quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A DESCONHECIDA

A Cátia não liga aos sindicatos

Algures no Verão do ano passado, visitei um call center, na Infante Santo (Lisboa), e fiquei espantado. Num vasto open space, 200 pessoas falavam ao telefone, ao mesmo tempo e em 19 línguas diferentes, resolvendo problemas tão diversos como a do finlandês que não sabia mudar o pneu do seu Peugeot ou de um português que queria obter informações suplementares sobre um PPR.

Cheirava a trabalho naquela sala espaçosa, que tresandava à generosa ideia europeia (que ultimamente tem gaguejado), pois o idioma em vigor em cada grupo de estações de trabalho era assinalado por uma bandeira.

O que mais me impressionou foi saber que era inferior a mil euros o salário médio daquelas pessoas, fluentes em pelo menos uma língua estrangeira e altamente treinadas - os que atendem as chamadas para a linha verde de um banco são frequentemente chamados para dar formação ao pessoal dos balcões.

Uma questão ficou a bailar na minha cabeça enquanto esperava pelo eléctrico na 24 de Julho. Por que raio é que os largos milhares de operadores dos call center, que ganham pouco e trabalham muito em condições bem longe das ideais, ainda não constituíram um sindicato?

Não precisei de chegar ao Cais do Sodré para resolver esta intriga e achar a resposta certa a esta questão pertinente. Os operadores de call center não fundaram um sindicato pela mesma razão que nenhum esquimó compra um frigorífico ou um guineense pede ao Pai Natal um aquecedor - porque não precisam de um sindicato para nada.

A ideia de criar um sindicato também não atravessou a cabeça de gente com novas profissões, como webdesigners, djs, trabalhadores de help desk, personal trainers ou mesmo celebridades, sejam elas mais ou menos duráveis, como a Cinha ou a Cláudia Jacques, ou instantâneas e voláteis, como o Zé Maria, do primeiro Big Brother, a Cátia, da Casa dos Segredos, ou o falso Estripador de Lisboa, da dupla Felícia/Sol.

E se nos dermos ao trabalho de pesquisar nas estatísticas, confirmamos que este alheamento também se apoderou das profissões tradicionais. Um estudo do ISCTE garante que 2/3 dos trabalhadores portugueses não estão sindicalizados - e que quatro em cada cinco nunca fizeram greve.

A situação não está a melhorar. Na última década, a taxa de novos sindicalizados na CGTP caiu mais de 40%. E, de acordo com a OCDE, a percentagem de sindicalizados sobre o total da nossa mão-de-obra recua todos os anos 2,3%.

O problema não é dos trabalhadores. O mundo virou do avesso desde que os sindicatos foram inventados para proteger a classe operária dos excessos da exploração patronal, filha da Revolução Industrial.

O mundo mudou, mas os sindicatos não. Continuam a usar a mesma linguagem, discurso, atitude e formas de luta que eram boas no séc. XIX quando era mal-educado andar na rua com a cabeça descoberta (e ainda não tinham sido inventados o automóvel, a televisão e as férias pagas), mas que no séc. XXI apenas conseguem mobilizar os funcionários públicos.

Jorge Fiel

Esta crónica foi hoje publicada no Jornal de Notícias

"O PAÍS ESTÁ DOENTE E INSISTE EM TOMAR A MEDICAÇÃO..."


O país está doente e insiste em tomar a medicação que lhe é imposta por uma Europa Merkleana que, em vez de ser uma cura, só agrava a doença. Digo isto porque também eu não escapei a uma constipação que me deixa rabugento e mal disposto. Mal já eu ando com o que se passa neste país e agora mais as dores de cabeça, no corpo. Não me apetece ouvir notícias nem estar para aqui a fazer o sacrifício de escrever sabendo que tudo fica na mesma. Vou fazendo os bonecos que pelo menos estou distraído


Afinal o Ministro Paulo Macedo, quando nos informou que as Taxas Moderadoras iam duplicar, um aumento de 100%, ou não sabia ou se "esqueceu" de dizer que algumas, como no caso das consultas nos Hospitais Distritais, iam triplicar de preço. Mas, como disse o Primeiro-Ministro Passos Coelho, ainda estamos "muito longe de esgotar o 'plafond' de crescimento das taxas moderadoras" para aplicar no Serviço Nacional de Saúde.
Já nem ser colocar em causa a saúde e a vida das pessoas faz esta gente ter consciência e parar. A sua agenda neo-liberal de preparar o terreno para a privatização da saúde e os "negócios" assim o exigem. Criam a miséria de um lado para diminuir na despesa e aumentam as taxas do outro para aumentar as receitas. As pessoas, essas são um empecilho do lado dos problemas e lucro do lado das vantagens.
Isto não se faz quando é daquilo que pode fazer a diferença entre viver e morrer.


A IRRESPONSABILIDADE AO EXTREMO