19 DE OUTUBRO 2013
Contos proibidos - O livro que desapareceu do mercado escrito por um ex-companheiro de partido, de Mário Soares, Rui Mateus. O livro, que noutra democracia europeia daria escândalo e inquérito judicial veio a público nos últimos meses do segundo mandato presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República. As revelações de Rui Mateus sobre os negócios do Presidente Soares, em Contos Proibidos, tiveram impacto político nulo e nenhuns efeitos. Em vez de investigar práticas porventura ilícitas de um Chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor pela "traição" a Soares. (NO FINAL DESTE RESUMO ENCONTRA-SE O LIVRO com as 276 páginas, QUE FOI TOTALMENTE ERRADICADO DO MERCADO.) Joaquim Vieira, director da 'Grande Reportagem', ( texto em baixo) detida pelo grupo Controlinveste, foi despedido. O jornalista foi igualmente informado de que a revista será fechada. As razões de tais medidas são desconhecidas. Recorde-se que Vieira tem vindo a escrever sobre o polémico livro de Rui Mateus, onde se aludia a ligações do PS de Soares ao caso Emáudio. Grande reportagem Em síntese, que diz Mateus ? Que, após ganhar as primeiras presidenciais, 1986, Soares fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os fundos financeiros remanescentes da campanha. Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes dirigidos ao PS.
Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era para financiar a
reeleição de Soares. Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias,
Soares colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles
para orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas
residências particulares.
Que, no exercício do seu "magistério de influência" (palavras suas
noutro contexto), convocou alguns magnatas internacionais - Rupert Murdoch,
Sílvio Berlusconi, Robert Maxwell e Stanley Ho - para o visitarem na Presidência
da República e se associarem ao grupo, a troco de avultadas quantias que
pagariam para facilitação dos seus investimentos em Portugal. Note-se que o
"Presidente de todos os portugueses" não convidou os empresários a
investir na economia nacional, mas apenas no seu grupo, apesar dos
contribuintes suportarem despesas de estada.
*Parte 2* publicado a 10 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 244 A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente foi sedeada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia seu ex-ministro, e o próprio filho, João.
A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil acções da
Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS
após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente mas de que fizera o
outro fiel depositário na sua permanência em Belém, relata Mateus em Contos
Proibidos. Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa-de-ferro
no grupo empresarial.
Diz Mateus que o Presidente queria investir nos média: daí o convite inicial para Sílvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o governo) visitar Belém. Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento. Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a associação a "amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares", com vista a "garantir o controlo de interesses nos média favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos, apoiar a sua reeleição". Interpôs-se porém outro magnata, Robert Maxwell, arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais. Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu "mensalão". Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. O então Presidente ficaria aliás nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais, episódio a merecer análise própria. cid:75E7E03153304803BC599985D55DB28B@jfernandes Este texto, continua em baixo, a seguir ao livro... O livro de Rui Mateus, que foi rapidamente retirado de mercado após a celeuma que causou em 1996 (há quem diga que “alguém” comprou toda a edição), está disponível, aqui mesmo, para os mais interessados.
O Livro Contos Proibidos - Rui Mateus by
Peter Storming
*Parte 3*
publicado a 17 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 245 A empresa Emaudio, dirigida na sombra pelo Presidente Soares, arrancou pouco após a sua eleição e, segundo Rui Mateus em Contos Proibidos, contava "com muitas dezenas de milhares de contos "oferecidos" por (Robert) Maxwell (...) consideráveis valores oriundos do "ex-MASP" e uma importante contribuição de uma empresa próxima de Almeida Santos." Ao nomear governador de Macau um homem da Emaudio, Carlos Melancia, Soares permite juntar no território administração pública e negócios privados. Acena-se a Maxwell a entrega da estação pública de TV local, com a promessa de fabulosas receitas publicitárias. Mas, face a dificuldades técnicas, o inglês, tido por Mateus como "um dos grandes vigaristas internacionais", recua. O esquema vem a público, e Soares acusa os gestores da Emaudio de lhe causarem perda de popularidade, anuncia-lhes alterações ao projecto e exige a Mateus as acções de que é depositário e permitem controlar a empresa. O testa-de-ferro, fiel soarista, será cilindrado - tal como há semanas sucedeu noutro contexto a Manuel Alegre. Mas antes resiste, recusando devolver as acções e esperando a reformulação do negócio. E, quando uma empresa reclama por não ter contrapartida dos 50 mil contos (250 mil euros) pagos para obter um contrato na construção do novo aeroporto de Macau, Mateus propõe o envio do fax a Melancia exigindo a devolução da verba.
