O primeiro amor acontece na adolescência, mas nem sempre tem um happy end
“Bate, bate coração! Louco, louco de ilusão! A idade assim não tem valor. Crescer,vai dar tempo p'ra aprender; Vai dar jeito p'ra viver… o teu primeiro amor.”, assim cantava Carlos Paião nos anos 80 o seu sucesso “Cinderela” a propósito do amor na adolescência.
De facto, não há melhor forma de o definir. O coração começa a bater, primeiro devagarinho, depois mais depressa. Prolongam-se as horas em frente ao espelho. Os brinquedos deixam de ter graça e os ténis ganham importância nas cartas ao Pai Natal, em quem já não acreditam, mas alimentam a esperança dos pais que vivem na ilusão do “ não-cescimento”.
E se primeiro estranham os sintomas - dói-dói não é de certeza! - rapidamente se apercebem que poderá ser “aquilo” que uniu a Fiona e o Shreck no grande ecrã.
Não tem nada que enganar. É o Primeiro Amor e não tem data, hora ou local para acontecer. Aparece num ápice e num ápice voa para outras paragens.
Teresa Paula Marques, psicóloga infantil, explica o fenómeno: “Em regra o primeiro amor surge durante o período da adolescência, já que coincide com a primeira experiencia de envolvimento afectivo” e acrescenta “É muito comum que as pessoas perguntem às crianças se já têm namorado. Então recebem respostas do tipo “sim, já tenho”, ou “tenho várias”. Isso não quer dizer que exista, de facto, uma namorada, mas sim uma amiga especial com quem gostam mais de brincar, ou acham mais bonita. O surgimento da paixão só passa a ser possível na puberdade ou já na adolescência”.
Na realidade e embora não possamos precisar uma idade para os rubores começarem a surgir acompanhados de sonhos e de beijos roubados, a adolescência e a Primavera são factores que podem acelerar todo o processo.
Graziela Zlotnik Chehaibar, terapeuta familiar, refere no seu site que “Esta mudança de comportamento - das bonecas e carrinhos para os recados apaixonados - resultante do primeiro amor acontece, geralmente, entre os 9 e os 12 anos, justamente quando a cabeça e os hormonas dos pré-adolescentes estão a "fervilhar".
Pais, para que vos quero
A pesar de, na maioria dos casos, os pais relevarem o caso – a não ser que assuma posições extremas - a docente da universidade de São Paulo adverte que “o primeiro amor exerce um papel fundamental na forma como estes pré-adolescentes irão se relacionar com as pessoas no futuro”. Seja platónico ou real, os progenitores não devem abster-se desta fase de desenvolvimento do seu filho, mas também não devem mostrar demasiado envolvimento ao ponto de querer saber todos os seus segredos. Gary Chapman, autor da obra “As Cinco Linguagens do Amor das Crianças” elucida sobre esta matéria: “Assim como os adultos, os adolescentes também precisam desesperadamente de sentir que são amados. Mas comunicar essa verdade aos nossos filhos pode ser um grande desafio, porque as pessoas dão e recebem amor de formas distintas e muitas vezes conflituantes.
Pesquisas demonstram que os pais exercem a influência mais significativa na vida de um adolescente. Segundo o escritor, o amor é a porta dessa influência, enunciando assim as cinco linguagens de amor dos adolescentes : Palavras de afirmação; Toque físico; Qualidade de Tempo; Acções de serviço e Presentes. Teresa Paula Marques tem uma opinião similar: “Os pais devem desempenhar um papel de suporte emocional. Apoiar o/a jovem nesses momentos de maior tristeza, sem cair na tentação de desvalorizar o sofrimento proferindo frases do tipo “isso passa, logo arranjas outro!”. Pode até acontecer que passado pouco tempo surja outra paixão mas, naquele momento, o sofrimento é intenso e real, pelo que tem de ser respeitado”. E eis que se toca num ponto fulcral para os pais que têm dificuldade em entender o sofrimento dos filhos. Primeiro não querem que ele sofra, depois porque passam a odiar quem lhes faz sofrer e terceiro porque querem protegê-los ao máximo, sem perceber que todas estas emoções fazem parte do crescimento. Graziela Zlotnik Chehaibar revela: “O sofrimento faz parte da desilusão, principalmente na adolescência, que é a fase onde tudo é vivido com intensidade. Se mesmo com a abertura e conversa dos pais a desilusão tomar uma dimensão maior, um profissional pode ajudar no entendimento e compreensão dos sentimentos por ele vivido”.
Sofrer faz parte do crescimento
E mãe não desespere! Teresa Paula Marques sossega ao afirmar que é normal haver exageros: “ A adolescência é a fase de todos os exageros, portanto tudo é vivido muito intensamente mas também pode passar muito rapidamente. Digamos que é em tudo semelhante a um fósforo que se risca, exibe uma luz intensa e imediatamente apaga ! Habitualmente a desilusão amorosa é ultrapassada à custa de muitas lágrimas, muitos lamentos e, também, do precioso apoio dos/as amigas e dos pais.
Sinais a que se deve estar atento são alterações de rotina drásticas e a ausência de comunicação acentuada. Ou seja, descida de notas, isolamento, falta de apetite, choros compulsivos são indicativos de que um diálogo mais sério, mas sem dramas, é iaconselhável para mostrar um caminho ao seu filho, partilhando até experiências da sua própria adolescência.
Importante é não deixar traumas, pois “os primeiros amores acabam por servir um pouco de modelos para os seguintes. Se formos constantemente mal sucedidos nas nossas experiências afectivas, acabamos por criar um padrão de funcionamento que pode não ser o mais adequado, ou o que mais conduza à felicidade”.
Diz o povo que não há amor como o primeiro. Mas Teresa Paula Marques discorda: “Não concordo com este provérbio. Acho que os amores são todos diferentes e, sobretudo, são vividos de maneira diferente nas diversas fases da vida. O primeiro amor está envolto de muitas ilusões, o que nem sempre é um passaporte para a felicidade …”
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