Contas bancárias com depósitos sem explicação. Os salários, negócios e o património que Armando Vara e Lopes Barreira apresentam não chegam para justificar os milhares de euros que têm do banco.
O Ministério Público de Aveiro suspeita de que Armando Vara, ex-administrador do BCP, e Lopes Barreira, dono da Consulgal, branquearam dinheiro nos últimos anos e cometeram crimes de fraude fiscal. A suspeita decorre da análise às contas bancárias e da verificação dos depósitos feitos nos últimos dois anos.
Armando Vara e Lopes Barreira depositaram muito mais do que declararam ganhar como gestores, e as entradas das verbas são consideradas suspeitas. As perícias financeiras estão incluídas no processo ‘Face Oculta’ e foram consultadas pelo CM. No caso de Armando Vara foram detectadas três contas da Caixa Geral de Depósitos, e não do banco que o próprio administrava, o BCP. Só duas é que têm depósitos elevados, sendo que na primeira, entre 1 de Janeiro de 2008 e 31 de Janeiro de 2010, foram creditados998 948 euros. Nessa mesma conta registaram-se em igual período de tempo débitos de 761 389 euros.
Na outra conta, as autoridades detectaram depósitos ainda mais elevados. Foram creditados 1 278 310 euros, enquanto os débitos chegaram aos 1 140 247 euros.
Os vencimentos declarados por Armando Vara em igual período de tempo não sustentam a entrada do dinheiro. Em 2008, o ex-ministro disse ter recebido 672 037 e, em 2009, 547 471.
Quanto a Lopes Barreira, a situação ainda é mais flagrante. O empresário, que tem apenas uma conta no BCP, declarou de vencimentos, em 2008, 151 mil euros e, no ano seguinte, 190 mil. No mesmo período de tempo entraram nas suas contas 1.177 milhões de euros, sendo que desses os peritos financeiros dizem ser apenas 159 mil euros de vencimentos. Há ainda dois depósitos que as autoridades não conseguiam esclarecer. Em 2008 e 2009 há duas transferências para as contas do empresário de 242 mil euros, um montante superior até ao seu vencimento no mesmo período de tempo.
VARA TENTOU JUSTIFICAR ENRIQUECIMENTO
Armando Vara alegou no inquérito que vendeu uma casa por cerca de meio milhão de euros, mas as autoridades consideram que se tratava de um negócio suspeito, tendo mais que o ex-ministro continuou a viver no apartamento que disse já ter sido vendido.
O administrador do BCP também declarou de incrementos empresariais 290 mil euros, mas as autoridades fizeram as contas. O resultado prova que, mesmo quando somados todos vencimentos entrados nas contas, fica ainda muito longe dos mais de dois milhões que circularam no mesmo período.
GODINHO MUITO PRÓXIMO DE ARMANDO VARA
Manuel Godinho e Armando Vara tinham uma relação muito próxima. Entre Fevereiro e Julho de 2009, encontraram-se pessoalmente oito vezes. Estes encontros que a investigação detectou realizaram-se nas instalações do Millennium BCP, em Lisboa e no Porto, bem como em restaurantes e na casa do sucateiro, em Ovar, onde almoçaram. Manuel Godinho comprou até um telemóvel só para falar com Armando Vara de forma a garantir o sigilo das conversas.