domingo, 22 de setembro de 2013



Saia um chá para o ladrão!

Publicado em 2013-09-18

 
 
O país dá sinais, em múltiplas áreas, de estar aparentado a um manicómio em autogestão. Há demasiados comportamentos estranhos, desviantes mesmo, e para os quais parece não haver remédio.
Um ex-árbitro já falecido popularizou uma afirmação cada vez mais atual. Vítor Correia considerava, há umas décadas e sobre uma atividade de reações pouco racionais como o futebol, já nada o admirar desde que tinha visto um porco andar de bicicleta no circo. Caricatural, a frase é tão sábia que até o professor Marcelo a passou a usar (ao ponto de os mais distraídos lhe atribuírem a paternidade) na sua prédica dominical de TV, analítica e criadora de factos políticos.
É isso mesmo: o país cavalga perigosamente para o entendimento segundo o qual todos os sinais de tontice e irresponsabilidade devem ser olhados como banalidades.
De tantos, difícil é escolher um exemplo. Ou dois. Façamo-lo, porém.
Ontem, no Tribunal de Albergaria-a-Velha, um tipo a cumprir quatro anos de cadeia por ter tentado assaltar uma pastelaria e churrascaria viu o Ministério Público acompanhar a acusação de crime à integridade física que atribui ao proprietário do estabelecimento e a dois amigos que o acudiram então. O dono da pastelaria/churrascaria foi baleado numa anca pelo ladrão, mas não lhe perguntou se queria um chá e uma torrada; ele e os amigos cometeram a imprudência de dar uns safanões ao sacana do gatuno e agora o tipo pede uma indemnização de 15 mil euros! Em nome do combate à justiça popular, o Ministério Público faz-se de cego, agarrado que está às alíneas e aos artigos e aos capítulos da lei! Uma maravilha!, restando agora saber se o juiz é mais sensato ou acompanha tão estapafúrdia teoria!
O caso do ladrão reivindicativo de um tratamento de lorde serve apenas, naturalmente, para tipificar o alastramento da confusão numa sociedade na qual as bases essenciais de um Estado de direito - o Poder Legislativo, Executivo e Judicial - estão pelas ruas da amargura, sujeitas ao livre arbítrio de incompetentes e interesseiros, sem capacidade de fazer regras sensatas, punindo os prevaricadores.
No acumulado de comportamentos a dar a impressão de entre fronteiras existir o tal manicómio em autogestão sobra, além do mais, um irritante ruído muito capaz de ser próprio de quem se julga virgem ofendida mas dispõe de rotinas sediadas no Bairro Vermelho de Amesterdão. A gritaria em volta dos "swaps" é paradigmática: Oposição - sobretudo o PS - e Governo, sem quaisquer consequências criminais, entretêm-se com a espuma de quem mentiu a quem, enquanto o povo paga os desvarios da má gestão.
A história do ladrão e da vítima do Tribunal de Albergaria-a-Velha até parece uma minudência. Mas não é, dentro da tal vulgaridade preocupante....

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