quinta-feira, 28 de novembro de 2013


Casal manteve três filhas em cativeiro durante dois anos nos EUA

Mãe e padrasto das raparigas de 17, 13 e 12 anos foram detidos. Casa tinha sistema de vigilância 24 horas e música constante para abafar os sons. Duas conseguiram fugir e pedir ajuda aos vizinhos.
Fernando Richter, de 34 anos, e a mãe, Sophia Richter, de 32 anos Tucson Police/Reuters

Um sistema de vigilância 24 horas, música constante para abafar os sons e frechas de portas e janelas reforçadas com toalhas. Foi desta forma que durante dois anos três raparigas foram mantidas em cativeiro pela própria mãe e pelo padrasto, num caso agora dado a conhecer pelas autoridades policiais do Arizona, nos Estados Unidos. O alerta foi dado por duas delas, de 12 e 13 anos, que conseguiram fugir por uma janela e pedir ajuda aos vizinhos.
O caso aconteceu na cidade de Tucson e está a gerar especial polémica por a própria mãe ter compactuado com a situação. Segundo a BBC, as raparigas foram encontradas em situações degradantes e muito sujas. Duas delas terão escapado depois de o padrasto ter tentado atacá-las com uma faca, partindo um vidro. A terceira, de 17 anos, foi mais tarde encontrada trancada num quarto.
As autoridades avançaram que todas apresentavam sinais de malnutrição e que não tomariam banho há pelo menos quatro ou seis meses. Um dos responsáveis da polícia de Tucson, Mike Gilooly, explicou aos jornalistas que as raparigas foram mantidas em zonas distintas da casa e que não se viam há vários meses. Um relatório citado pela CNN indica também que as crianças só seriam alimentadas uma vez por dia e que teriam de utilizar os closets dos quartos como casa de banho.
Durante a conferência de imprensa, um jornalista que contactou a avó das crianças disse que a senhora garantiu que o caso estava a ser exagerado, garantindo que estudavam a partir de casa apenas por os pais não gostarem da vizinhança. Já a AFP escreve que uma tia da mãe das raparigas nunca as deixava vir ao telefone, ocultando a situação. Chame Bueno, em entrevista a esta agência noticiosa, disse que a sobrinha dizia viver em San Diego, quando na verdade afinal estava em Tucson e adiantou que o padrasto era uma pessoa violenta mas que como pagava as contas a relação se mantinha.
Aliás, mesmo entre os vizinhos ouvidos pelo jornal Arizona Daily Star, há várias versões contraditórias: uns dizem que não sabiam que a casa era habitada, outros que não sabiam da existência das crianças e outros que ouviam as meninas a brincar à noite.
Mike Gilooly contrapôs que as divisões foram reforçadas com formas de melhorar o isolamento acústico e com um sistema de vigilância que funcionava 24 horas e que as próprias autoridades, quando entraram em casa, tiveram dificuldade em fazer-se ouvir e em chegar à terceira rapariga. “Todos os seus movimentos eram controlados. Quando, onde e como é que iam à casa de banho e quando eram alimentadas”, adiantou, por sua vez, o chefe da polícia de Tucson, Roberto Villasenor.
Em todos os quartos havia música a tocar constantemente para se sobrepor aos eventuais barulhos que fizessem e foram colocadas toalhas em todas as frechas de portas e janelas.
Casal detido e acusado
O padrasto, Fernando Richter, de 34 anos, e a mãe, Sophia Richter, de 32 anos, foram detidos e acusados de ofensas físicas e psicológicas, assim como rapto. O padrasto foi também acusado de abuso sexual. A música constante foi considerada uma forma de tortura para a acusação, diz a CNN.

As raparigas foram entregues aos serviços sociais de protecção de menores. A polícia está agora a completar a investigação ao caso através do exame a um diário que a irmã mais velha terá escrito durante o cativeiro. Estão também a tentar perceber se foram à escola e caso tenham ido quando onde foram e qual foi a última vez.
O caso surge uma semana depois da polícia britânica ter anunciado a detenção de um homem e uma mulher, ambos de 67 anos, suspeitos de terem mantido três mulheres cativas e em condições de escravidão durante décadas. As três mulheres – uma malaia de 59 anos, uma irlandesa de 57 e uma britânica de 30 – foram libertadas e estão “altamente traumatizadas”, de acordo as autoridades, que revelaram poucos pormenores sobre o caso.
A situação evoca também outras notícias de casos de longos sequestros como o das três mulheres raptadas por Ariel Castro, em Cleveland, Ohio, também nos Estados Unidos, e cujo sequestrador se terá entretanto enforcado na prisão – apesar do advogado de defesa insistir na tese de assassinato. Ou o de Elisabeth Fritzl que foi mantida em cativeiro pelo próprio pai numa cave na Áustria desde os 18 anos, durante 24 anos, ao longo dos quais teve sete filhos do progenitor.

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