ido mais longe.
Aborda de forma desenvolvida a circulação de dinheiro entre as diferentes fundações do PS, as campanhas presidenciais de Soares e a própria criação da Fundação Mário Soares. Considera que existem indícios de que Soares e a sua família beneficiaram ilegitimamente do dinheiro angariado para campanhas políticas?
Não. Para benefício pessoal não tenho nenhum indício disso. A família sempre teve uma vida confortável com o Colégio Moderno, que é uma fonte própria de rendimento. A verdade é que Soares é uma pessoa que nunca ligou muito ao dinheiro e não há uma fronteira entre dinheiro que é de um e o que do outro. Em termos de dinheiro, Soares é generoso. Como nunca lhe faltou dinheiro desde a juventude, Soares habituou-se a esbanjar, a pagar as rodadas nos cafés aos amigos. Como Presidente, Soares pagava do seu próprio ordenado uma espécie de subvenção a artistas em dificuldades. Nunca deu importância ao dinheiro e por isso fica chocado com este tipo de questões. Ele acha que é generoso e que nunca beneficiou desses movimentos. Considera uma ofensa que se levante alguma questão sobre isso. Também é um facto que nunca houve um controlo rigoroso da circulação do dinheiro.
Nos casos do faxe de Macau e da Emaudio sempre houve dúvidas sobre o grau de conhecimento que ele tinha do que os amigos faziam…
Para mim, ele teve conhecimento de tudo. Era o supervisor. Estava lá em cima no topo da pirâmide e nada era feito sem o seu conhecimento. Não intervinha, deixava as coisas correr. Por vezes podia intervir para corrigir algumas coisas e Rui Mateus narra algumas conversas no seu livro em que se discutia onde e como aplicar o dinheiro. Hoje em dia seria completamente impensável que um Presidente da República convidasse empresários de gabarito internacional como Berlusconi, Murdoch e Maxwell para fazer negócios com uma empresa a que estava ligado o Presidente. Curiosamente, ele não se lembrava dos encontros com Murdoch e Maxwell, só com Berlusconi.
Compreende como é possível que o livro de Rui Mateus tenha sido apresentado pelos media como um livro de um traidor na altura em que saiu?
É a tal boa imprensa de que Soares sempre beneficiou. Se alguma coisa põe em causa Soares, quem é o culpado? Não é Soares, mas quem pôs em causa Soares. Não consigo explicar o que sucedeu em 1996. De facto, Soares teve essa capacidade de seduzir os jornalistas. Eu percebi isso pessoalmente, depois de fazer a cobertura da campanha presidencial de 1986. Os jornalistas nunca puseram em causa Soares.
Soares teve grandes duelos com Cunhal, Ramalho Eanes e Cavaco Silva, descrevendo-os como uma antítese de si próprio: personagens frias, previsíveis, que não gostam dos prazeres da vida. As gerações futuras vão guardar melhor memória de Soares que das restantes figuras políticas?
Independentemente das questões políticas, podemos dividir os políticos em dois grupos: os hedonistas, que fazem da política uma actividade lúdica, e o grupo mais espartano que faz da política uma obrigação e um dever. Aí há um choque entre uma visão e outra e Soares assume esse lado lúdico da política. E desconfia dos políticos que estão desse lado mais severo. Ao mesmo tempo dava-se muito bem com políticos de outras áreas que também tinham uma atitude idêntica à dele. Por exemplo, Mota Pinto. Era uma relação de grande amizade apesar de um ser do PS e outro do PSD. O Bloco Central viveu muito desta relação pessoal entre os dois. Há uma assessora do Soares que diz que em relação às mulheres não eram festas bunga-bunga, mas era uma coisa desse género.
Mário Soares foi um Presidente da República muito interventivo, particularmente no segundo mandato. Considera que foi o Presidente que levou mais longe os poderes presidenciais?
Aí há várias questões. Para já, foi ele que definiu a fórmula da magistratura de influência - Alfredo Barros, chefe da Casa Civil, reclama o termo - e aplicou-a de uma forma próxima da perfeição. Pelo menos, teve sempre grande empatia e compreensão por parte do eleitorado. O contrapeso ao governo foi muito bem aceite pelas pessoas. Temos a imagem de Ramalho Eanes como um Presidente conflituoso, Sampaio também teve algumas dificuldades na fase de transição Durão Barroso-Santana Lopes, e as pessoas não compreenderam muito bem essa atitude. Soares dissolveu a Assembleia uma vez mas isso foi completamente compreendido pelo eleitorado porque foi a favor do governo que estava na altura em funções. De seguida, Soares foi reeleito com mais de 70%. Foi também Soares quem inventou a história das presidências abertas, iniciativa que foi bem recebida pela população: viam o presidente, conviviam com ele. À distância parece-me ter havido um certo exagero como opositor - ele considerava que não havia uma verdadeira oposição do PS. A opinião pública de uma forma geral sempre aceitou a forma como Soares exerceu os seus mandatos. Aliás, nunca houve um Presidente com as quotas de aprovação que ele teve.
Já falou com Mário Soares sobre o produto final?
Tivemos duas conversas telefónicas no dia em que lhe enviei o livro. Nesse dia fui à editora, os livros tinham acabado de chegar e fiz questão que o primeiro livro fosse para ele. Logo a seguir, recebi uma chamada sua a dizer que ainda não tinha recebido o livro e estava furioso por coisas que lhe contaram que o livro tinha. A conversa foi tão intempestiva que nem houve oportunidade para explicar nada, pedi-lhe apenas para esperar até receber o livro e depois voltávamos a falar. Nessa tarde voltou a ligar-me, depois de já ter recebido a obra, bastante mais calmo e cordato - Soares tem um tom muito contrastante; pode estar aos gritos com uma pessoa e 30 segundos depois está a rir para ela - tinha acabado de ver o livro, viu as partes que mais o preocupavam e viu que não era bem aquilo que lhe tinham dito. Disse que ia ler, “se tivesse paciência” e admitiu que me podia dar a opinião. Mas não voltámos a falar depois disso.
Quinta-feira, 28 de Março de 2013
Quarta-feira, 27 de Março de 2013
Crónicas do nacional-bandalhismo
Fá-las Alberto Gonçalves, no DN. As que se seguem, por exemplo.
Sócrates, serviço público
A
SIC Notícias anuncia repetida e orgulhosamente o seu leque de novos
comentadores. Os anúncios tendem para o solene, com imagens de Jorge
Coelho a examinar o oceano, de Francisco Louçã a contemplar obras de
"arte" contemporânea e de Bagão Félix a folhear um livro no jardim. Os
comentadores são os citados (além, dizem-me, de Marques Mendes, cujo spot não
vi), nomes de indiscutível notoriedade, duvidoso esclarecimento e nulo
contributo para o progresso da nação. Mais curioso ainda, são todos
políticos.
Em
todo o mundo civilizado, e em boa parte do mundo incivilizado, seria
inconcebível que sujeitos de reconhecida militância partidária (ou com
escancaradas pretensões à dita) fossem chamados a opinar regularmente
acerca do universo dos partidos. Por cá, é o costume. Já o era quando há
menos de um ano diversos correspondentes da imprensa estrangeira em
Portugal confessavam à Sábado nunca terem testemunhado semelhante. E hoje, principalmente nas televisões mas não apenas nas televisões, é quase lei.
Não
vale a pena tentar perceber os motivos que levam as direcções a decidir
assim. Porém, a fim de aferir a dimensão da excentricidade, talvez
conviesse imaginar um documentário de David Attenborough sobre o reino
animal sem a participação do conhecido naturalista britânico e com o
rumo do programa entregue a gastrópodes, marsupiais e batráquios.
Engraçado? Com certeza. Sucede que a graça haveria de se perder, coisa
que infelizmente não aconteceu com a paciência do público.
O
público, que gosta de fingir rebelar-se contra a "partidocracia" na
política, aceita sem objecções a partidocracia na análise da política.