O Governador cala-se. Almeida Santos leva a mensagem a Soares, que também
se cala. Então Mateus dá o documento a 'O Independente, daqui nascendo o
escândalo do fax de Macau". Em plena visita de Estado a Marrocos, ao saber que o
Ministério Público está a revistar a sede da Emaudio, o Presidente envia de
urgência a Lisboa Almeida Santos (membro da sua comitiva) para minimizar
os estragos.
Mas o processo é inevitável. Se Melancia acaba absolvido, Mateus e
colegas são condenados como corruptores.
Uma das revelações mais curiosas do seu livro é que o suborno (sob o
eufemismo de dádiva pública") não se destinou de facto a Melancia mas "à Emaudio
ou a quem o Presidente da República decidisse".
Quem afinal devia ser réu? Os factos nem parecem muito difíceis de confirmar, ou desmentir, e no entanto é mais fácil, mais confortável, ignorá-los, não se confia na justiça ou porque não se acredita que funcione em tempo útil, ou por que se tem medo que funcione, em vida, e as dúvidas, os boatos, os rumores, a 'fama persistem.
E é assim, passo a passo, que lentamente se vai destruindo de vez a
confiança dos portugueses nas instituições. Por incúria, por medo, por desleixo,
até por arrogância, porventura de fantasmas e até... da própria sombra.
N.A. Como adenda, e perdoem-me o sarcasmo que é preciso por as coisas no seu devido lugar, talvez conviesse meditar no generoso silêncio dedicado ao conteúdo destes artigos de Vieira, e ao livro de Mateus, por parte de alguns dos e (ste) ticistas do regime quando comparado com a, também ela generosa, campanha em curso contra alguns 'antros' 'anónimos de pensamento livre e desalinhado... Ou, será que as coisas já evoluíram tanto, tanto, que agora só existem depois de serem tratadas em blog? É que a Grande Reportagem tem uma tiragem superior a 100000 exemplares, nós ainda não... Entretanto, por essas e por outras, do Brasil até gozam...Como adenda suplementar convém frisar que o problema não é novo, ou sequer isolado, antes é estrutural e crónico. Atente-se na GALP e nas maravilhas que por lá se passa (ra) m. No mínimo, os factos - 'estranhos - mereceriam uma investigação apurada, judicial e jornalística, no entanto... cid:B2E08955588240B28A538825D24E6CF8@jfernandes *O Polvo, Parte 4* publicado a 24 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 246. por Joaquim Vieira. Ao investigar o caso de corrupção na base do "fax de Macau", o Ministério Público entreviu a dimensão da rede dos negócios então dirigidos pelo Presidente Soares desde Belém. A investigação foi encabeçada por António Rodrigues Maximiano, Procurador-geral adjunto da República, que a dada altura se confrontou com a eventualidade de inquirir o próprio Soares. Questão demasiado sensível, que Maximiano colocou ao então Procurador-geral da República, Narciso da Cunha Rodrigues. Dar esse passo era abrir a Caixa de Pandora,implicando uma investigação ao financiamento dos partidos políticos, não só do PS mas também do PSD - há quase uma década repartindo os governos entre si. A previsão era catastrófica: operação "mãos limpas" à italiana, colapso do regime, república dos Juízes. Cunha Rodrigues, envolvido em conciliábulos com Soares em Belém, optou pela versão mínima: deixar de fora o Presidente e limitar o caso a apurar se o governador de Macau, Carlos Melancia, recebera um suborno de 250 mil euros. Entretanto, já Robert Maxwel abandonara