O bacalhau roubado
Foi hoje preso em Vila Nova de Famalicão um homem de 37 anos, depois de ter sido apanhado em flagrante de delito a roubar duas embalagens de bacalhau no valor total de 13,98 euros.
Pobre homem, afinal de contas apenas queria apenas chegar a casa com duas embalagens de bacalhau, uma vez que tinha prometido à mulher que o jantar seria bacalhau à zé do pipo (um prazer burguês, nos dias de hoje). O que ele não estaria certamente à espera era de ser apanhado pela PSP que, surpreendentemente, parece andar bastante preocupada com estes delitos menores que, obviamente, são indesculpáveis e devem ser punidos. Surpreende-me, no entanto, que outras entidades criadas supostamente em prol do bem-comum, não protejam o português comum residente fora de Lisboa de outros roubos: nomeadamente, dos 18 mil euros gastos anualmente em arranjos florais para o Conselho de Ministros. Tenho ligeira suspeita que o dono desta empresa seja, no entanto, um qualquer membro dos três partidos que nos vêm desgovernando desde 1974. Nada de surpreendente.
Compreendo que a PSP tenha prendido este senhor: afinal de contas, aquilo que ele andava a fazer era roubar o Estado. Vejamos: as barreiras alfandegárias, dependendo da proveniência do bacalhau, asseguram lucro à administração central; se o barco fosse Português, o empresário dono do barco tinha certamente o seu navio registado em Portugal, pelo que está a ser taxado absurdamente para se manter no activo e empregar os seus trabalhadores; se o trabalhador que o pescou fosse Português, está também certamente a descontar para a segurança social e a pagar os seus impostos, pelo que desta forma o Estado está também a lucrar; o estabelecimento comercial de venda do bacalhau também paga os seus impostos; no final, como o bacalhau é um artigo de luxo, ainda é taxado a 23%. Segundo as minhas contas, pelo menos 7euros deste bacalhau seriam do Estado.
Compreendo a frustração deste senhor. Afinal de contas, também ando a ser roubado todos os dias.
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