Excepto, pelos vistos, no caso de José Sócrates, que a RTP se lembrou de
contratar para emitir palpites. É verdade que os palpites do homem
ajudaram imenso à ruína do país. É verdade que ao contribuinte custará
muito pagar um novo salário (em numerário ou em tempo de propaganda) a
quem tanto contribuiu para a sua penúria. É verdade que dói ver facultar
a liberdade de expressão a um seu incessante inimigo. É verdade, em
suma, que o "serviço público" decidiu adicionar o insulto à injúria.
Porém, julgo excessivo que a indignação das massas, traduzida numa série
de petições inflamadas, recaia exclusivamente em cima do
ex-primeiro-ministro, ex-estudante de Filosofia e actual vendedor de
medicamentos na América Latina.
No mínimo, há o risco de o pormenor obscurecer o princípio. E o princípio é o de que nada aconselha a que A Vida na Terra seja
comentada por caracóis, cangurus e rãzinhas. A circunstância de uma das
rãs ostentar um passado particularmente repulsivo é um detalhe, não a
autêntica questão. Os consumidores, que durante anos legitimaram a
promiscuidade, carecem de argumentos para os queixumes de agora: aberta a
porta do zoo, a bicharada em peso sai à rua e entra nos estúdios
televisivos. Aqui, a selecção natural é uma falácia.
E
se apetecer a algum leitor escrever-me a notar que, ao contrário dos
bichos, os animais políticos se distinguem pela inteligência, recomendo
que pense duas vezes. Ou uma: uma deverá bastar.
Para quem é, 'Grândola' basta
No
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa, alguns
estudantes receberam o primeiro-ministro aos gritos de "demissão" e
"Coelho sai da toca". Fizeram muito bem. Se a mocidade sente o impulso
de berrar qualquer coisa, ao menos que não seja a Grândola.
A melodia é quase inexistente. As harmonias são pobres. A letra é um
refogado de lugares-comuns e, para cúmulo, mentirosos, já que da única
vez que visitei a "vila morena" não vi nenhum amigo à esquina: vi um
automóvel ultrapassar-me a uma velocidade pouco recomendável. Um par de
quilómetros depois, o automóvel despistara-se e o condutor jazia meio
morto no chão.
Mas fujo do assunto. Grândola,
a cantiga, é tão maçadora quanto a generalidade das mais célebres
cantigas ditas de "intervenção". Os autores do género, nacionais ou
estrangeiros, acham que as massas só apreendem produtos simplórios na
música e na lírica. Além de ser um pressuposto falso (Brother, Can You Spare a Dime,
escrita em 1930 pelo então comunista "Yip" Harburg, é um raro exemplo
de que uma canção de protesto relativamente sofisticada pode comover
imensa gente), é um pressuposto revelador da opinião que os intelectuais
ao serviço do povo têm do povo que servem. Mesmo José Afonso guardava
os ocasionais momentos de inspiração para canções alheias ao comentário
"social" (ocorre-me Era um redondo vocábulo). Nos momentos de indignação, lá vinha a Grândola ou o enervante "tiriririri" de Venham mais cinco e
desgraças afins. E Sérgio Godinho, outro "baladeiro" que compôs meia
dúzia de coisas esteticamente decentes, concentrava a indecência
estética em misérias comoLiberdade ("A paz, o pão/ habitação/[etc.]"). Nos restantes "cantautores" indígenas não vale a pena procurar: o lixo é omnipresente.
Se
os paladinos dos "oprimidos" lhes servem lixo quando são contrapoder,
imagine-se o que lhes serviriam no poder. E quem não for dado à
imaginação dispõe de pacotes de viagens a Cuba, pérola das Caraíbas e
consumada terra da fraternidade.
O descaramento ilimitado
Para
início de conversa, esclareço que, na minha opinião, uma lei ideal
limitaria os mandatos autárquicos a cerca de uma semana, período a
partir do qual os senhores autarcas começam a definir a rede de
interesses que servirão. Também defendo que a lei deveria impedir as
candidaturas dos vereadores, chefes de gabinete, secretários,
assessores, compinchas, conhecidos e primos até terceiro grau do autarca
cessante. Por fim, acho que a lei faria bem em limitar em quantidade as
próprias autarquias, pormenor que aliás parecia constar do "memorando"
assinado com a troika e que o Governo varreu airosamente para debaixo do tapete.
Quanto
à lei que temos, é uma vergonha em matéria de clareza jurídica e um
portento de matéria de clareza política. O PSD, que apresenta a votos
diversos veteranos de outras freguesias (ou câmaras, para ser exacto),
entende que a limitação incide nos municípios e não nas funções. O
Bloco, que praticamente não é para aqui chamado, entende que a limitação
incide nos municípios e nas funções. O PCP, que tenciona mudar dois ou
três caciques alentejanos, entende que a limitação incide nos municípios
e não nas funções. O CDS, uma fortaleza de convicção, entende que a
limitação incide nos municípios e nas funções, excepto no caso de
Lisboa. E o PS, que não viu interesse estratégico na transladação de
candidatos, finge que o assunto não lhe diz respeito e pretende passar
por exemplo ético.
Eis
o perfeito retrato dos princípios que fundamenta o sistema partidário:
com a lógica natural numa empresa, cada partido faz os cálculos,
antecipa perdas e ganhos e decide de acordo com o respectivo interesse
imediato, vendido aos simples sob o rótulo de "interesse nacional" e
não, surpreendentemente, de Relatório & Contas. Resta apurar o
número de simples que ainda engolem a patranha e confiam apaixonadamente
nos partidos como nunca confiariam numa empresa. As eleições
autárquicas serão um óptimo indicador e, suspeito, o péssimo sinal do
costume.
Teste à amnésia
A
estratégia não é complicada - dadas as cabecinhas que a conceberam, não
podia ser. A ala "socrática" usou António Costa para apear António José
Seguro, acusado de traição aos ideais que enfiaram o País na
bancarrota. Inicialmente convencido de que o partido e o povo o
desejavam com ardência, o dr. Costa ensaiou o avanço para a liderança.
Posteriormente esclarecido de que o partido não o estima e o povo mal o
conhece, o dr. Costa consumou uma retirada airosa e, sem surpresas,
acabou acusado de cobardia. A ala "socrática" continuava sem um herói
para recuperar o "seu" PS. Um belo dia, alguém propôs o próprio Sócrates
e este, perito em despachar licenciaturas, voltará em Abril para
desfilar sapiência na RTP. O dr. Seguro já afirmou que isto não põe em
causa o seu posto, afinal uma confissão de que acha o contrário. Se
funcionar, a estratégia mostrará que, além do PS, Portugal bateu no
fundo.
Terça-feira, 26 de Março de 2013
Deambulando pelo individual ...
No Facebook de Ramiro Marques, aproveitando um parágrafo de JCM, deixei esta reflexão.
Repare na incongruência. Porque há-de ser o rei ou a elite a determinar o interesse geral? Por alma de quem?
Uma sociedade só se sustenta se o indivíduo, em função da sociedade em que vive (as suas decisões devem ser baseadas na realidade e não naquilo que eles gostariam que fosse a realidade porque a realidade implica outras pessoas) pensar primeiro em si e depois nos outros. O individualista põe os seus interessem prioritariamente em relação ao interesse alheio e faz muito bem.
O individualista só deve agir em função da sociedade se para ele houver vantagem. O fio de prumo deve ser a vantagem resultante para ele.
Vejamos a coisa pelo inverso o caso da pessoa que age prioritariamente em função da sociedade. Em primeiro lugar nada resolve quanto a si próprio para não ser individualista, ficando à espera que seja o todo a decidir a parte que lhe toca e expondo-se a ser carne para canhão dos iluminados. Em segundo, nunca terá autonomia porque, não devendo pensar primariamente nele próprio, devem ser os outros a pensar por ele relativamente ao que, quanto aos outros, deve ser o interesse dele. "Outros", quando o geral é prioritário, só pode, novamente, ser da cáfila de iluminados porque os congéneres também não devem resolver nada sem esperar pelo colectivo.
