HISTÓRIA DE PORTUGAL NA TAILÂNDIA – NOS MEANDROS DA DIPLOMACIA
Introdução
Entrei ao serviço da diplomacia por acidente. Não meti cunhas nem lambi botas a ninguém. Assim foi, desde de 1978 (34 anos) estou ligado à Embaixada de Portugal em Banguecoque, quer como utente, mais tarde “biscateiro”, funcionário assalariado e triunfalmente entrei no funcionalismo, público, do Estado Português.
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Mas durante a minha permanência de 24 anos muito se haja passado. Servir a diplomacia foi uma experiência, minha, do “arco-da-velha” e penetrei num mundo, fechado, que poucos os portugueses conhecem.
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Este mundo, estranho, em que os diplomatas se consideram elites, funciona o oportunismo, a hipocrisia, o cinismo, a incompetência, a mentira, a intriga, o apunhalamento pelas costas, a feitura de bodes expiatórios, o peculato, a negligência, a vaidade de ser e não valer nada e entre outras coisas a “mariquice” a céu aberto.
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De facto por cerca de 9 anos não tive assim, assim, problemas de maior e só os viria a ter de quando um funcionário, tailandês (da manutenção das instalações da missão) me informou: “ela (embaixatriz) meteu, entre vários bens do Estado Português, no contentor os plintos da arcada da residência”.
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Ora aqueles plintos são (creio que ainda residem) peças chinesas, valiosas, vindas de Macau no final do século XIX.” Os plintos viajaram a Portugal e fi-las regressar a Banguecoque e daí, por anos, fui, secretamente, tomado à perna por 4 embaixadores, não me lembro diplomatas “noviços” me fizeram a vida cara, sem eu saber aquilo se passava à minha volta.
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Era assim, eu, um “gajo” a ter muito cuidado porque era anti-gamanço.
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Aguardem o próximo capítulo no próximo 1 de Agosto de 2012.
José Martins
. 1º Episódio
A história faz-se contando-se e outros que venham, depois de mim e que lhes sirva, como documento, para transmitir aos vindouros.
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Fui eu, ainda vivo, o português no terreno, que mais se dedicou à história de Portugal na Tailândia.
Fui eu, ainda vivo, o português no terreno, que mais se dedicou à história de Portugal na Tailândia.
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Em mais de três décadas estive envolvido na história e nos locais da mesma. Estive em bairros, genuinamente, portugueses, em Banguecoque, cujo estes, quando os conheci, eram praticamente como de quando foram, implementados, no final do século XVIII.
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O espaço “Ban Portuguet”, na velha, capital do Reino do Sião, Ayuthaya, onde os portugueses se instalaram no começo do século XVI, conheço-o como a palma de minha mãos e facto, principal, desta história.
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Vasculhei papelada antiga, na Chancelaria da Missão fiz cópias digitalizei-as, captei milhares de imagens em locais, onde viveram os portugueses, suas mulheres tailandesas e filhos lusodescendentes, que hoje, alguns, já não existem.
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Tudo fiz por amor a uma causa e nunca em busca de um real ou procura de mordomias do Poder. Certos representantes de Portugal, enviados para a Tailândia, que eu servi no meu melhor não me trataram com a devida decência...
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Partiram, depois da missão e rotina diplomática, da Tailândia, sem deixarem obra. A que foi realizada antes por outros destruiram-na!
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Os vicios, diplomáticos de outrora, mantiveram-se vigentes onde o elitismo prevaleceu como se Portugal ainda fosse o grande empório das especiarias da Europa do século XVI.
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Lá irei, lá irei contar não só a história de Portugal na Tailândia de 501 anos como assim revelar os “arremessos” silenciosos e maldosos que pairaram sob a minha cabeça durante 13 anos. A verdade, como o azeite, vem à tona da água.
O COMEÇO DA HISTÓRIA DE PORTUGAL NA TAILÂNDIA
A missão diplomata de Portugal em Banguecoque, Tailândia é a mais antiga estabelecida na Ásia e Oriente. No presente com 192 anos de existência e no mesmo lugar na margem esquerda do grande rio Chao Praiá na cidade de Banguecoque.
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Para que o leitor fique elucidado, preliminarmente, acerca da história de Portugal na Tailândia escolhemos um trecho do eminente homem de cultura e pouco lembrado historiador, Dr. Joaquim Campos, Cônsul de Portugal, na Tailândia 1936-1945 que nos diz na monografia: “Early Portugueses Accounts of Thailand – Antigos Relatos da Tailândia” Câmara Municipal de Lisboa – 1983.
“ Vasco da Gama com apenas 28 anos foi incumbido pelo Rei D.Manuel I de levar a bom termo a decoberta do Caminho Marítimo para a Índia que viria a completar com êxito em 1498”
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“ Em 1498 Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia e desembarcou na costa de Calecute. Este acontecimento, com a sua enorme influência, viria a transformar toda a história comercial e militar do Oriente desde Jeddah até ao Japão.
“ Em 1498 Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia e desembarcou na costa de Calecute. Este acontecimento, com a sua enorme influência, viria a transformar toda a história comercial e militar do Oriente desde Jeddah até ao Japão.
