quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Estudo: Bruxelas revela desigualdades nos sacrifícios pedidos
Mais pobres suportam austeridade


São os mais pobres que estão a fazer mais sacrifícios para pagar a crise. A conclusão é de um estudo da Comissão Europeia que analisa a distribuição dos efeitos das medidas de austeridade por seis países em dificuldades: Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido.
Por:lMiguel Alexandre Ganhão / Pedro H. Gonçalves / A.P.


As medidas de austeridade tomadas pelo Governo português, para além de estarem distribuídas de forma desigual entre ricos e pobres, fizeram subir o risco de pobreza, particularmente entre idosos e jovens.
O relatório de Bruxelas revela que Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", ou seja, em que os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Exemplo disso é o rendimento disponível das famílias. Nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível.
Os dados mostram que Portugal é o único país analisado em que "a percentagem do corte [devido às medidas de austeridade] é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.
Dos 3% do rendimento disponível que as medidas de austeridade vieram retirar aos portugueses, a fatia de leão é suportada por reformados e por pensionistas, seguindo-se o aumento dos impostos, que é suportado essencialmente pela classe média, e os cortes nos salários e subsídios dos funcionários públicos respondem pelo resto.
Uma situação que coloca a classe média sob pressão e faz subir o risco de pobreza de 18,5% para 20,5% da população.
ALEMANHA APOIA CORTES VIOLENTOS EM ESPANHA
O governo alemão deixou ontem elogios às medidas de austeridade aplicadas pelo novo executivo espanhol de Mariano Rajoy.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Guido Westerwelle, manifestou o "grande respeito" do executivo de Angela Merkel pela decisão que "envolve cortes dolorosos e inevitáveis". Westerwelle diz que "o facto de Espanha não cumprir o défice de 6% em 2011 mostra que tem necessidade de um processo consistente de consolidação".
GRÉCIA EXIGE NOVO RESGATE OU SAI DO EURO
O Governo grego avisou ontem que o país pode ser forçado a deixar a Zona Euro caso não chegue a acordo com o BCE e o FMI para um novo plano de resgate financeiro, depois da primeira ajuda de 130 mil milhões de euros, em Outubro. "Este segundo acordo de empréstimo deverá ser assinado. Caso contrário, estaremos fora dos mercados e fora do euro", declarou um porta-voz da equipa de Lucas Papademos, que inicia as negociações este mês.
"RICOS TÊM OBRIGAÇÃO DE CONTRIBUIR MAIS"
Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, não se mostrou surpreendido com as conclusões do relatório da Comissão Europeia, que aponta Portugal como o país onde as medidas de austeridade foram mais exigentes para os mais pobres.
"Só confirma o que temos vindo a alertar nos últimos anos. A riqueza está na mão de poucos, e a maioria, que contribui para a criação dessa riqueza, vive uma situação de injustiça gritante", comentou ao CM, reclamando ao Governo medidas para inverter a situação: "Os ricos têm obrigação de contribuir mais para a solução da crise."
Para o presidente da Cáritas, a injustiça é ainda maior porque "algumas riquezas foram obtidas de uma forma pouco clara".
Recuperando os últimos dados sobre a pobreza na Europa, Eugénio Fonseca lamentou ainda que "Portugal já seja o país com maiores assimetrias entre ricos e pobres".
A situação em Portugal, acrescentou, é dramática, e contesta que apenas 20% da população esteja em risco de pobreza. "Não há estatística que resista ao que está a acontecer. De 2005 a 2008, passámos de 20% para 17,8% da população em risco porque o Estado fez mais transferências sociais. Se não fosse o Estado Social, esse número seria de 43%", referiu, contrariando a Comissão Europeia: "Diz que passámos a barreira dos 20%, mas somos muito mais."
330 MIL COM AJUDA PARA COMER
O Banco Alimentar Contra a Fome recolheu 2950 toneladas de alimentos na última campanha, realizada em Novembro do ano passado. Os géneros alimentares começaram de imediato a ser distribuídos a mais de duas mil Instituições de Solidariedade Social, que os entregam a cerca de 330 mil pessoas com carências alimentares comprovadas. Segundo o Banco Alimentar Contra a Fome, foram distribuídas ao longo de 2010 cerca de 26 567 toneladas de alimentos.

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