É o reino da sociedade de cóqueras, de social-dependência, de gente que a todos culpa e que nunca exerce o risco de decidir por si próprio.
Quando o indivíduo espera que sejam os outros a resolver por ele, espera igualmente que as dificuldades que ele terá que enfrentar perante uma qualquer rota proposta pelo todo, sejam, também, resolvidas pelo todo porque, se ele as resolver por si próprio, será claramente acusado de resolver à revelia do todo em proveito individual.
Finalmente, o interesse geral deve ser o somatório do interesse individual e não o contrário. Uma sociedade é bem sucedida se cada um pensar primeiro em si próprio e crie, para si, a máxima riqueza (uns conseguirão mais outros menos) mas a sociedade, como um todo, prospera, porque exactamente cada qual trata da sua vida o melhor que pode. [...]"Uma verdadeira aristocracia é movida pelo serviço. O individualismo é anti-aristocrático por excelência, pois coloca o interesse do indivíduo acima do interesse da comunidade, representada pelo rei ou por uma elite."
Repare na incongruência. Porque há-de ser o rei ou a elite a determinar o interesse geral? Por alma de quem?
Uma sociedade só se sustenta se o indivíduo, em função da sociedade em que vive (as suas decisões devem ser baseadas na realidade e não naquilo que eles gostariam que fosse a realidade porque a realidade implica outras pessoas) pensar primeiro em si e depois nos outros. O individualista põe os seus interessem prioritariamente em relação ao interesse alheio e faz muito bem.
O individualista só deve agir em função da sociedade se para ele houver vantagem. O fio de prumo deve ser a vantagem resultante para ele.
Vejamos a coisa pelo inverso o caso da pessoa que age prioritariamente em função da sociedade. Em primeiro lugar nada resolve quanto a si próprio para não ser individualista, ficando à espera que seja o todo a decidir a parte que lhe toca e expondo-se a ser carne para canhão dos iluminados. Em segundo, nunca terá autonomia porque, não devendo pensar primariamente nele próprio, devem ser os outros a pensar por ele relativamente ao que, quanto aos outros, deve ser o interesse dele. "Outros", quando o geral é prioritário, só pode, novamente, ser da cáfila de iluminados porque os congéneres também não devem resolver nada sem esperar pelo colectivo.
É o reino da sociedade de cóqueras, de social-dependência, de gente que a todos culpa e que nunca exerce o risco de decidir por si próprio.
Quando o indivíduo espera que sejam os outros a resolver por ele, espera igualmente que as dificuldades que ele terá que enfrentar perante uma qualquer rota proposta pelo todo, sejam, também, resolvidas pelo todo porque, se ele as resolver por si próprio, será claramente acusado de resolver à revelia do todo em proveito individual.
Finalmente, o interesse geral deve ser o somatório do interesse individual e não o contrário. Uma sociedade é bem sucedida se cada um pensar primeiro em si próprio e crie, para si, a máxima riqueza (uns conseguirão mais outros menos) mas a sociedade, como um todo, prospera, porque exactamente cada qual trata da sua vida o melhor que pode.
Claro que, neste momento, surge sempre alguém que reclama que haverá sempre gente que não consegue sequer tratar de si mesmo. Haverá, há, claramente. Mas também haverá sempre quem prefira dedicar-se apenas ao outro, considerando ser do seu interesse individual (sente-se realizado) vivendo pelo mínimo (normalmente os dedicados ao outro conseguem facilmente prover a sua subsistência) e seguir fazendo aquilo que comummente se chama "o bem".
O que não faz qualquer sentido é postular-se que cada qual deva vergar-se monocordicamente ao interesse geral como pensar-se que ao indvidualista está vedada a dedicação ao interesse geral.
O problema, nesta conversa, é que há uma desconfiança sistemática, pela parte dos defensores do social-como-batuta, na decisão individual.
Numa orquestra, o músico segue o maestro mas pretende dar uma mais-valia às indicações que, prioritariamente recebe, reverto essa mais valia a favor dele e, indirectamente, a toda a orquestra. É sempre o 'eu' que está (deve estar) em primeiro lugar. Mesmo e encrencas familiares onde o eu se reparte, de alguma forma, pelos filhos, por exemplo. Quando um pai ou uma mãe se sacrifica pelos filhos (o que acontece às pazadas), é o 'eu' que comanda. "Eu sacrifico-me pelos meus filhos", diz-se. Não se diz "sacrifico-me pelos meus filhos". Há, nesta coisa, uma carga de amor reflectido no próprio colocando o "eu" ao serviço dos filhos, digamos, quando o "eu" é valorizado perante o próprio no acto de tratar dos filhos.
- Ele tem braços e pernas? Sim?
- "Dá-lhe a cana, não lhe dês o peixe."
... e que não venha, todos os dias, pedir outra cana por isto ou aquilo. A dádiva de uma cana representa o esforço alheio (tempo de trabalho, tempo de vida trabalhando) entregue a quem a recebe e quem recebe a cana deve respeitar esse esforço como forma de estar bem consigo próprio. Se o fizer, fica bem com o outro porque vai ao encontro daquilo que o outro julgou ser do seu interesse, altruístico que seja. Quem dá a cana quer ter o (digamos) orgulho de poder ser visto, no mínimo perante si próprio, evidentemente também perante quem o rodeie, como tendo feito algo que o eleva, o auto-promove. O empresário é isto de forma particularmente eficaz e eficiente porque, numa sociedade de não dependentes do sacrossanto estado, do sacrossanto social, o empresário é o gajo que ganha permitindo que outros ganhem. O empresário é o gajo que dá a cana e espera que uma parte do peixe reverta em seu favor para poder prosperar e distribuir mais canas.
"Uma verdadeira aristocracia é movida pelo serviço. O individualismo é anti-aristocrático por excelência, pois coloca o interesse do indivíduo acima do interesse da comunidade, representada pelo rei ou por uma elite."
Repare na incongruência. Porque há-de ser o rei ou a elite a determinar o interesse geral? Por alma de quem?
Uma sociedade só se sustenta se o indivíduo, em função da sociedade em que vive (as suas decisões devem ser baseadas na realidade e não naquilo que eles gostariam que fosse a realidade porque a realidade implica outras pessoas) pensar primeiro em si e depois nos outros. O individualista põe os seus interessem prioritariamente em relação ao interesse alheio e faz muito bem.
O individualista só deve agir em função da sociedade se para ele houver vantagem. O fio de prumo deve ser a vantagem resultante para ele.
Vejamos a coisa pelo inverso o caso da pessoa que age prioritariamente em função da sociedade. Em primeiro lugar nada resolve quanto a si próprio para não ser individualista, ficando à espera que seja o todo a decidir a parte que lhe toca e expondo-se a ser carne para canhão dos iluminados. Em segundo, nunca terá autonomia porque, não devendo pensar primariamente nele próprio, devem ser os outros a pensar por ele relativamente ao que, quanto aos outros, deve ser o interesse dele. "Outros", quando o geral é prioritário, só pode, novamente, ser da cáfila de iluminados porque os congéneres também não devem resolver nada sem esperar pelo colectivo.
É o reino da sociedade de cóqueras, de social-dependência, de gente que a todos culpa e que nunca exerce o risco de decidir por si próprio.
Quando o indivíduo espera que sejam os outros a resolver por ele, espera igualmente que as dificuldades que ele terá que enfrentar perante uma qualquer rota proposta pelo todo, sejam, também, resolvidas pelo todo porque, se ele as resolver por si próprio, será claramente acusado de resolver à revelia do todo em proveito individual.
