quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

'Sinto nojo de mim mesma', afirma jovem síria vendida para se casar Aos 16 anos, Gazhal conta que sofreu abusos no primeiro casamento. Centenas de meninas sírias são vendidas a homens muito mais velhos.
No norte da Jordânia, a poucos quilômetros da fronteira com a Síria, o campo de Al-Zaatari recebe cerca de dois mil refugiados por dia. São famílias que deixam o país de origem sem levar quase nada e procuram um espaço para suas barracas ou trailers doados pela Arábia Saudita, Catar, Kuwait ou pelo sultanato de Omã. As 150 mil pessoas que vivem no espaço – uma área equivalente a 530 campos de futebol no meio do deserto – perderam pelo menos um parente na guerra civil síria. “Fugi da Síria devido à terrível violência da guerra e do regime de Assad. Vim para cá para fugir do caos e da insegurança. Sou um ser humano normal e só quero ter uma vida normal em uma casa decente”, conta o dirigente do campo de refugiados, Maruan Oslan. Com sete milhões de habitantes, a Jordânia abriga mais de 500 mil sírios, dois milhões palestinos e 750 mil iraquianos. A maioria da população de Al-Zaatari é composta por crianças e adolescentes. Alguns vão às escolas financiadas pela ONU e pela União Europeia, mas há muitos, especialmente meninas a partir dos 13 anos, que foram forçados a abandonar as salas de aula. Com o grande número de casos de abuso sexual, algumas – mesmo não sendo muçulmanas praticantes – preferem cobrir o corpo todo, deixando aparecer apenas os olhos sob o véu para não chamar a atenção. É uma forma de se sentirem mais respeitadas e protegidas. Pais vendem filhas para se casar Mesmo assim, centenas de meninas sírias entre 13 e 16 anos são forçadas ao casamento com homens muito mais velhos. Elas são vendidas para homens de fora do campo, normalmente do Golfo Pérsico. Os pais recebem entre US$ 2 mil e US$ 5 mil, dependendo de fatores como a beleza e a virgindade das jovens. Os noivos em potencial podem escolher as meninas por foto e, se pagarem uma taxa de US$ 50, têm o direito de ver o rosto que elas escondem sob o véu. O encontro é marcado em um local público e, se o homem gosta da menina, a transação é fechada. “Não lhes importa a nacionalidade do noivo, a idade, o aspecto físico. Tudo o que lhes importa é se tem dinheiro ou não. Isso vale para as jovens e para as mais velhas”, conta a negociadora Um Muhamad, que vendeu mais de mil meninas em 18 meses. Ela diz que recebe ligações tanto de famílias querendo vender as filhas quanto de homens interessados em uma esposa.

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