quarta-feira, 5 de setembro de 2012

UM PAÍS QUE VAI MORRENDO AOS POUCOS

O tempo voa, os anos vão-se amontoando e não só a capacidade intelectual vai diminuindo como também se vai esgotando a paciência para enfrentar esta onda de oportunismo e de espírito mercenário.

E se não há dia em que não confie ao meu diário as minhas angústias, as minhas frustrações, as minhas alegrias, as minhas desilusões e também as minhas esperanças, o certo é que, à medida que eles passam, a vontade de as exteriorizar e confessá-las publicamente, vai-se esgotando a pouco e pouco. Embora dotado de um espírito aberto e gregário, sempre me repugnou uma certa espécie de promiscuidade. Não no capítulo das ideias porque nunca diferenciei raças, castas, credos ou ideologias. Porém, em questões de ética e dos seus princípios, mal o seu desrespeito se vislumbra, não há gregarismo que resista.

Infelizmente, há que admitir que está assim o mundo em que vivemos. Fútil e traiçoeiro. Vive-se num pantanal de cinismo. Rodeia-nos uma floresta onde a hipocrisia cresce sem parar. E como teia de aranha, ela estende-se a todos os ramos. E nessa urdidura de ambições, louva-se ou condena-se, incensa-se ou conspurca-se, conforme os interesses em causa. E quase sempre sem olhar a consequências, nem avaliar possíveis danos morais. É uma espécie de luta sem regras onde tudo é permitido para se chegar à vitória.

E neste universo de interesses inconfessáveis cresce a olhos vistos a vontade de ser deus de qualquer coisa. E é assim, e dessa maneira, que o nosso dia a dia está cheio de especialistas analfabetos e de vigaristas transformados em heróis.!...

Desviei-me talvez um pouco do tema inicial desta crónica, mas é muito difícil, ao abordarmos qualquer assunto, mantermo-nos imunes e alheios a toda esta balbúrdia que nos rodeia. Numa sociedade materialista e desumanizada é impossível fugir às ondas de choque motivadas pela derrocada dos seus valores. Daí as minhas zangas e desavenças constantes com esta "democracia por turnos" que caminha de braço dado com esta degradação galopante dos princípios que deveriam nortear o seu funcionamento. Uma democracia já com idade para se portar como adulta, mas que no seu percurso continua traquina, inconstante, leviana e irresponsável. Tudo é jogo e espectáculo. O palco está a abarrotar de pedantes e ambiciosos.

Há teóricos, tecnocratas e doutores por toda a parte. Mas cada vez menos gente que trabalhe. São cada vez mais os barrigudos e com contas bancárias tão dilatadas como os seus ventres!

O povo português tem ideal, é arrojado, tem vontade e tem mostrado que é capaz de igualar outros povos; mas os exemplos que vêm de cima são tão maus, que tiram a esperança ao mais optimista.

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