a parceria com o grupo empresarial de Soares, explicando a decisão em carta ao próprio Presidente. Mas logo a seguir surge Stanley Ho a querer associar-se ao grupo soarista, intenção que segundo relata Rui Mateus em Contos Proibidos, o magnata dos casinos de Macau lhe comunica "após consulta ao Presidente da República, que ele sintomaticamente apelida de boss. Só que Mateus cai em desgraça, e Ho negociará o seu apoio com o próprio Soares, durante uma "presidência aberta" que este efectua na Guarda. Acrescenta Mateus no livro que o grupo de Soares queria ligar-se a Ho e à Interfina (uma empresa portuguesa arregimentada por Almeida Santos) no gigantesco projecto de assoreamentoe desenvolvimento urbanístico da baía da Praia Grande, em Macau, lançado ainda por Melancia, e onde estavam previstos lucros de milhões de contos". Com estas operações, esclarece ainda Mateus, o Presidente fortalecia uma nova instituição: a Fundação Mário Soares. Inverosímil ? Nada foi desmentido pelos envolvidos, nem nunca será. cid:2F36D69D64494DAFA2A237B2D9176762@jfernandes *O Polvo, Parte 5, conclusão* publicado a 1 de Outubro de 2005, na Grande Reportagem nº 247, Por Joaquim Vieira. As revelações de Rui Mateus sobre os negócios do Presidente Soares, em Contos Proibidos, tiveram impacto político nulo e nenhuns efeitos. Em vez de investigar práticas porventura ilícitas de um Chefe de Estado, os jornalistas preferiram crucificar o autor pela "traição" a Soares (uma tese académica elaborada por Estrela Serrano, ex-assessora de imprensa em Belém, revelou as estratégias de sedução do Presidente sobre uma comunicação social que sempre o tratou com indulgência.) Da parte dos soaristas, imperou a lei do silêncio: comentar o tema era dar o flanco a uma fragilidade imprevisível. Quando o livro saiu, a RTP procurou um dos visados para um frente-a-frente com Mateus - todos recusaram. A omertá mantém-se: o desejo dos apoiantes de Soares é varrer para debaixo do tapete esta história (i) moral da III República, e o próprio, se interrogado sobre o assunto, dirá que não fala sobre minudências, mas sobre os grandes problemas da Nação. Com a questão esquecida, Soares terminou em glória uma histórica carreira política, mas o anúncio da sua recandidatura veio acordar velhos fantasmas. O mandatário, Vasco Vieira de Almeida, foi o autor do acordo entre a Emaudio e Robert Maxwell. Na cerimónia do Altis, viram-se figuras centrais dos negócios soaristas, como Almeida Santos ou Ilídio Pinho, que o Presidente fizera aliar a Maxwell. Dos notáveis próximos da candidatura do "pai da pátria", há também homens da administração de Macausob a tutela de Soares, como António Vitorino e Jorge Coelho, actuais eminências pardas do PS, ou Carlos Monjardino, conselheiro para a gestão dos fundos soaristas e presidente de uma fundação formada com os dinheiros de Stanley Ho. Outros ex-"macaenses" influentes são o ministro da Justiça Alberto Costa, que,como director do Gabinete da Justiça do território, interveio para minorar os estragos entre o soarismo e a Emaudio, ou o presidente da CGD por nomeação de Sócrates, que o Governador Melancia pôs à frente das obras do aeroporto de Macau. Será o Polvo apenas uma teoria de conspiração ? E depois, Macau, sempre Macau... cid:F57E879ED54149AFB4BD99347D46F67D@jfernandes 2005- Joaquim Vieira, despedido
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