É "moderadamente provável" que Arafat tenha sido envenenado com polónio
Ana Gomes Ferreira e Clara Barata
06/11/2013 - 17:18
A viúva do líder palestino diz se tratou de um "crime político". Israel desvaloriza as conclusões.
O corpo de Arafat foi exumado no ano passado Reuters
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Yasser Arafat
Os cientistas suíços que analisaram os restos mortais do líder palestiniano Yasser Arafat encontraram nos seus restos exumados um nível 18 vezes superior ao que seria normal do elemento radioactivo polónio. A sua análise aponta para que existam 83% de probabilidades de ter sido envenenado.
Apesar desta elevada percentagem de certeza, os cientistas que realizaram a investigação — a Al-Jazira teve acesso ao relatótio final — dizem que os dados apontam para uma "probabilidade moderada" de o polónio 210 ter causado a morte ao líder histórico palestiniano.
O relatório tem 108 páginas e foi redigido pelo Centro de Medicina Legal da Universidade de Lausanne. Diz que os níveis mais elevados de polónio foram encontrados na pélvis e nas costelas de Arafat, mas também na matéria da decomposição dos seus órgãos moles — é nestes que melhor se detecta o polónio.
O único caso conhecido (e provado) de este elemento radioactivo ter sido usado para matar alguém é o do espião russo Alexander Litvinenko, que morreu num hospital em Londres, a 23 de Novembro de 2006.
Não há outro caso conhecido de ingestão letal de polónio 210 por seres humanos, escrevem os cientistas no relatório, para além do de Litvinenko. "Mas o seu caso não foi descrito na literatura científica e as únicas características clínicas conhecidas [deste tipo de enveneamento agudo por radiação são as descritas nos media]." Não é por isso possível estabelecer um paralelo fidedigno entre o caso do russo e o de líder palestiniano, sublinham.
"Yasser Arafar morreu de envenamento por polónio", comentou para a Al-Jazira o cientista forense britânico Dave Barclay. O nível de polónio nas costelas de Arafat era 900 milibecquerels (a unidade de medida para radioactividade). Este valor indica que há vestígios entre 16 e 32 vezes os valores considerados normais, variando a norma de autor para autor, diz a Al-Jazira. Barclay está convencido de que se tratou de um assassínio. "Encontrámos a pistola fumegante que matou Arafat — disse —, mas não sabemos quem a disparou."
O documento, elaborado por uma equipa suíça, francesa e russa, examinou a causa de morte do líder palestiniano, que morreu a 11 de Novembro de 2004 (faz na quinta-feira nove anos). Mas não menciona se houve intencionalidade na contaminação por polónio, ou seja, não se debruça sobre outro tema a não ser a presença do polónio.
Yasser Arafat morreu num hospital militar francês, aos 75 anos. Foi transferido para ali de Ramallah, na Cisjordânia, depois de semanas a sentir-se mal. No dia 12 de Outubro de 2004, quatro horas após ter jantado, o palestiniano começou a ter náuseas, diarreia e vómitos. Os médicos palestinianos diagnosticaram-lhe gripe, mas por não melhorar foram chamados médicos egípcios para o observar.
Estes também não puderam fazer um diagnóstico e foi decidido enviar Arafat para França, onde também não houve um diagnóstico e onde morreu de acidente vascular cerebral hemorrágico. Apesar da falta de diagnóstico, não foi feita uma autópsia.
A tese de envenenamento foi rápida a surgir, com a estação de televisão Al-Jazira a realizar um trabalho de jornalismo de investigação — "What killed Arafat?" — que culminaria na exumação dos restos mortais, depois de a viúva do líder palestiniano, Suha Arafat, ter sido envolvida no processo. "Foi um crime político", disse esta quarta-feira Suha, após receber o relatório. "A minha filha e eu queremos saber quem fez isto", disse a viúva, citada pelo jornal The Guardian, defendendo que a Autoridade Palestiniana tem de agir para apurar a verdade. Pediu ainda que a investigação à morte do marido seja separada do processo de paz entre os palestinianos e os israelitas.
Em Israel, o Governo desvalorizou o relatório do laboratório suíço e deixou uma advertência. "Vamos assistir a uma nova ronda de acusações, mas os palestinianos que não pensem que nos vão acusar por isto", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ygal Palmor. Considerou os dados laboratoriais "não conclusivos" e pediu contenção à Autoridade Palestiniana. "Mesmo que tivessem encontrado vestígios de polónio que indicassem envenenamento, não há provas de que esse envenenamento tenha ocorrido. Há muitas perguntas que devem ser respondidas antes de a Autoridade Palestiniana começar a tirar conclusões."
