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A praxe é um nojo
Posted: 29 Jan 2014 06:16 AM PST
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A praxe é um nojo, toda ela, das suas formas mais violentas às aparentemente inofensivas.
Os esforços que alguns dirigentes estudantis, e infelizmente também alguns reitores e presidentes de conselhos directivos, têm feito para distinguir as praxes "boas" das praxes "más" são tão ridículos quanto vagos e abstractos.
Nenhum arriscou dizer expressamente o que é aceitável e o que não é. Sabe que assim evita o debate e com sorte o tempo passa, o assunto sai da agenda mediática e tudo voltará à barbárie do costume.
Toda a praxe assume e aceita uma hierarquia sem justificação e que não cumpre qualquer função, é feita em nome dos estudantes do primeiro ano porque promete a integração mas apenas serve para satisfazer os instintos mais primários e animais dos estudantes mais velhos.
Numa sociedade saudável ninguém precisa de ser maltratado para se integrar ou de ser submisso para ser aceite; fosse realmente a integração o objectivo dos estudantes mais velhos e as actividades a realizar seriam a negação da humilhação e da desigualdade entre alunos.
As praxes apelam ao pior do ser humano, quando a recepção ao novo aluno, pela primeira vez longe da sua terra natal e num ambiente desconhecido, exigiria as melhores competências e qualidades sociais dos estudantes mais velhos. Temos todos - estudantes, professores, pais, políticos e comunidade em geral - sido demasiado tolerantes e complacentes com estas práticas.
Uma sociedade decente não convive pacificamente com os espectáculos degradantes a que assistimos dentro das universidades mas também no espaço público. Uma sociedade decente combate activamente a humilhação, o exercício do poder pelo poder, a hierarquia injustificada e a violência - seja ela física, seja verbal ou psicológica.
Texto de Pedro Nuno Santos
Escreve à quarta-feirano jornal i
Publicado dia 29 janeiro 2014
http://www.ionline.pt/iopiniao/praxe-nojo
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Praxes
Posted: 29 Jan 2014 06:06 AM PST
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Se há algo que demonstra a degradação em que tem caído a nossa sociedade é a proliferação de praxes académicas, a pretexto de uma tradição que não tem qualquer cabimento, especialmente em universidades que surgiram no século xx.
Na verdade, as praxes académicas, pretendendo ser rituais iniciáticos, são efectivamente exercícios de sadismo e de humilhação, que nunca deveriam ter lugar num Estado de direito. Invocando uma tradição académica inexistente, praticam-se a coberto das praxes verdadeiras violações dos direitos humanos, por vezes com consequências trágicas para os estudantes envolvidos.
O que mais choca nas praxes é a total complacência das autoridades académicas e dos responsáveis políticos, que têm transigido com essas práticas em lugar de as reprimir severamente. Não é aceitável que os claustros universitários, em lugar de serem destinados ao ensino e à investigação, sejam utilizados como coliseus onde se praticam verdadeiros massacres de estudantes.
E muito menos é aceitável que as universidades, em lugar de acautelarem a segurança física dos seus alunos, aceitem pacificamente que os mesmos sejam submetidos a práticas de risco para a saúde e a própria vida.
Em 1727, D. João V determinou que "todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos". Sigam o exemplo do Magnânimo e decretem desde já medida semelhante. Vão ver como estes abusos acabam num instante.
Texto de Luís Menezes Leitão
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Escreve à terça-feira
Publicado no jornal i dia 28 janeiro 2014
http://www.ionline.pt/iopiniao/praxes
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