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O próprio Vasco da Gama não navegou para além dos mares da Índia, mas a sua expedição foi descrita num Roteiro do Mar, escrito por Álvaro Velho, em que reunidas informações não só das terras por ele visitadas mas também dos países para além de Calecute.
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Acerca do Sião, a que, por informações dadas pelos Árabes, ele chamou “Xarnauz”, foi-lhe dito que o Rei, que na altura era Rama Tibodi II, podia reunir 20.000 homens de combate, 4.000 cavalos e 400 elefantes de guerra.
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No que diz respeito aos seus produtos, ele só fala no benjoin e aloés que os Árabes transportavam para outros países. Diz mais adiante que o Rei do Sião era Cristão e o seu Reino era de Cristãos.
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Também fala de Tenassarim como Reino Cristão, cujo Rei podia reunir mil guerreiros e que possuia 500 elefantes. Na realidade, obviamente, os Árabes não informaram Vasco da Gama de que o povo de Sião era crsitão, mas que eles seguiam uma religião diferente do Islão e que veneravam imagens: em consequência do que Gama se convenceu de que o Sião seria um reino Cristão pois os europeus, embora bastantes conhecedores do Islamismo, muito pouco sabiam, naquela época, sobre o Budismo e o Hinduismo.
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A expedição de Diogo Lopes Cerqueira a Malaca em 1509 forneceu informações gerais sobre a Tailândia, mas o contacto com Portugueses propriamente dito, foi estabelecido depois da conquista de Malaca em 1511.
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“De regresso, chegado a Caliate teve conhecimento da injustiça praticada por D. Manuel I ao nomear o seu sucessor sem lhe comunicar e em Dabul veio a saber que o substituto era o seu inimigo Lopo Soares de Albergaria e que foi um rude golpe para o seu brio e a sua débil saúde. A doença agravou-se ainda mais quando soube que este já se encontrava na Índia e desolado, o grande capitão exclamou ´mal com homens por amor de El-Rei e mal com El-Rei por amor dos homens. Bom é acabar´. Seguidamente, redigiu uma carta a D. Manuel I a pedir para olhar pelo seu filho em troca do serviço prestado e na noite de 15 para 16 de Dezembro de 1515 à vista de Goa, que ele tanto amava, morreu, desaparecendo assim um dos gigantes dos mares e da epopeia portuguesa”
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Mesmo antes de terminar a conquista, Albuquerque enviou a Ayuthaya, como embaixador ao Rei do Sião Rama Tibodi II, Duarte Fernandes que conhecia a Malásia muito bem tendo tomado esse conhecimento durante o seu cativeiro em Malaca.
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Ele fez a viagem num junco chinês e quando mandou informar que era o embaixador do Rei de Portugal, o Rei Rama Tibodi II ordenou a um capitão que, com duzentos “lancharas”, o fosse receber e após o desembarque foi levado em procissão ao palácio do rei.
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Centenas de pessoas de pessoas corriam as ruas para verem estas estranhas pessoas brancas, com grandes barbas, como dantes não tinham visto em Ayuthaya, O Rei recebeu o embaixador, sentado numa cadeira dourada instalada numa plataforma elevada, numa grande sala, ornamentada com colgaduras de brocado e acompanhado pelas suas mulheres e filhos que, com as damas da corte estavam sentadas à volta da plataforma, vestidas de seda e brocados e usando rica joalharia de ouro e pedras preciosas.
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Duarte Fernandes entregou ao Rei, como presente, uma rica espada cujo punho estava cravejado de joias, com a carta assinada por Albuquerque em nome do Rei de Portugal. O Rei tratou o enviado com grande cortesia, perguntou tudo sobre Portugal e sobre a captura de Malaca e exprimiu a sua grande satisfação pela perspectiva de punir o Rei rebelde de Malaca, que se considerava como um estado vassalo do Sião desde o tempo da Ramkamhaong embora tivesse rompido a sua submissão.
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O Rei mandou com Duarte Fernandes um embaixador siamês e como presentes, um anel em rubis, uma espada e uma coroa e a própria Rainha-Mãe mandou algumas braceletes com joias e três pequenas caixas de ouro. O enviado siamês foi recebido com as devidas honras e o comércio foi aberto com Malaca. A recepção simples mas digna desta embaixada contrasta estranhamente com cerimonial esmerado que caracterisou as embaixadas de Luis XVI a Phra Narai no século XVII e as formalidades rigorosas com que foram recebidos os enviados britânicos no século XIX.
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Albuquerque enviou, em 1511, um outro embaixador, António Miranda de Azevedo, e com ele Manuel Fragoso, que iria ficar no Sião, especialmente, encarregado de preparar para Albuquerque um relatório escrito sobre toda a matéria – mercadoria, roupas e costumes da terra e sobre a latitude dos portos. Manuel Fragoso permaneceu no Sião cerca de dois anos e levou seu relatório pessoalmente a Goa onde chegou na companhia dum embaixador enviado pelo Rei do Sião”.
José Martins
Continua – Próximo episódio em 8 de Agosto
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