terça-feira, 24 de agosto de 2010

De: HEROISdoMAR
Data: 08/24/10 15:20:44
Para: Undisclosed-Recipient:,

Assunto: País Grande e Generoso




Um País Grande e Generoso
Fernando Cruz Gomes - Jornalista (CP 3862)


Vai por aí uma guerra danada. Fala-se num livro. Fala-se num autor. E há já quem defenda, um e outro, dizendo que o livro – o tal livro – é de ficção. É evidente. Aquela mexerufada de palavras e de conceitos só pode ser ficção. E ficção que não dá, sequer, para tirar qualquer ilacção. A não ser que nós quizéssemos denegrir a imagem dos que tombaram ao serviço da Pátria... no Portugal onde, então, nunca o Sol se punha. A não ser que fosse melhor fazer de conta que as páginas que agora alguém quer macaquear... nunca existiram.
É ficção. E ficção “rasca”. O escritor Lobo Antunes – e eu, assim, até tenho pena que o meu último nome seja também Antunes – quis mesmo fazer ficção. Quis brincar com as palavras. Pô-las aos saltos por ali, nas páginas que antes eram brancas... e que agora, no seu livro, ficaram mesmo borradas... de tinta.
De vez em quando rezo, também, o Pai Nosso. E tenho orgulho em pedir ao Pai... para me perdoar as minhas ofensas assim como eu perdoo as ofensas dos outros. E, assim, eu perdoo – tento perdoar... – ao tal escritor que até parece carregado de glória e de... dinheiro. Ele, de facto, não sabe o que diz. E merece perdão, por isso.
Naturalmente visiono que a sua “guerra” foi feita no gabinete. Ouviu contar umas quantas patranhas que levou a sério. Talvez através dos que peroravam na Rádio Argel, como esse senhor que agora até está a concorrer ao lugar de Presidente da República e a quem eu teimo em esquecer o nome. Ouviu dizer isso... e vai daí, sem sair do ar condicionado... disse o que disse. Que morreram não sei quantos. Que cortavam as orelhas a este e àquele. Que as punham a servir de arrebiques e tudo. Ouviu. Passou ao papel. E aí está montado o livro de ficção.
Acho não ter tido a honra de conhecer o coronel Manuel Amaro Bernardo. Penso, no entanto, ter lidado com o coronel José Morais da Silva – se é aquele fogoso piloto de que eu tanto ouvi falar, designadamente, no Negage... – em várias situações de guerra. E em várias situações de heroismo. Heroismo cujo significado exacto este senhor escritor não conhece.
Eu, de facto, vi actos de heroismo. E nem sequer “puxo a brasa à minha sardinha...” Nunca fui militar. Nunca enverguei a farda das gloriosas Forças Armadas Portuguesas. Andei, porém, mais tempo em operações de combate do que a maioria dos soldados. Primeiro no Uige, já que fazia o aguerrido “Jornal do Congo” e fazia locução no Rádio Clube do Uige (que então ainda se chamava... do Congo Português), logo a seguir (horas depois) do 15 de Março de 61. Depois, aos poucos, a correr por toda a parte, ao serviço de “O Comércio” de Luanda, da Emissora Oficial de Angola. Habituei-me (que querem?!). Ninguém me obrigava a ir... eu ia como voluntário. Para contar o que via. E para aprender com os militares que acompanhava.
Habituei-me, sobretudo, a ver o tal heroismo que o sr. Antunes parece não descortinar sobretudo quando se olha ao espelho. Habituei-me até – imaginem – a andar de capacete e com a FBP na mão. E fazia isso porque tive um colega que, em 1961, logo a seguir ao início da chamada luta nacionalista... foi-se à guerra, pensando que todos entendiam que ele era Jornalista. E que um Jornalista deve ir (só) em missão de contar como foi. Não precisa de ir armado. Coitado! Numa das missões que ele tentava cobrir... um canhangulo esfacelou-lhe parte da cabeça. A partir daí, eu próprio sempre usei capacete e sempre tentei ir armado, a despeito de nunca ter pegado, antes, numa arma. Nem saber como se fazia. Aprendi à minha amarga custa. Vi cair soldados a meu lado. Vi. Ninguém me contou. No Úcua, na Pedra Verde, em Nambuangongo, no Zalala, no Mucaba. Vi. Ninguém me contou. E vi, sobretudo, que tínhamos, então, gente grande... quando a disciplina a aprender, a ensinar e a viver... era a de coragem e de honra. Mesmo entre os Zés Ninguéns soldados que tinham vindo das berças... defender o conceito de Pátria que as mães lhes tinham ensinado.
Eu vi, afinal, o que o vesgo do sr. Antunes não conseguiu ver. E mesmo que tenho visto algumas cenas horripilantes de parte a parte – sobretudo com desertores que hoje se arvoram em gente grande... – entendo que todos nós, enquanto Portugueses e enquanto Gente, devemos ter orgulho nas Forças Armadas que prestaram serviço no tal País Grande que é agora pequeno. Que gente como o sr. Antunes ajudou a tornar mais pequeno. Fernando Cruz Gomes - Toronto - Canadá

PS: Olhe, senhor Gabriel Cipriano, não só as Forças armadas que estão fartas de ser desconsideradas pelos governos, deputados e certa classe política e intelectual. A PSP e a GNR sofrem do mesmo! E uma boa parte do Povo de Portugal começa a estar realmente farta de tanta irresponsabilidade, incompetência e ignorância!

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