Líbia
Aliado de Kadhafi conta como foram os últimos dias do ditador
Chama-se Huneish Nasr e foi o último serviçal e amigo de Muammar Kadhafi. Esteve com ele nos dias derradeiros, até ao momento da sua captura. Agora está preso, em Misrata.
Fotografia: EPA
Tem 60 anos e esteve 30 ao serviço de Kadhafi. Era o seu motorista em Trípoli. Via-o todos os dias, admirava-o, achava-o um exemplo a seguir. Cumpria, criteriosamente, as suas ordens. E era-lhe fiel. Foi-o até ao último segundo.
Nunca pensou ver o seu presidente, oriundo da sua tribo, capturado e morto por milhares de rebeldes líbios que formaram o Conselho Nacional de Transição (CNT) e que libertaram a Líbia de uma ditadura de três décadas.
Ao inglês Guardian, Nasr relembrou os momentos que antecederam a detenção de Muammar Kadhafi. “Os revolucionários estavam à nossa procura. Ele não estava assustado, mas também não sabia o que fazer. Foi a primeira vez que o vi assim.”
“Estava estranho”, acrescentou depois.
De porta em porta, de buraco e buraco, de esconderijo em esconderijo, encontraram-nos, aos dois. Na terra natal. Sirte.
Estavam escondidos num túnel de esgoto. Muammar Kadhafi, ao contrário do que a imprensa escreveu, não estava “sozinho”. Estava com o seu mais antigo aliado.
Huneish Nasr conta que Kadhafi estendeu as mãos, rendeu-se. Atiraram-no ao chão, revistaram-no, bateram-lhe. Queriam vingar-se.
Nasr, também ele sovado, ficou surdo de um ouvido e está agora detido no interior de um cela improvisada num quartel militar de Misrata.
Ao repórter do Guardian, refere que a imagem que ficou presente na sua memória é a de um "enxame": incontáveis rebeldes à volta do seu coronel.
Os membros do Conselho Nacional de Transição tinham obtido a mais gratificante das suas vitórias: a captura de Kadhafi e um "passaporte" para a liberdade.
As Nações Unidas estimam que tenham morrido cerca de 25 mil pessoas entre março e outubro, na Líbia, na sequência da guerra civil.
Os outros aliados de Kadhadi fugiram ou morreram. “Se algum aliado a Kadhafi ainda estiver vivo, eu não sei onde estará ou o que lhe terá acontecido”, assegura Nasr.
Huneish Nasr passou os últimos cinco dias do cerco do CNT ao lado do seu coronel, saltando de casa em casa, em busca de um abrigo mais seguro.
Não o via desde março, altura em que o ditador lhe disse para se reformar e regressar a Sirte. Reencontrou-o em setembro e, como não se tinha aposentado da admiração que nutria pelo seu presidente, esteve ao seu lado até à sua queda.
Nunca pensou que o homem que se habituou a ver como infalível fosse alguma vez derrotado.
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