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14 Mar 2013 04:40 PM PDT
Decididamente,
vivemos em tempos excepcionais. A eleição de Jorge Maria Bergoglio ao
pontificado marca a abertura de uma nova era no Vaticano. Aqueles que vêm na
eleição do primeiro Sul-Americano ao cargo máximo da Igreja Católica um momento
histórico no percurso da Igreja Católica não estão enganados. Mas o que faz com
que o novo Papa seja excepcional não é o facto de ser Argentino, mas sim o facto
de este ser um membro destacado da infame Companhia de Jesus,
protagonistas centrais da inquisição, a força intelectual por detrás dos
misteriosos ‘Illuminati’, e indiscutivelmente, a vanguarda intelectual do
Vaticano nos últimos séculos.
Breve História
Ao largo dos séculos, o Vaticano e a Companhia de Jesus
têm tido relações ambíguas, por vezes amigáveis, outras vezes completamente
hostis e violentas. Fundada em 1540 por Ignacio Loyola, a Companhia estabeleceu
a sua fama e poder por causa do seu trabalho missionário, no qual se destacou
como a ordem com maior capacidade de infiltrar e converter as populações
indígenas do mundo inteiro, da América do Sul, até o continente Africano e até
no Japão.
Em 1773, depois de acusações continuas de subversão política e
exploração económica, a sociedade de Jesus foi expulsa da
maioria dos países da Europa pela ordem do Papa Clemente XIV, com a exceção
da Prússia e da Rússia. A fama da Companhia como mestres da conspiração
finalmente teve um custo político elevado. A ponta de lança da repressão da
Companhia de Jesus na Europa foi o Marquês de Pombal, que expulsou a Companhia
de Jesus de Portugal em 1758.
Marquês de Pombal Expulsa os
Jesuitas de Portugal (van Loo e Vernet, 1766).
A perseguição dos Jesuítas
obrigou a Companhia a operar cada vez mais na clandestinidade durante as décadas
seguintes. Este período viria representar um processo de aprendizagem muito
valioso, e iria dotar os Jesuítas de capacidades de infiltração, subversão assim
como um profundo ódio pelo Vaticano de que não dispunham
previamente.
Clandestinidade e Infiltração
No dia 1 de Maio de
1776, Adam Weishaupt, um
aristocrata Alemão educado por Jesuítas, funda uma ordem inicialmente apelidada
de ‘Perfectibilistas’, depois renomeada ‘Iluminados da Baviera’, coloquialmente
chamados de Illuminati. Weishaupt é um dos primeiros exemplos de coadjutores
Jesuítas que vieram a ter uma grande influência na vida política da Europa. Os
Illuminati adoptaram uma estrutura hierárquica em pirâmide baseada na obediência
total dos subordinados aos seus líderes, disposição organizacional directamente
inspirada pela estrutura da Companhia de Jesus. À imagem da Companhia, os
Illuminati foram banidos pelo governo da Baviera em 1785 com o apoio do
Vaticano. Porém os seus membros conseguiram infiltrar círculos de aristocratas
revolucionários através da Europa, e o próprio Presidente dos Estados Unidos,
George Washington, em
1798, afirmou estar convicto que os princípios dos Illuminati, que menciona
em paralelo com o Jacobinismo, infiltraram os Estados Unidos. Ele pronunciou-se
inequivocamente sobre o assunto da seguinte forma: “Não tinha intenção de
duvidar que, as Doutrinas dos Illuminati, e os princípios do Jacobinismo se
tinham espalhado nos Estados Unidos da América. Pelo contrário, ninguém está
mais verdadeiramente convicto desse facto do que eu”.
