"LEITURA OBRIGATÓRIA"
Deitámos-nos na Linha do Comboio, ou Como se Destrói o País em Menos de 40 Anos
“INEPTOCRACIA, um sistema de governo onde os
menos capazes de liderar são eleitos pelos menos capazes de produzir e onde os
membros da sociedade aparentemente menos capazes de sustentarem a eles próprios
ou terem sucesso, são recompensados com bens e serviços pagos pela riqueza
confiscada a um número cada vez mais diminuído de produtores”. - Autor
desconhecido
Com a entrada em vigor da Constituição da
República Portuguesa [1],
em 25 de Abril de 1976, deu-se início a um novo ciclo da vida política
nacional, a que se pode dar o nome de III República.
Este novo regime teve (e tem) sobre si, a
herança de 848 anos de História (1128-1976), do Estado-Nação do país dos
portugueses, chamado Portugal.
Nos 37-39 anos decorridos (os dois anos
decorridos entre o 25 de Abril e a aprovação da CR, podem ser considerados como
um interregno), o novo regime desbaratou quase toda a herança patrimonial que
restava e comprometeu, catastroficamente, aquela que sobreviveu às desgraças
entretanto ocorridas.
Vamos sinteticamente provar porquê, já
que não é possível sintetizar o como.
Em 1974 Portugal espalhava-se por quatro
continentes e quatro mares, possuindo um crescimento económico e social que levava
décadas, estando a crescer a 7% ao ano, na Metrópole - e mais em Angola e
Moçambique, números de 1973.
O escudo era das moedas mais fortes do mundo
(provavelmente a sexta mais forte), havia pleno emprego[2],
paz social (com um ou outro atentado e manifestação hostil, provocado pela luta
do PCP, uns farrapos esquerdistas e o que sobrava da oposição dita democrática,
oriunda da 1ª República, contra a ordem vigente); inflação controlada e com um
melhoramento paulatino do que se chama hoje de estado social.
Tudo feito com parcimónia, tentando garantir
mais-valias futuras e sustentabilidade nos investimentos (ou seja, não gastando
mais do que se produzia nem fazendo dívidas que não pudessem ser pagas).
Ao contrário do que a desonestidade
intelectual e política proclama – já não se pode apelidar de ignorância – as
relações internacionais que nos eram fundamentais estavam todas garantidas e
equilibradas.[3]
E ninguém dava ordens ao governo português ou
dizia o que tínhamos que fazer…
Nas vésperas do 25 de Abril de 74, nos cofres
do Banco de Portugal, contabilizavam-se cerca de 850 toneladas de ouro e 50
milhões de contos em divisas.
Era o que se pode designar por “uma pipa de
massa”, fruto de uma administração financeira séria e responsável, que
remontava a 1928.
Tudo o que digo são factos incontroversos que
nenhuma afirmação ou crítica, feita por qualquer entidade ou força política,
pode desmentir.
Já agora talvez seja útil recordar, a quem se
faz esquecido ou desentendido, que tudo se conseguiu enquanto se lutava vitoriosamente
em três frentes de guerrilha, separadas por milhares de quilómetros, o que teve
origem e suporte, nas forças comunistas e no capitalismo e neocolonialismo
internacionalista e apátrida.
Infelizmente apoiados por uns quantos
renegados portugueses indignos desse nome.
Estes três teatros de operações mobilizavam
um total de 230.000 homens em todo o espaço português.
Não era coisa (nem custo) de somenos!
Realizado o Golpe de Estado e perdido, no dia
seguinte, o controlo dos acontecimentos por quem o realizou, assistiu-se a um
cataclismo quase cósmico, da Nação Portuguesa.
Em pouco mais de um ano sofremos a maior
derrocada militar e desastre político de toda a nossa História, em termos
militarmente indecorosos, e moral e politicamente vergonhosos, que originou a
perda de cerca de 95% do território e 60% da população. A maior parte desta
população entrou em guerra civil e depredações de tal ordem, que se prolongaram
por décadas provocando um número de mortos nunca contabilizado, mas que se
estima tenha ultrapassado o milhão de almas.
Até hoje o discurso político, a maioria dos
“média” e os livros escolares, cobriram tudo isto com as mais despudoradas
mentiras.
Acantonados nos torrões europeus que nos
restaram – que iam do Caia ao Corvo, com muito mar de permeio, a que logo
virámos as costas - logo se tentou despachar Macau para a tutela da China, como
se tratasse de um apêndice incómodo, e se abandonou Timor à sua sorte.