Finalmente, o interesse geral deve ser o somatório do interesse individual e não o contrário. Uma sociedade é bem sucedida se cada um pensar primeiro em si próprio e crie, para si, a máxima riqueza (uns conseguirão mais outros menos) mas a sociedade, como um todo, prospera, porque exactamente cada qual trata da sua vida o melhor que pode. [...]"Uma verdadeira aristocracia é movida pelo serviço. O individualismo é anti-aristocrático por excelência, pois coloca o interesse do indivíduo acima do interesse da comunidade, representada pelo rei ou por uma elite."
Repare na incongruência. Porque há-de ser o rei ou a elite a determinar o interesse geral? Por alma de quem?
Uma sociedade só se sustenta se o indivíduo, em função da sociedade em que vive (as suas decisões devem ser baseadas na realidade e não naquilo que eles gostariam que fosse a realidade porque a realidade implica outras pessoas) pensar primeiro em si e depois nos outros. O individualista põe os seus interessem prioritariamente em relação ao interesse alheio e faz muito bem.
O individualista só deve agir em função da sociedade se para ele houver vantagem. O fio de prumo deve ser a vantagem resultante para ele.
Vejamos a coisa pelo inverso o caso da pessoa que age prioritariamente em função da sociedade. Em primeiro lugar nada resolve quanto a si próprio para não ser individualista, ficando à espera que seja o todo a decidir a parte que lhe toca e expondo-se a ser carne para canhão dos iluminados. Em segundo, nunca terá autonomia porque, não devendo pensar primariamente nele próprio, devem ser os outros a pensar por ele relativamente ao que, quanto aos outros, deve ser o interesse dele. "Outros", quando o geral é prioritário, só pode, novamente, ser da cáfila de iluminados porque os congéneres também não devem resolver nada sem esperar pelo colectivo.
É o reino da sociedade de cóqueras, de social-dependência, de gente que a todos culpa e que nunca exerce o risco de decidir por si próprio.
Quando o indivíduo espera que sejam os outros a resolver por ele, espera igualmente que as dificuldades que ele terá que enfrentar perante uma qualquer rota proposta pelo todo, sejam, também, resolvidas pelo todo porque, se ele as resolver por si próprio, será claramente acusado de resolver à revelia do todo em proveito individual.
Finalmente, o interesse geral deve ser o somatório do interesse individual e não o contrário. Uma sociedade é bem sucedida se cada um pensar primeiro em si próprio e crie, para si, a máxima riqueza (uns conseguirão mais outros menos) mas a sociedade, como um todo, prospera, porque exactamente cada qual trata da sua vida o melhor que pode.
Claro que, neste momento, surge sempre alguém que reclama que haverá sempre gente que não consegue sequer tratar de si mesmo. Haverá, há, claramente. Mas também haverá sempre quem prefira dedicar-se apenas ao outro, considerando ser do seu interesse individual (sente-se realizado) vivendo pelo mínimo (normalmente os dedicados ao outro conseguem facilmente prover a sua subsistência) e seguir fazendo aquilo que comummente se chama "o bem".
O que não faz qualquer sentido é postular-se que cada qual deva vergar-se monocordicamente ao interesse geral como pensar-se que ao indvidualista está vedada a dedicação ao interesse geral.
O problema, nesta conversa, é que há uma desconfiança sistemática, pela parte dos defensores do social-como-batuta, na decisão individual.
Numa orquestra, o músico segue o maestro mas pretende dar uma mais-valia às indicações que, prioritariamente recebe, reverto essa mais valia a favor dele e, indirectamente, a toda a orquestra. É sempre o 'eu' que está (deve estar) em primeiro lugar. Mesmo e encrencas familiares onde o eu se reparte, de alguma forma, pelos filhos, por exemplo. Quando um pai ou uma mãe se sacrifica pelos filhos (o que acontece às pazadas), é o 'eu' que comanda. "Eu sacrifico-me pelos meus filhos", diz-se. Não se diz "sacrifico-me pelos meus filhos". Há, nesta coisa, uma carga de amor reflectido no próprio colocando o "eu" ao serviço dos filhos, digamos, quando o "eu" é valorizado perante o próprio no acto de tratar dos filhos.
- Ele tem braços e pernas? Sim?
- "Dá-lhe a cana, não lhe dês o peixe."
... e que não venha, todos os dias, pedir outra cana por isto ou aquilo. A dádiva de uma cana representa o esforço alheio (tempo de trabalho, tempo de vida trabalhando) entregue a quem a recebe e quem recebe a cana deve respeitar esse esforço como forma de estar bem consigo próprio. Se o fizer, fica bem com o outro porque vai ao encontro daquilo que o outro julgou ser do seu interesse, altruístico que seja. Quem dá a cana quer ter o (digamos) orgulho de poder ser visto, no mínimo perante si próprio, evidentemente também perante quem o rodeie, como tendo feito algo que o eleva, o auto-promove. O empresário é isto de forma particularmente eficaz e eficiente porque, numa sociedade de não dependentes do sacrossanto estado, do sacrossanto social, o empresário é o gajo que ganha permitindo que outros ganhem. O empresário é o gajo que dá a cana e espera que uma parte do peixe reverta em seu favor para poder prosperar e distribuir mais canas.
Domingo, 24 de Março de 2013
Doutas visões de Freitas do Amaral
Quanto há um par de meses o juro que Portugal baixou para níveis muito
mais suportáveis que os valores herdados do tempo em que o país era
governado por uma cáfila de palermas, o iluminado Freitas do Amaral,
zenital ministro desse mesmo governo, veio declarar aos mortais que,
quanto a ele, a descida do juro se devia muito mais à acção de Mário Draghi que do governo de Passos Coelho.
Alguém é capaz de informar o governo de Chipre que o nosso inteligente Amaral sabe que o juro que a acção de Mário Draghi proporciona é muito mais baixo que aquele que força os cipriotas a medidas draconianas?
Alguém é capaz de informar o governo de Chipre que o nosso inteligente Amaral sabe que o juro que a acção de Mário Draghi proporciona é muito mais baixo que aquele que força os cipriotas a medidas draconianas?
Quinta-feira, 21 de Março de 2013
8ª maravilha?
Nota-se um silêncio ensurdecedor relativamente à co-existência, em
Chipre, de um governo com comunistas e de uma gigantesca off-shore.
Terça-feira, 19 de Março de 2013
Os portugueses, a troika, o crime, o Papa e os ateus
Tudo isto em mais três crónicas de Alberto Gonçalves, no DN:
Os portugueses que ficam em casa
Os
portugueses estão contra a troika? Nem tanto. Uma sondagem da Católica
para o DN sugere que 64% dos cidadãos votariam hoje no partido que
assinou o memorando de entendimento ou nos partidos que o aplicam, com o
principal partido do Governo a registar uma subida de três pontos face à
sondagem anterior.
Isto,
evidentemente, não significa que a maioria dos portugueses esteja
satisfeita com o papel do PS na bancarrota pátria ou com os esforços do
PSD e do CDS para em vão curar a bancarrota através da espoliação
fiscal. Mas significa que, apesar de tudo, as alternativas ao "sistema"
suscitam menos confiança do que o "sistema" propriamente dito. E que os
regulares protestos públicos, ainda que espectaculares, merecem ser
lidos com uma ponderação que os "media" e os extremistas raramente
exibem.
Quem
viu as reportagens sobre as manifestações do passado dia 2 foi
abalroado pela garantia de que o País em peso aspira a lixar a troika.
Não importa que na rua marchassem um milhão e meio, um milhão ou 500 mil
pessoas. Mesmo quando 30 sujeitos berram em frente à residência oficial
do primeiro-ministro, o facto é notícia e alimenta a noção totalitária
de que os 30 sujeitos, espontaneamente manipulados pela CGTP ou por
metástases do Bloco, representam a população.
