terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Posted: 07 Jan 2013 06:37 PM PST





Karachi, Paquistão, 18 milhões de habitantes, a terceira mais povoada do mundo, 32 milhões daqui a 15 anos, capital económica, 50% de desemprego jovem, 8 crimes diários, paraíso do terrorismo, polícia ineficaz e corrupta, sistema judiciário corrupto, partidos políticos corruptos, 24% da população consumidora de heroína, tráfico armas, conflitos étnicos e religiosos, máfias que controlam bairros inteiros; bem-vindo ao inferno.








Uma cidade desmesurada.



De 2 milhões de habitantes nos anos 50, a população actual ultrapassa os 18 milhões, 32 milhões daqui a quinze anos. Esse aumento deveu-se muito à emigração, particularmente depois da divisão da Índia em 1947 com a chegada de muçulmanos de língua urdus, mas também de pachtuns fugindo o Afeganistão.


Mais de 90% da população é muçulmana, a grande maioria sunita, mas também tem um grande grupo xiita, e uma pequena minoria de cristãos, menos de 2%. Juntando a isso, os números clãs tribais, temos então um cocktail explosivo marcado pelas rivalidades, sinónimo de violência e ajustes de contas sem fim à vista.


No entanto, Karachi também é a principal região económica do país: 33% da indústria, 26% do comercio, 61% da actividade bancária e também onde reside a alta burguesia que vai fazer compras a Londres e envia os seus filhos estudar nas melhores universidades americanas.







Quando islamismo rima com repressão.



Com mais de 90% da população muçulmana, insultar o profeta  maomé é um blasfema com direito à pena de morte. Este facto é utilizado pelas autoridades paquistanesas para pressionar as minorias religiosas. Mas, para além disso, a morte está presente em cada esquina dessa cidade, só em 2012, 2200 pessoas foram assassinadas nas suas ruas. A morte por ajuste de contas étnicas, religiosas ou mafiosas tornou-se banal.


A politização das forças policias e o laxismo do sistema judiciário fomenta a violência. Quanto os suspeitos são presos, são mortos pelas forças da ordem ou caminham para processos jurídicos sem fim, onde as testemunhas recusam participar por medo de represálias. Na maioria dos casos são libertados por falta de provas.


Os partidos políticos controlam grupos armados e controlam grande parte do crime organizado que encomenda o assassinato dos opositores, sendo as principais vítimas membros do partido oposto. Qualquer pessoa pode comprar uma arma que chegam sem qualquer controlo ao porto de Karachi.







O paraíso dos criminosos.



Karachi tornou-se assim o paraíso dos criminosos, dos gangues, de várias máfias que vivem do rapto, tráfico de armas e heroína, mas também dos talibãs na sua luta contra o ocidente. Mais de uma centena de navios aportam em Karachi, abastecendo a cidade e o país em toda a espécie de contrabando. Do porto também se pode embarcar sem qualquer controlo para qualquer país próximo. Milhões de dólares são aí transferidos para qualquer parte do mundo.


Nestas condições, a população miserável torna-se um alvo fácil de manipulação, em particular a religiosa. As mesquitas e madrassas abundam, e é possível "comprar" um atentado suicídio por apenas 220 euros.







A elite diverte-se.



Karachi também é a cidade mais liberal do Afeganistão, nos bairros ricos, protegidos por altos muros e uma guarda armada, os mais abastados fazem uma vida ao estilo europeu, as mulheres não usam véu, promovem desfiles de moda e organizam festa sumptuosas onde as drogas e o álcool, proibido pelo islão, é consumido sem moderação.


Esta elite utiliza o inglês e os filhos frequentam escolas inglesas: Saint-Patrick, Saint-Joseph e sobretudo a prestigiada escola Karachi Grammar School.


Fundada em 1847 pela igreja inglesa, para as crianças dos oficiais das forças armadas na Índia, associada à universidade de Cambridge, a Grammar School, está no mesmo patamar que as melhores escolas inglesas, os país pagam 240 euros por trimestre, país onde o ordenado médio de um operário no Paquistão é de 35 euros.


As pessoa da alta sociedade frequentam os bairros chiques de Karachi, deslocam de carro e na maioria dos casos, um segurança senta-se ao lado do condutor, viajando a família nos bancos de trás. Mas na maioria dos casos, organizam festas particulares em casa de um deles, o que permite consumir álcool, proibido nos cafés e restaurantes desde o fim dos anos 70.








Interesses estratégicos dos USA e tráfico de droga.



Há 30 anos, o Paquistão era um ponto nevrálgico na defesa dos interesses do Estados Unidos contra o Afeganistão, que o financiaram e armaram, nessa altura as armas proliferavam.
Ainda agora, a "missão" da NATO no Afeganistão seria impossível sem o porto de Karachi, onde 80% do armamento com destino ao Afeganistão passa por Karachi.


O tráfico de droga serve para financiar parte do projecto da NATO e no recrutamento de rebeldes para atacar os postos fronteiriços com a Índia. A droga está a destruir o pouco que ainda resta de Karachi, é o próprio estado com os seus agente que controlam o seu tráfico. Muitos bairros forram construídos com o dinheiro da droga, a maioria dos bancos paquistaneses estão implicados directa ou indirectamente com o tráfico de droga.


A NATO e a CIA necessitam da droga produzida no Afeganistão e norte do Paquistão para se financiarem, e o mundo ocidental precisam dessa droga para se abastecer, sendo que as principais vítimas da violência em Karachi, não são os atentados mediáticos atribuídos aos extremistas, que abram os telejornais, as principais vítimas são os seus próprios habitantes sem qualquer solução para os problemas diários que enfrentam que para além de um problema étnico e religioso estão confrontados com domínios territoriais económicos mafiosos.

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