Afastado o espectro da guerra civil – por uma
unha negra –, em 25 de Novembro de 1975, procurou-se uma estabilidade política,
que verdadeiramente até hoje nunca houve, e em três ou quatro anos fez-se
esfumar por irresponsabilidade e demagogia, a totalidade das divisas e parte
das reservas de ouro (hoje reduzidas a 382,2 toneladas, mas “hipotecadas” ao
euro); esfrangalhou-se a economia, indisciplinou-se e desequilibrou-se a
organização social e as relações de trabalho.
Não contentes com isto endividou-se o país de
tal modo que, em 1978, já se teve que recorrer ao muito pouco filantrópico FMI,
para se evitar a bancarrota, operação que se repetiu em 1983.
A grande tábua de salvação vislumbrada era a
CEE – com quem Portugal já tinha firmado um acordo muito favorável, em 1973 – e
para onde conseguiu entrar em 1986.
Mais uma vez aquilo que se veio a revelar
serem “fumos da India”, nos fez engalanar em arco, baixar as guardas e descurar
o bom senso.
Começou a chover dinheiro a rodos – cerca de
dois milhões de contos/dia, de que nunca se apresentaram contas – mas, mesmo
assim, continuou-se a aumentar a dívida.[4]
É certo que o País melhorou muito em termos
materiais (em termos morais e espirituais é outra conversa), mas a maior parte
dos fundos não foi investido em mais–valias reprodutivas, fora aqueles que
foram desviados para cevar os apetites consumistas de quem lhe podia deitar a
mão.
Tudo isto, porém, feito à conta de muitas
opções de desenvolvimento erradas sob o ponto de vista da Estratégia, pela
destruição de grande parte do sector Primário e Secundário e da transferência
de fatias da economia e finanças para mãos estrangeiras e de cada vez mais
funções de soberania para essa entidade oclusa e indefinida que tem sede em
Bruxelas (e não só).[5]
A fronteira do desnorte e a abdicação
política ocorreram, primeiro com a assinatura do Tratado de Maastricht, em 7/2/1992,
depois com a entrada no euro, em 1/1/1999, finalmente com a assinatura do
Tratado de Lisboa, em 13/12/2007.
Por último, e mais grave de tudo, quando na
sexta revisão constitucional (24/6/2004), se passou o primado das leis para
Bruxelas (ver artigos 7 e 8).
Estas opções, a todos os títulos erradas,
agravadas com a evolução do directório político da UE para Berlim, em
simultâneo com a grave crise financeira internacional, conduziram o nosso país
para uma esquina da História, mais grave do que aquela que precedeu a entrada
do Duque de Alba e do Marquês de Santa Cruz, em Lisboa, no fatídico ano de
1580.
Parece que anda toda a gente a dormir na
forma!…
Em súmula, as forças políticas e sociais que
influenciaram a actuação dos órgãos de soberania nestas últimas décadas,
conseguiram desbaratar quase toda a riqueza financeira que herdaram (e era
muita), desmembraram a maior parte do aparelho produtivo português; alienaram
património; estão a destruir o estado nacional e a subverter a população através
da descaracterização acentuada da sua matriz portuguesa; pela instalação do
“relativismo moral”[6]
e pela destruição progressiva das principais instituições que enformavam a
Nação.[7]
E, por último, fizeram entrar a sociedade
portuguesa num processo de suicídio colectivo, através da implantação de uma
demografia negativa, aumento algo descontrolado da imigração e agora obrigando
ao aumento da emigração por via do desastre no emprego.[8]
Em síntese a Terceira República não conseguiu
criar um escudo/euro de riqueza, ao mesmo tempo que conseguiu condenar a
população à pobreza e escravidão e domínio estrangeiro, pois não só não será
possível pagar a dívida, tão pouco os juros da mesma, mantendo os políticos e
as políticas actuais.
Não contentes com este cenário, os defensores
do “status quo”, que com maiores ou menores responsabilidades, foram os
causadores do descalabro actual e pelo bloqueamento do sistema político,
apresentam-se agora como putativos próximos salvadores do buraco que criaram.
E promovem “congressos”; arregimentam apoios;
mobilizam “Aulas Magnas” e outros recintos; multiplicam os comentários e acções
de rua; atacam-se e recriminam-se mutuamente; apelam a greves, alertam
(ameaçam?) para possível violência, etc., sempre no intuito do “passa culpas” e
de se manterem ou ganharem os favores da governação, já que sobre quem detém as
alavancas do Poder, ninguém sabe nem ninguém controla (Poder, coitados, que
despacharam alegremente para estranhos, que não influenciam minimamente).
É preciso ter muita lata, muita falta de
vergonha e pouca consciência, se é que alguma.
Deitaram-nos na linha do comboio e agora este
passa-nos por cima.
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