Por
estranho que pareça, não representam. Por estranho que pareça, os
nossos representantes na matéria são os políticos, tenhamos votado neles
ou não, gostemos deles (Deus me livre!) ou não. Numa altura em que
abundantes luminárias se referem jovialmente às "limitações" da escolha
popular e tentam pôr em causa a legitimidade eleitoral, convém lembrar
que esta é a única de que dispomos. Em democracia, claro. E embora a
democracia em questão padeça de inúmeras maleitas e se assemelhe a um
desfile de incapazes, as opções restantes implicam a consagração de
rematados malucos, os quais procuram alcançar pelo pandemónio o poder
que as urnas não lhes concedem.
Dito
de outra maneira, por mal que isto ande, haveria forma de ficar pior,
muito pior. Os portugueses ou, para ser exacto, 64% dos portugueses
suspeitam disso, por isso lamentam os apertos em curso sem exigir a
desgraça eterna. Aliás, suspeito que quanto mais os 20%, 10% ou 5% se
empenharem na desgraça mais crescerá a quantidade de resignados à
penúria presente, talvez futura e certamente preferível ao caos.
A previsão do crime
Durante
meses, fomos informados de que a crise económica e a austeridade
subsequente seriam responsáveis pela promoção de zaragatas domésticas,
abandono de animais, suicídios, depressões, amuos, gripes e terçolhos. E
do crime? Do crime nem se fala. Ou falou-se imenso. Segundo
especialistas sortidos, que às vezes fingiam preocupação enquanto
sentiam regozijo, a crise aumentaria os pequenos roubos, os assaltos
violentos, os furtos intermédios e a insegurança em geral. A prevenção
do crime viu-se substituída pela respectiva previsão.
Depois,
veio a realidade e constatou-se que, pelo menos em Lisboa, a
criminalidade está a diminuir, a geral em 5% e a grave em 15% face a
2011. Ou, ao contrário do que consta, a capital não é afectada pela
crise, ou, ao contrário do que constou, a crise e as malfeitorias não
são indissociáveis.
Por
acaso, também já tinha essa impressão. Por muito que os defensores dos
oprimidos insistam na tese oposta, nada assegura que um cidadão
subitamente desempregado desate a surripiar transeuntes de navalha em
punho. E que uma família incapaz de pagar a prestação do apartamento
adira no dia seguinte à prática do carjacking. E que um reformado cuja
pensão foi subtraída pela voracidade estatal se converta aos
ensinamentos do estripador de Chelas. Etc.
Nem
vale a pena lembrar que, na generalidade do mundo ocidental, o crime e a
prosperidade tendem a crescer em simultâneo. Mas vale a pena repetir
que a ideia de que a pobreza conduz quase fatalmente à delinquência não é
apenas falsa: é ofensiva, bastante mais ofensiva do que os periódicos e
ocasionalmente obtusos desabafos dos srs. Borges e Ulrich. Por ridículo
que fosse o chavão algo salazarista do "pobres e honrados", o ridículo
maior é que a alternativa democrática se resuma ao "pobres e bandidos".
Aliás, se acrescentarmos o conhecido "ricos e ladrões", verifica-se que,
em Lisboa e no País inteiro, o crime tende para o anacronismo na medida
em que não sobra ninguém para roubar
A fé dos descrentes
O
sucessor interino de Hugo Chávez afirmou que a doença do falecido
"rompia toda a normalidade", um regresso à tese de que o cancro fora
"provocado" pelos EUA e por isso se distinguia dos cancros comuns,
inofensivos e ocasionalmente agradáveis.
Mas
nem tudo é mau, e o sr. Maduro tem razões para festejar. Primeiro
porque subirá provavelmente à presidência não interina. Depois porque,
conforme explicou em palestra televisiva, Chávez subiu às alturas e
encontrou-se com Cristo, que talvez num intervalo das conversas com
Alexandra Solnado lhe confidenciou: "Chegou a hora da América do Sul."
Ou seja, Chávez fez lóbi no Céu e colocou um argentino em Roma. Embora
os motivos pelos quais Chávez não arranjou um Sumo Pontífice venezuelano
fiquem por esclarecer, os restantes factos são indesmentíveis. Duvidar
disto é duvidar do potencial cancerígeno da CIA, do progresso social da
Revolução Bolivariana e dos suínos ciclistas.
Quanto
ao Papa propriamente dito, o meu discreto ateísmo não me inspira
grandes considerações. Em compensação, o ateísmo ruidoso de muitos não
os impede de emitir palpites sucessivos acerca da matéria. Pelo menos em
Portugal, os media trataram de ouvir avidamente as opiniões de gente
sem qualquer vínculo ao catolicismo, o que faz o mesmo sentido que
questionar um adepto dos Los Angeles Lakers sobre o momento do Sporting.
Neste caso, o fã de basquetebol diria provavelmente não saber nada a
propósito. Já os ateus militantes não só sabem imenso a propósito do
Vaticano como insistem em partilhar a sabedoria connosco.
Padecendo
de uma estranha maleita que os impede de viver em paz sem que o líder
de uma fé a que se dizem radicalmente indiferentes concorde com eles, os
ateus militantes receberam o Papa Francisco sob três perspectivas. A
perspectiva simpática apreciou a circunstância de o homem vir do
hemisfério sul (porquê?) e ter sido nomeado contra o "sistema" (apesar
de ter sido o "sistema" a nomeá-lo). A perspectiva hesitante lamenta que
o homem não defenda o casamento homossexual, o aborto, a eutanásia e,
afinal, cada imperativo dos bem pensantes. A perspectiva desconfiada
descobriu (ainda que, conforme se comprova no site do Bloco de Esquerda,
à custa de manipulações fotográficas) a afinidade entre o sr. Bergoglio
e a antiga ditadura argentina. Enquanto os cardeais não designarem um
herege para pastorear os crentes, o catolicismo não se redime.
Dos viciados em promessas e boas notícias ....
Helena Matos no Diário Económico.
Qual seria o futuro de um político que se apresentasse ao eleitorado dizendo que vamos empobrecer, que vivemos numa zona do mundo em declínio e que o grande desafio que temos pela frente é conseguir gerir este momento sem perder os valores...
essenciais da nossa cultura, preservando o que se considera essencial e minorando o sofrimento? Na melhor das hipóteses seria político por um dia, aquele em que fizera tais afirmações.
Viciámo-nos em promessas e boas notícias. Já nem temos palavras para a realidade: as dívidas chamam-se investimento, o vandalismo passou a alegado incidente, deixou de se reprovar, simplesmente não se transita, a prostituição tornou-se trabalho sexual. Como é próprio das sociedades decadentes perdemos o sentido de Estado e vamo-nos atomizando em tribos: temos os "filhos dos bairros" para designar os jovens nascidos nuns bairros que nos foram anunciados como a solução mágica da vida dos seus pais e agora são uma espécie de mundo sem regras para quem ali vive; as comunidades africanas esmagadoramente compostas por pessoas que não nasceram em África mas a quem não sabemos se se pode chamar negro; as "pessoas LGBT" como se não fôssemos todos, pessoas.
As palavras tiveram de se adaptar à susceptibilidade das tribos e por isso o sexo passou a género e os pais estão a caminho de ser reduzidos a progenitores. Cada acto é mais ou menos grave consoante a tribo que afecta e por isso o direito transformou-se num sub produto da etno-sociologia: temos a violência doméstica, violência de género, crimes de colarinho branco, violência em meio escolar. Na passada semana uns portugueses foram esfaqueados na Alemanha mas como a agressão não caiu no âmbito do crime de ódio logo passou ao rol da insignificância.
O Estado que havia de tomar conta de nós do berço à cova - agora até às cinzas porque os cemitérios são uma coisa antiga que nos lembra que existe morte - tornou-se num monstro ávido de dinheiro que esbulha o possível e o impossível a uma população que o seu intervencionismo reduziu à anomia. Ninguém é responsável por nada mas apenas o resultado de uma política de apoio ou de um acto de discriminação. A própria demografia passou a ser confundida com os abonos de família.
