quinta-feira, 12 de setembro de 2013

les misérables


Eu abomino Passos Coelho. E suponho que o seu gabinete esteja cheio de jotinhas, aldrabões, mentecaptos e mentirosos, muitos deles filhos dos amigos, muitos deles incompetentes, muito deles sem qualquer experiência, muitos deles indignos sequer de serem acessores de um Presidente da Junta, quanto mais de um Primeiro Ministro de um país alegadamente civilizado. 

Ainda assim, estou convicta de que cada vez que fazemos todos um enorme alarido porque no gabinete de um Primeiro Ministro alguém ganha três mil euros (sensivelmente 1800€ líquidos), é contra nós próprios que falamos.

O assessor pode ser mau, o Primeiro Ministro uma fraude, o Governo uma catástrofe, mas um assessor do gabinete de um Primeiro Ministro ganhar 1800€ líquidos não tem rigorosamente nada de extraordinário.  

E quando, muitos de nós com perfeita consciência disto, alinhamos em ataques populistas baseados nestes valores, contribuímos para uma cultura nacional de miserabilismo salarial. Subscrevemos um mercado de trabalho tacanho, explorador e bafiento. E assinamos por baixo de uma economia em que um licenciado começa a sua carreira a ganhar miseravelmente e dez anos depois, com muita sorte, já só ganha muito mal; por baixo de uma cultura que aceita que pensões de quinhentos euros possam ser cortadas; por baixo de uma cultura que encara a progressão salarial como uma quimera. 

Em resumo, fazemos ao Governo que faz de nós miseráveis o favor de pensar como miseráveis.

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