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Sete Colinas
09:06
Quando se diz que Israel é um estado democrático, convém que se diga "moderadamente democrático", não? Dificilmente um país cuja existência assenta em questões religiosas poderá ser, verdadeiramente democrático.
Responder
BlogAmigodeIsrael1
Há 3 minutos
Absolutamente errado. Israel cumpre o Direito Internacional. É o povo nativo e a nação quadrimilenar. Já cedeu mais de 2/3 do seu território em troca da paz que os árabes nunca aceitaram. Essa é a vulgata da propaganda antissemita. O que acontece em Israel (como por exemplo no Japão ou na Índia) é que nação, etnia e religião, estão intimamente ligados. O Vaticano enquadra-se mais no que refere: um Estado assente em questões religiosas (nadac ontra, aliás).
Sete Colinas
09:01
E, no entanto, o Arafat era um palhaço, doente e fortemente contestado pelos próprios palestinianos, uma criatura já mole e até ingénua, cuja Autoridade Palestiniana agia muitas vezes contra a própria população. Que interesse tinham os israelitas em o matarem quando ele tinha cedido (consciente ou inconscientemente) perante os interesses de Israel? Arafat era o "presidente" de pouco ou nada e estava "preso" numa situação miserável. A sua morte acabou por ser um alívio para todos... Leiam o livro do Robert Fisk ("The war for civilization - The conquest of the Middle East"). Está lá tudo.
Responder
Luís Teixeira Neves
06:08
Cansado de tanto "amigo de Israel".
Responder
BlogAmigodeIsrael1
Há 34 minutos
Cansado de tanto admirador de terroristas, de tanto antissemita e de tanto desconhecedor da realidade e amante da propaganda antissemita.
Santo Ananás
Consultor , Lisboa
Há 21 minutos
Israel não tem "aterrorizado" os seus vizinhos? Chega a parecer um caso de "bullying".
João Júnior
06:08
É moderadamente provável que a viúva tenha razão.
Responder
Anónimo
04:23
Muito provavelmente, esta talvez seja, quem sabe, uma das maiores dúvidas do jornalismo ou talvez da política nacional da Palestina ou quiçá do mundo, estejam satisfeitas as condições para quem sabe a descoberta da verdade ou por outro lado do encobrimento total ou parcial dos factos completos ou incompletos da conjuntura noticiosa.
Responder
BlogAmigodeIsrael1
00:35
Todos os dias os radicais islamistas ceifam e desgraçam vidas em atentados pelo mundo fora. Todos os dias a população muçulmana sofre as agruras de regimes anti democráticos. A Imprensa de grande circulação nada diz. Prefere alimentar estas especulações absurdas, que radicam apenas no antissemitismo. A última coisa em que Israel estaria interessado era em fazer do mega terrorista egípcio um "mártir".
Responder
Quelhas
01:54
Hahaha, a ultima coisa que israel queria era que se descobrisse. Há uma pequena diferença.
Luís Teixeira Neves
06:00
Chamar "egípcio" a Arafat é...
HJ
08:11
,,,correcto: Arafat nasceu no Cairo em 1929. Foi no Egipto que viveu a maior parte da sua juventude e onde estudou. Tem a biografia disponível da página oficial do Prémio Nobel.
Pedro Costa
Há 55 minutos
A cartada do antisemitismo contra tudo o que não se mexe em apoio incondicional e acéfalo do estado de Israel já cansa. E creio que apenas prejudica a vossa causa.
BlogAmigodeIsrael1
Há 28 minutos
A referência ao antissemitismo «prejudica a causa de Israel»? É natural! A verdade por vezes é impopular. Não há antissemitismo? O Holocausto nem aconteceu, nem os judeus têm sido exterminados no mundo muçulmano, suponho... E de qualquer modo, Israel perde sempre, por falar ou estar calado, por agir ou estar quieto. O antissemitismo é imune à racionalidade. Mas o que intereess são os factos. E, como se vê, as pessoas falam sem os conhecerem. Nem sabiam que não existe nem nunca existiu nenhuma Estado ou nacionalidade «palestina» antes de o terrorista egípcio Arafat os ter inventado. Não estudam a História, apenas a propaganda.
Santo Ananás
Consultor , Lisboa
Há 18 minutos
Qualquer coisa que se diga de Israel e do seu povo que não seja lisonjeira é logo rotulada de anti-semita. Assim não dá. Esse complexo todo e o constante refúgio na sombra do Holocausto já enjoa. Aliás, acho que esse é um dos grandes problemas dos israelitas. Mas o "povo escolhido" não pode simplesmente chegar a um território e desalojar as pessoas à força, construir colonatos para reforçar essa purga (e à revelia de acordos internacionais) e ainda se dar ao luxo de se tornarem "racistas" tendo em conta o passado que tiveram.
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