Todos os dias mentimos e nos mentimos para tornarmos aceitável hoje o que ontem condenávamos: uma intervenção como a que agora foi feita no Chipre era dita impossível na UE, campeã tão campeã dos direitos que não há semana em que não legisle sobre o bem-estar das galinhas e dos porcos.
Pois o que era impossível tornou-se possível e a UE, essa estrutura tão democrática que não pode ser votada, continuará a impor os seus critérios de democracia às suiniculturas e às "questões de género" na composição dos conselhos de administração das empresas, enquanto os seus políticos garantem hoje que não é possível o que já sabem que vai acontecer amanhã.
Mas se alguém se pensa apresentar a votos dizendo isto não levará nem os votos da sua família. Se calhar nem o seu próprio voto. Porque nós somos como os amantes que no tango suplicam: "Ay/ abrázame esta noche/ aunque no tengas ganas/ prefiero que me mientas".
Domingo, 17 de Março de 2013
O Regresso do Filho Pródigo
No Lura do Grilo:
Saiu de Mota com uma ponte caída! Galgou os biliões desperdiçados em obras inúteis nas rédeas de uma grande construtora. Foi-se a bonança dos biliões, foi-se o gastador compulsivo e puseram-no a um canto. Agora quer regressar a casa do pai mas sem pedir perdão. Há ainda muitos cabritos para matar .. "as cabras siempre tiram al monte" como dizem "nuestros hermanos".
Coelho está de volta.
... "faça alguma coisa"
Comentário meu a uma leitora do Prof. Ramiro Marques:
Portugal é um país sentado à espera que o estado "faça alguma coisa", também pelos filhos. Portugal é uma país de dependentes do estado. Portugal é um país onde a larga maioria da população depende directamente do estado. Em boa verdade, é um "estado" sem país.
Vive-se hoje um relampejo, um momento de verdade em que as pessoas começam a perceber dolorosamente que há mais vida, há mais mundo para além do estado.
A Grâce vê os sintomas mas não não diagnostica a doença. A doença chama-se "estado", chama-se falta de amor-próprio, falta de orgulho-próprio, falta de afirmação do 'eu' por ... vergonha.
Portugal é um país sentado à espera que o estado "faça alguma coisa", também pelos filhos. Portugal é uma país de dependentes do estado. Portugal é um país onde a larga maioria da população depende directamente do estado. Em boa verdade, é um "estado" sem país.
Vive-se hoje um relampejo, um momento de verdade em que as pessoas começam a perceber dolorosamente que há mais vida, há mais mundo para além do estado.
A Grâce vê os sintomas mas não não diagnostica a doença. A doença chama-se "estado", chama-se falta de amor-próprio, falta de orgulho-próprio, falta de afirmação do 'eu' por ... vergonha.
Sábado, 16 de Março de 2013
A propaganda, alma do negócio e o público-alvo
Começando por este mimo, leiam em seguida os poemas que Luís Dolhnikoff também publicou, entre ontem e hoje, no Ablogando.
Sexta-feira, 15 de Março de 2013
Acerca do Executor-em-chefe:
Aqui, via Espectador Interessado:
"The Honorable Rand Paul United States Senate Washington, DC 20510
Dear Senator Paul: It has come to my attention that you have now asked an additional question:
"Does the President have the authority to use a weaponized drone to kill an American not engaged in combat on American soil?"
The answer to that question is no. "
Crença, respeito e elegância
(Recebido por e-mail)
Não é
preciso comungar das mesmas ideias, opiniões ou crenças de quem quer que
seja, as nossas já bastam por si só e exigem muitos de nós mesmos. No
entanto, qualquer que seja o caso, não se deve faltar ao respeito para
com os demais.
Aconteceu em Londres, com um taxista inglês.
Um
muçulmano devoto entra no táxi. Uma vez sentado, pede ao taxista para
desligar o rádio porque não quer ouvir música, como é decretado na sua
religião, e porque no tempo do Profeta não havia música, especialmente
música ocidental, que é música dos infiéis.
O
motorista do táxi, educadamente, desliga o rádio, pára o carro, sai,
dirige-se à porta do cliente e abre-a. O muçulmano pergunta: “O que é
que está a fazer?”.
O taxista responde: “No tempo do Profeta não havia táxis. Por isso, saia e espere pelo próximo camelo”.
Que classe!
Quinta-feira, 14 de Março de 2013
Climategate 3.0
Já um pouco atrasado, mas há que avisar a navegação que ...
Actualização:
Emergem sucessivas escandaleiras perpetradas pelo gang do IPCC, o tal a quem foi atribuido o prémio Nobel.
Actualização:
Emergem sucessivas escandaleiras perpetradas pelo gang do IPCC, o tal a quem foi atribuido o prémio Nobel.
Tudo menos 1
Os sociais defensores da coisa comum fazem sempre apopléticas rábulas
de espanto de cada vez que 'descobrem' que os piores são os seus
derradeiros companheiros.
Na persecução deste zenital desígnio, estes mestres em empresariado vão-se dedicando a comer cada vez mais tudo deixando cada vez mais nada.
Chegada a altura, os "inteligentes" postulam finalmente que se "acabaram as canções".
"Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!"
Até lá, muitas Grândolas Vilas Morenas brotarão das massas de carne para canhão, hordas de idiotas úteis da coisa comum. Muito embora o trono seja estreito, todos estão certos que serão os sociais monarcas do dia seguinte.
Comer tudo e nada deixar é a espinha dorsal deste hino. Tudo, é tudo menos 1.
Na persecução deste zenital desígnio, estes mestres em empresariado vão-se dedicando a comer cada vez mais tudo deixando cada vez mais nada.
Chegada a altura, os "inteligentes" postulam finalmente que se "acabaram as canções".
"Para não ter protestos vãos,
Para sair deste antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos,
Tudo o que a nós diz respeito!"
Até lá, muitas Grândolas Vilas Morenas brotarão das massas de carne para canhão, hordas de idiotas úteis da coisa comum. Muito embora o trono seja estreito, todos estão certos que serão os sociais monarcas do dia seguinte.
Comer tudo e nada deixar é a espinha dorsal deste hino. Tudo, é tudo menos 1.
Como os combustíveis fósseis contribuem para que o planeta fique mais verde
Conviria que os professores fossem diversificando as suas fontes de
informação para, daqui a uns tempos, não se declararem novamente
surpreendidos como no caso e nas consequências da dívida.
- A terra está a ficar mais coberta de vegetação (sem ser plantada e, naturalmente, sem uso de fertilizantes)
- A ligeira subida de temperatura dos últimos 30 anos tem permitido mais chuva e mais verde.
- Metade do aumento de vegetação resulta, em 50% do aumento de CO2.
- O uso de combustíveis fósseis tem permitido tornar a terra mais verde.
- Nos últimos 50 anos a população terrestre aumentou para o dobro e come mais e melhor que anteriormente.
- Usamos hoje 65% menos terreno para agricultura relativamente a 1960. O resto do terreno deixou de ser usado.
- A extinção de espécies, muito alta na transição para o Sec. XX, praticamente deixou de ter lugar desde essa altura.
- A extinção brutal de espécies do fim do Sec. XIX resultou, regra geral, da introdução inadvertida de ratos ou outros predadores no habitat local que da acção directa do homem.
- Há 30 anos acampava-se em Spitsburgen (onde o mar gelado nunca chegou) sem qualquer problema, hoje o espaço é dominado e destruído por ursos polares.
- Os ganços das ilhas daquelas paragens não têm, nos últimos 6 ou 6 anos, conseguido criar uma patinho porque os ursos polares comem-nos todos.
- A vida selvagem pulula pelo Ártico e pelo Antártico ... porque já não são há muito caçados em virtude dos produtos deles retirados se ter tornado obsoletos por serem muito mais baratos quando obtidos de combustíveis fósseis.