Adam Weishaput tinha todas as
características de um coadjutor Jesuíta
O fervor revolucionário na Europa
instigado em parte pela influência das doutrinas dos Illuminati, assim como o
sentimento de traição pelo clero que resultaram da supressão da Companhia pelo
Vaticano, tiveram uma marca visível nas ideologias que resultaram na Revolução
Francesa. Nomeadamente, esta foi marcada pelo pensamento secular e pela
desconfiança pelo clero do Vaticano. Este período revolucionário culminou na
emergência de Napoleão como Imperador da França. Napoleão criticou fortemente a
Companhia, dizendo inclusivamente que esta se trata de “uma organização militar,
não uma ordem religiosa. O chefe é o chefe de um exército, não somente um frade
monástico. E o objectivo desta organização é poder- poder no seu estado mais
despótico- poder absoluto, poder universal, poder pela vontade de um só homem… O
Jesuitismo é o mais absoluto despotismo… e ao mesmo tempo o maior e mais enorme
dos abusos”.
Reinstituição
Porém seria o próprio Napoleão a
desempenhar um papel instrumental na reconstrução da velha ordem política na
Europa em geral, e na reinstituição da Companhia em particular. Foi somente
depois das guerras Napoleónicas que o Papa Pio VII, depois de vários anos de
exilo, decidiu reinstaurar a Companhia em 1814. Depois da sua reinstituição, a
Companhia teve o seu maior período de crescimento na história, e retomou a
posição de vanguarda pedagógica e intelectual do Vaticano. Mais recentemente, a
Companhia construiu o legado doutrinal que levou à reforma do Vaticano através
do Conselho Vaticano
II, que marcou o inicio de uma maior abertura teológica pela parte de
Igreja. Os Jesuítas são igualmente a inspiração por detrás de Teologia da
Libertação na América Latina.
A eleição de Bergoglio representa uma
grande vitória para a Companhia, cujas relações com o Vaticano eram, até aqui,
muito tensas. O ultimo Papa que fez frente à Companhia foi o Papa João Paulo I,
que ocupou o pontificado durante somente 33 dias, tendo sido envenenado. A
ascensão do primeiro Jesuíta ao lugar de Papa representa uma vitória inédita
para a Companhia sobre o Vaticano.
A Vanguarda Intelectual do
Vaticano
A Companhia de Jesus é vista como a vanguarda intelectual do
Vaticano, e com razão. Foram eles que conseguiram através da sua maior
flexibilidade intelectual e pragmatismo levar o Catolicismo mais longe do que
qualquer outra força evangelizadora no passado da Igreja. Porém a Companhia tem
um passado de conspiração, assassínio, infiltração e perseguição religiosa. A
inteligência superior dos Jesuítas faz com que sejam mestres da intriga e da
infiltração. A importância da Companhia durante
a Inquisição trai a sua verdadeira natureza. E o novo Papa já deu um ar da
graça maquiavélica dos Jesuítas- a escolha do nome Francisco pela parte de
Bergoglio é estrategicamente magistral, tendo escolhido invocar o fundador de
uns dos grandes rivais da Companhia de Jesus, aOrdem
Franciscana, Francisco de Assis no seu nome como Papa. Esta escolha ilustra
a abordagem Jesuíta para com os seus inimigos e rivais- preferem co-optar,
infiltrar e lisonjear os seus detractores em vez de os atacar diretamente, a
isolarem-se ou a insultarem publicamente. Não são, por causa disso, menos
perigosos, muito pelo contrário.
A inteligência superior dos membros da
Companhia de Jesus não deveria ser razão para os progressistas acreditarem que a
eleição de um Jesuíta para o pontificado represente um paço na direcção da
reforma positiva. Pelo contrário, a eleição de um Jesuíta só aprofunda a
tendência preocupante que se tem vindo a desenvolver desde a sua reinstituição
em 1814. A Companhia caminha rapidamente para a hegemonia política, sendo as
suas áreas de maior influência as instituições de educação, a finança e as
instituições supranacionais. A Casa das Aranhas já publicou um artigo que aborda
a influência da Companhia no Banco Central Europeu, intitulado ‘A
Tomada de Poder do BCE e a Geopolítica de Dívida’. Van Rompuy, Mario Draghi,
Mario Monti, Paulo Portas, entre muitas outras figuras importantes da política
Europeia foram educados por Jesuítas e agem claramente como coadjutores.
