segunda-feira, 9 de maio de 2011

Colunista FT:

por António Carneiro, RTP

Gestão da crise por parte de Portugal foi “aterradora”

publicado 15:24 09 maio '11
Gestão da crise por parte de Portugal foi “aterradora”
Wolfgang Münchau diz que a comunicação ao país de Sócrates protagonizou "um momento tragicómico" na crise Estela Silva, Lusa

Na coluna que assina no Financial Times, Wolfgang Münchau não poupa criticas ao Governo e ao primeiro-ministro português, que segundo ele, “protagonizou um momento de tragicomédia”, durante a sua comunicação ao país na semana passada. Na opinião deste comentador, a gestão da crise por parte do Governo português foi, e continua a ser “aterradora”.

Na coluna em que tece críticas aos governantes portugueses, Münchau começa por criticar os ministros das Finanças europeus que se reuniram na passada semana no Luxemburgo, dizendo que, “se nem sequer sabem organizar uma reunião privada, como se pode esperar que resolvam a crise da dívida”.

Em causa está a reunião “secreta” que os responsáveis das Finanças da França, Itália, Alemanha e Espanha tiveram na semana passada no Luxemburgo e que, segundo uma notícia da edição online da revista
Der Spiegel se destinava a debater a intenção grega de abandonar a moeda única.

Munchau diz que desmentidos não convencem
O comentador do Financial Times
salienta que o presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, começou, nessa mesma manhã, por desmentir a própria existência da reunião, que no fim do dia terminou com uma declaração que dizia não terem sido discutidas nem a saída da Grécia do euro nem uma restruturação da dívida grega.
Para Wolfgang Münchau o segundo desmentido é tão falso como o primeiro, uma vez que todas as opções devem ter sido discutidas, o que não significa, sublinha o comentador, que venham a tornar-se realidade.

Münchau acredita que toda esta atrapalhação se deve ao facto de os responsáveis europeus estarem a ficar sem opções para lidar com a divida grega.


Depois de enumerar os gigantescos obstáculos políticos e económicos tanto a uma saída grega do euro como a uma restruturação da dívida, o comentador diz que o problema real não reside na dívida das economias periféricas, pois esta é uma gota de água no produto interno bruto da Zona Euro.


Problema da Europa é político
Com efeito, o rácio entre dívida e produto interno bruto na área da moeda única é inferior ao que existe no Reino Unido, EUA ou Japão o que, segundo Münchau, tornaria esta discussão numa “tempestade num copo de água”, se apenas se tratasse aqui de uma questão económica.

Para o colunista do
Financial Times, o problema real reside no facto de a Zona Euro ser politicamente incapaz de gerir a crise. Isto porque os responsáveis políticos estão a tomar consciência de que, quaisquer que sejam as opções tomadas, irão custar centenas de milhares de milhões de euros aos contribuintes dos respetivos países. Por esse motivo, diz, nenhum estado aceitará efetuar uma transferência de tal magnitude sem impor condições extremas como contrapartida.

Governo português fez gestão “aterradora” da crise
É no contexto do que Münchau diz ser “ um problema não resolvido de ação coletiva” que surgem as críticas ao Governo português.
Segundo afirma, “tanto é de culpar o parlamentar nórdico, avarento e economicamente iletrado, como o primeiro-ministro do sul que apenas se preocupa com o seu quintal”.

Para este comentador “o Governo grego portou-se mais ou menos bem, mas a gestão da crise por parte do Governo português foi aterradora”.


“José Sócrates, o primeiro-ministro, escolheu adiar o pedido de assistência financeira até ao último minuto. A sua comunicação da semana passada foi um momento tragicómico na crise”, escreve Wofgang Münchau.


Munchau acusa Sócrates de faltar à verdade
O comentador do FT considera que “com o país à beira da extinção financeira, ele [Sócrates] foi gabar-se na televisão nacional que tinha conseguido um acordo melhor do que o da Irlanda ou da Grécia”.

“Além disso”, escreve Münchau,” afirmou que o acordo não seria muito doloroso. Quando os pormenores foram conhecidos, alguns dias depois, pode ver-se que nada disto era verdade”.


Nas palavras deste comentador o pacote “contém cortes selvagens à despesa, congelamento dos salários no sector público e nas pensões, aumentos de impostos e uma previsão de uma profunda recessão de dois anos”.


O colunista do Financial Times considera que “não se pode gerir uma união monetária com pessoas como o Sr. Sócrates, ou com ministros das Finanças que espalham rumores sobre uma ruptura”.


"O problema fundamental da Europa é o facto de as elites politicas terem medo de dizer em público uma verdade que os historiadores económicos já conhecem desde sempre”, afirma Münchau. “Uma união monetária sem uma união política não é viável”, acrescenta.


A coluna do FT termina com asserção de que esta não é uma crise de dívida mas sim uma crise política, e com a afirmação de que, muito em breve, a Zona Euro será forçada a escolher entre duas hipóteses: ou dar “um impensável passo à frente, rumo a uma união política, ou dar um igualmente impensável passo atrás

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