- Muita da recuperação da vida selvagem deve-se, além das acções de conservação, à tecnologia, o crescimento, o desenvolvimento económico. "O desenvolvimento económico tem sido parte da solução e não parte do problema".
- O Haiti é muito mais castanho que a República Dominicana. O Haiti depende de energias renováveis, a Republica Dominicana importa combustíveis fósseis e encoraja e subsidia o uso de gás propano como combustível para cozinhar para que as pessoas não cortem árvores para as transformar em combustível. São os combustíveis fósseis quem preserva o verde da República Dominicana.
- Estão a desviar-se 5% das colheitas para as transformar em combustível rodoviário poupando 0.6% em combustíveis fósseis. O desvio de colheitas para combustível provocou a subida do preço dos cereais para o dobro. Entretanto, nas zonas mais desfavorecidas do globo muita gente se viu privada de alimentos por os não conseguir comprar. Entretanto, a necessidade de comida provocou o aumento da desflorestação para cultivo sem recursos tecnológicos.
- Em Inglaterra está a sem implementada a queima de madeira como forma de obter energia renovável ... obrigando à importação (com transporte intercontinental) de lenha para queimar.
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- A terra está a ficar mais coberta de vegetação (sem ser plantada e, naturalmente, sem uso de fertilizantes)
- A ligeira subida de temperatura dos últimos 30 anos tem permitido mais chuva e mais verde.
- Metade do aumento de vegetação resulta, em 50% do aumento de CO2.
- O uso de combustíveis fósseis tem permitido tornar a terra mais verde.
- Nos últimos 50 anos a população terrestre aumentou para o dobro e come mais e melhor que anteriormente.
- Usamos hoje 65% menos terreno para agricultura relativamente a 1960. O resto do terreno deixou de ser usado.
- A extinção de espécies, muito alta na transição para o Sec. XX, praticamente deixou de ter lugar desde essa altura.
- A extinção brutal de espécies do fim do Sec. XIX resultou, regra geral, da introdução inadvertida de ratos ou outros predadores no habitat local que da acção directa do homem.
- Há 30 anos acampava-se em Spitsburgen (onde o mar gelado nunca chegou) sem qualquer problema, hoje o espaço é dominado e destruído por ursos polares.
- Os ganços das ilhas daquelas paragens não têm, nos últimos 6 ou 6 anos, conseguido criar uma patinho porque os ursos polares comem-nos todos.
- A vida selvagem pulula pelo Ártico e pelo Antártico ... porque já não são há muito caçados em virtude dos produtos deles retirados se ter tornado obsoletos por serem muito mais baratos quando obtidos de combustíveis fósseis.
- Muita da recuperação da vida selvagem deve-se, além das acções de conservação, à tecnologia, o crescimento, o desenvolvimento económico. "O desenvolvimento económico tem sido parte da solução e não parte do problema".
- O Haiti é muito mais castanho que a República Dominicana. O Haiti depende de energias renováveis, a Republica Dominicana importa combustíveis fósseis e encoraja e subsidia o uso de gás propano como combustível para cozinhar para que as pessoas não cortem árvores para as transformar em combustível. São os combustíveis fósseis quem preserva o verde da República Dominicana.
- Estão a desviar-se 5% das colheitas para as transformar em combustível rodoviário poupando 0.6% em combustíveis fósseis. O desvio de colheitas para combustível provocou a subida do preço dos cereais para o dobro. Entretanto, nas zonas mais desfavorecidas do globo muita gente se viu privada de alimentos por os não conseguir comprar. Entretanto, a necessidade de comida provocou o aumento da desflorestação para cultivo sem recursos tecnológicos.
- Em Inglaterra está a sem implementada a queima de madeira como forma de obter energia renovável ... obrigando à importação (com transporte intercontinental) de lenha para queimar.
Quarta-feira, 13 de Março de 2013
EURSS
A "europa" pretende proibir que as eleições se realizem fora das datas
que ela achar convenientes, que os nomes dos partidos políticos devem
estar de acordo com a regulamentação "europeia" e que o conteúdo da
divulgação política deve ser regulado. Uma "deputada" estranha que
Stuart Agnew não tenha alinhado na "negociação" da norma.
E o bicho nunca mais morre?
E o bicho nunca mais morre?
Terça-feira, 12 de Março de 2013
Pé-de-cabra
Há 3 coisas que nos devem fazer temperar o que escrevemos de forma a fazer esquerdalhos falarem mais do que pretendem:
1 - Que pensarão* os indignácaros ou corporações de sensíveis
2 - Que pensarão os muito sapientes em como as coisas não se fazem
3 - Que pensarão os auto-intitulados OAIs (opinantes altamente isentos)
"Pensar" é aqui uma forma de expressão.
1 - Que pensarão* os indignácaros ou corporações de sensíveis
2 - Que pensarão os muito sapientes em como as coisas não se fazem
3 - Que pensarão os auto-intitulados OAIs (opinantes altamente isentos)
"Pensar" é aqui uma forma de expressão.
Segunda-feira, 11 de Março de 2013
Planeta muçulmano ou Arrufos ideológicos fascistas
A foto verdadeira (à direita) e a montagem que surgiu em alguns sites iranianos (à esquerda)Fotografia © DR
Título, texto e foto retirados daqui.
Ahmadinejad debaixo de fogo por consolar mãe de Chávez
Na
cerimónia fúnebre de adeus ao líder venezuelano, o Presidente iraniano
foi fotografado com o rosto junto ao da mãe de Chávez e de mãos dadas.
Os muçulmanos estão proibidos, por tradição, de tocar em mulheres que
não sejam da sua família e em alguns sites iranianos, a foto foi
alterada.
A
divulgação da imagem gerou uma onda de críticas no Irão. Um membro da
Sociedade do Clero Combativo de Teerão, Hojat al-Islam Hossein Ibrahimi,
disse segundo o site Al Monitor que "em relação ao que é permitido
(halal) e o que é proibido (haram), sabemos que nenhuma mulher que não
seja familiar pode ser tocada a não ser que se esteja a afogar ou
precise de tratamento médico".
Alegadamente,
os apoiantes do Presidente tentaram proibir a publicação da fotografia,
sem sucesso. Depois, a versão online do Iran Newspaper, chamada
Shabakeye Iran, terá vindo em defesa de Ahmadinejad, dizendo que o
Presidente tentou cumprimentar a mãe de Chávez, Elena Frías, juntando as
mãos e levantando-as, mantendo a distância, como fez noutras ocasiões
com outras mulheres.
Mais
tarde, começou a circular uma fotomontagem na qual, em vez de Elena
Frías, o rosto de Ahmadinejad surge junto ao de um homem. Este é
apresentado como sendo um tio do falecido presidente venezuelano. O site
conservador Entekhab, que tinha criticado Ahmadinejad, apressou-se a
pedir desculpa ao presidente, pensando que esta era a verdadeira
fotografia e acusando o jornal britânico 'Daily Telegraph' de ser o
responsável pela "fotomontagem" em que se via a mãe de Chávez.
Mas
algumas horas depois, retiraram o pedido de desculpa, ao descobrir que o
homem da segunda foto é Mohamad El Baradei, o antigo diretor da Agência
Internacional de Energia Atómica e atual figura figura da oposição
egípcia. Na foto original, El Baradei cumprimentava o presidente do
Parlamento egípcio, Ali Larijani.
Domingo, 10 de Março de 2013
Socialismo real tem destas coisas
La «dolce vita» de los Chávez
Sin rubor ni tapujos, sus hijas cuelgan en las redes sociales las fotos de sus viajes y sus citas con los famosos
En 2009, las hijas y nietos de Hugo Chávez tomaron un paseo en barco para conocer los glaciares argentinos |
Le gustaba llevar relojes de marca del tipo Patek Phillip y trajes de firma a la medida, mientras predicaba por televisión su «socialismo siglo XXI» y abrazaba a los niños y ancianos para conquistar el corazón de los desposeídos. En los 14 años que gobernó a Venezuela, Hugo Chávez no
se privó de ningún placer mundano como son los innumerables viajes que
hizo alrededor del planeta, hospedarse en los hoteles más caros, tener
vehículos y llevar joyas costosas.