Historicamente, a Companhia recruta coadjutores, ou seja, indivíduos que
instrumentalizam e ajudam a ascender politicamente simultaneamente, de entre os
estudantes que forma através das suas centenas de escolas e universidades
espalhadas pelo mundo. Von Rompuy declarou com orgulho sobre si próprio e sobre
os arquitetos da Europa Federal: ‘Somos Todos
Jesuítas‘. A Federalização iminente da Europa, que utiliza a chantagem, o
subterfúgio, a dissimulação e os avanços incrementais em oposição aos avanços
abruptos tem o odor inconfundível do Jesuitismo. Sobretudo, é através da instrumentalização
da crise da dívida pública que a Europa Federal está a emergir, e o Banco
Central Europeu, liderado pelo coadjutor Jesuíta Mario Draghi, está cada vez
mais a destacar-se como a instituição com maior margem de manobra para resolver
a crise e sair dela fortalecida ao mesmo tempo, assim como sendo uma das
instituições que mais
tem lucrado com a crise.
Uma outra questão será a que ponto é que o
novo Papa poderá ser visto verdadeiramente como o líder do Vaticano. Afinal de
contas, os Jesuítas devem obediência absoluta e incondicional aos seus
superiores, sendo que Bergoglio, como ex-provincial Jesuíta, deve ‘Obedecer como um
Cadaver’ ao seu superior, o General Superior dos Jesuítas, presentemente, o
Adolfo Nicolas. A
questão será a que ponto é que a acumulação de cargos (mesmo que não
oficialmente, visto que Bergoglio já não é provincial desde 1979) não representa
um perigo para a separação entre as duas entidades, a independência do Vaticano
perante a Companhia de Jesus assim como a capacidade do próprio Papa de agir de
forma independente.
Outro facto curioso é que a liderança do Vaticano
replicou recentemente o mesmo padrão historicamente anormal da liderança da
Companhia de Jesus. Normalmente, o General Superior dos Jesuítas ocupa as suas
funções até à morte. Porém recentemente aconteceu um evento raro, o General
Superior dos Jesuítas, Hans Kovenbach, demitiu-se. O mesmo aconteceu com
Ratzinger, que, contra todas as tradições e costumes, se demitiu do pontificado.
Temos portanto, pela primeira vez na História, dois Papas Brancos e dois Papas Negros vivos ao mesmo
tempo. Decididamente, vivemos em tempos excepcionais.
O antigo General Superior da
Companhia de Jesus, Hans Kolvenbach (direita), e o actual, Adolfo Nicolas
(esquerda)
O Antigo Papa, Joseph Ratzinger
(Bento XVI [esquerda]) e o novo Papa Jorge Bergoglio (Francisco [direita])Alguns
Factos Dispersos sobre Jorge Bergoglio (agora: Papa Francisco
I)
Bergoglio enquanto cardeal recusou-se
a prestar declarações em relação ao sequestro de dois companheiros Jesuítas,
sendo
ele próprio um dos suspeitos ligados ao crime.
É, supostamente, uma
pessoa de costumes humildes, e só
um dos seus pulmões funciona.
Bergoglio está intimamente ligado ao
Fascismo na Argentina, tendo umamensagem sua sido
lida durante um tributo da extrema-direita argentina aos politicas e
militares mortos por rebeldes anti-fascistas na década de 1970 e
1980.
Bergoglio pode ser visto numa foto com Jorge Videla,
general e antigo Presidente da Argentina.
Jorge Bergoglio (Papa Francisco
I) e Jorge Videla
João Silva Jordão
Notas Adicionais:
Os
Jesuítas não tiveram um papel tão preponderante na Inquisição como tiveram
outras ordens religiosas, principalmente os Dominicanos. Agradecimentos ao
Filipe Santos pela correcção.
Francisco pode igualmente ser um tributo ao
co-fundador da Companhia de Jesus, Francisco de Xavier.
Via: http://casadasaranhas.wordpress.com/2013/03/13/o-novo-papa-e-a-hegemonia-jesuita/
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