Así lo relata a ABC el sastre Giovanni Scutaro, quien en los primeros años de su gobierno le cambió sus trajes sencillos de «liquiliqui» (traje
típico llanero de cuello Mao) y uniforme militar por conjuntos de
última moda de cachemir, corbatas de seda y finas camisas de marca
española. Los zapatos también de firma.
La influencia del apellido Chávez ha dado luz verde para gastar
Sin ningún rubor ni tapujo, las hijas Rosinés y María Gabriela han colgado sus fotografías en las redes sociales mostrando
cómo disfrutan de la vida privilegiada por llevar el apellido
presidencial. En sus viajes al exterior se codearon con la élite
política y artística internacional. No se perdieron ningún estreno de
artistas como Justin Bieber o Madonna,
mientras el común de los venezolanos no sueña con esas banalidades ni
viajar en primera clase porque tiene los dólares restringidos por el
control de cambio de la oficina de CADIVI.
María Gabriela tiene debilidad por los coches de carrera
Estos caprichos elitistas han sido criticados por la base chavista,
especialmente por los 17.000 damnificados que esperan en refugios desde
hace dos años que les den una vivienda.
Predicar para otros
El diputado opositor Carlos Berrisbeitía estima que Chávez habría gastado más de 350 millones de dólares en sus viajes al exterior durante 14 años, en los que siempre llevó una nutrida delegación incluyendo a su familia. «Ningún otro jefe de Estado del continente americano ha derrochado tanto».
La «familia real» como denominan a los Chávez en Barinas, era una familia humilde que surgió prácticamente de la nada y que nunca aplicó la prédica del mandatario de que «ser rico es malo». Tal vez pensó que eso era para los pobres y que el ejemplo no empieza por casa.
«Ningún otro jefe de Estado del continente ha derrochado tanto»
Al pie de monte andino está situado Barinas, de 35.200 kilómetros
cuadrados con una población de 800.000 habitantes, estado natal de
Chávez , convertido en el feudo de su familia porque lo ha gobernado su
padre Hugo de los Reyes y su hermano mayor Adán
en estos 14 años de era chavista. Al parecer la fortuna sólo ha tocado
la puerta del clan presidencial en Barinas, pues éste figura entre los
estados más pobres de Venezuela.
El feudo de 45.000 hectáreas de la «familia real» en Barinas incluye una fortuna de 17 fincas, 10 vehículos tipo Hummer, residencias veraniegas, joyas con esmeraldas, rubíes y relojes de oro de 24 kilates, ropa de marcas como Coco Channel. Lo dice el diputado Wilmer Azuaje que los conoce como la palma de su mano.
El patrimonio familiar alcanza un valor de 535 millones de dólares, de los cuales 265 millones de dólares están depositados en cuentas bancarias en el exterior, afirma Azuaje.
Elena Frías, madre de Chávez |
La madre, Elena Frías,
ha cambiado mucho de estilo desde que su hijo ascendió a la
Presidencia. Sus fotografías la delatan. De mostrarse como una mujer
humilde y sencilla al comenzar el gobierno ha pasado a ser una señora
encopetada y enjoyada cuyo rostro muestra a la legua que ha pasado
muchas veces por el quirófano.
La ostentación de Elena Frías casa con su carácter fuerte y lleno de temple. Es la madre del que ideó «la revolución bolivariana y el socialismo del siglo XXI». Lo muestra la crónica «En busca de la mamá de Chávez» en la Antología de Crónica Latinoamericana Actual, editado por Alfaguara. En el año 2008, la cuenta bancaria de Elena contaba con 16,3 millones de dólares, que ahora deben haber aumentado, según el diario mexicano La Razón.
Elogios da loucura
(imagem obtida aqui)
Um novo texto, a não perder, de Alberto Gonçalves, no DN:
O
que falta dizer sobre Hugo Chávez que ainda não tenha sido dito? Quase
tudo. Embora as convenções aconselhem a não insultar um morto recente, o
bom senso dispensaria a veneração respeitosa que por aí vai, mais
adequada a um santo do que a uma personagem pouco recomendável.
Imagine-se
um insignificante militar transformado em agitador, que jovialmente
mistura a leitura de três citações de Marx com a incarnação de Simon
Bolívar, por acaso um ódio particular daquele. Imagine-se que o agitador
promove sucessivas conspirações "anticapitalistas" até tentar, e
falhar, um golpe de Estado. Imagine-se que, após breve passagem pela
cadeia, regressa à agitação e, mediante um talento inato para o
populismo, alcança finalmente o poder pela via democrática, que se
apressa a demolir de modo a perpetuar o seu reinado. Imagine-se que não
falamos de Berlim em 1933, mas de Caracas em 1998: eis Chávez, cujas
semelhanças com o velho führer terminam aí.
Privado
da força necessária, Chávez não invadiu os seus inimigos, limitando-se a
atirar-lhes adjectivos e fúria analfabeta. No resto, só moderadamente
difamou e perseguiu a comunidade judaica, só se aliou a líderes
psicopatas para efeitos simbólicos e só causou estragos em terceiros no
que toca à paciência. Se descontarmos certa influência nas repúblicas
das bananas vizinhas, a acção devastadora de Chávez circunscreveu--se à
Venezuela, que sob o carismático da praxe viu suprimida a liberdade de
expressão, incrementada a violência (oficial e civil), saqueada a
propriedade privada, potenciada a corrupção e reduzida a economia à
estrita dependência do petróleo, o qual, mal por mal, impediu a
bancarrota absoluta. Os simpatizantes de ditaduras aplaudem as
"políticas sociais", leia-se as migalhas com que a nomenclatura do
regime, crescentemente multimilionária, comprou os votos dos miseráveis.
Em determinadas franjas do Ocidente do século XXI, o estereótipo do
"pai da pátria" continua a suscitar ternura.
Sem
surpresas, em Portugal o falecimento de Chávez não ajudou a lembrar
estas trivialidades. A generalidade dos media, vergada ao alegado
fascínio do "comandante", tratou a coisa com desmesurada pompa e
inusitado detalhe, decidindo esclarecer-nos pela enésima vez que um
tirano, logo que prospere à custa da invocação dos oprimidos, é um
"revolucionário". Quanto à classe política indígena, que ao dito alto
nível já celebrara Chávez em vida (ver, por favor, a comenda atribuída
por Jorge Sampaio, as vénias de Mário Soares e a admiração aparentemente
sincera de José Sócrates), resolveu cobrir o ditador de elogios
fúnebres, menos grotescos à direita (o "amigo de Portugal", de acordo
com Paulo Portas) do que à esquerda (o combatente do "liberalismo e do
capitalismo selvagem", de acordo com Alberto João Jardim).
Em
qualquer dos casos, as opiniões são irrelevantes: a obra de Chávez
revela-se no seu legado, desde os herdeiros políticos que recuperam a
hilariante tese do cancro infligido (pelos EUA, claro) ao típico
encobrimento da doença (há um par de semanas, a Embaixada da Venezuela
acusou-me de exagerar a respectiva gravidade), desde o cortejo de
luminárias presentes no funeral (Ahmadinejad, o segundo Castro e o sr.
Lukashenko da Bielorrússia tiveram dieito a lugares de primeira fila;
Kadhafi não durou o suficiente) até ao embalsamento do cadáver (à
semelhança, garantiu o sucessor Nicolás Maduro, "de Ho Chi Min, Lenine e
Mao Tsé-tung"). Por enquanto, a loucura folclórica do "chavismo"
sobrevive ao seu mentor.
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