SECÇÃO: Opinião
De Onde Viemos, Quem Somos e Para Onde Vamos
A Ponte de Salazar
A Companhia Portuguesa de Caminhos-de-Ferro, CP, foi uma empresa, do tamanho de Portugal.
Depois do 25 de Abril, todo o bicho careta virou olho vivo, começaram a maltratá-la dividindo-a em fracções, cognominando-as com nomes diversos ao sabor dos cangalheiros, e já nãom parece a mesma.
Aparentemente, se por um lado foi um modo de dividir para reinar, por outro, terá sido uma maneira de arranjar empregos bem remunerados e sem muito trabalho para uns tantos, quantas vezes, substituindo os bons pelos maus.
Um sistema, que não é inédito em Portugal, como forma de fazer esquecer a memória daqueles que no passado atribuíam às criações os nomes dos seus criadores, ou à memória de quem anteriormente o tenha merecido.
A primeira patada, e o maior absurdo, foi mudar o nome à ponte de Salazar, para “Ponte 25 de Abril”, sem se saber com que direito, e sem o aval do povo português.
A ponte foi inaugurada em 1966. O 25 de Abri, foi em 1974; que relação existiu entre uma coisa e a outra? Que motivo para lhe dar o nome de uma efeméride que viria a acontecer cerca de oito anos depois?
Só em Portugal!
Trabalhei na empresa durante 41 anos. Confesso que não fui um funcionário brilhante, nem posso dizer que não cometi erros, mas, dentro do possível, procurei sempre pôr ao serviço da empresa e de Portugal todo o meu saber e a humildade de bem servir, desafiando muitas vezes situações transcendentes à condição humana. A CP pagava-me para a servir, e não para dela me servir!
Para além do mais, a grandeza da empresa era grandeza dos ferroviários; parecia-nos que todo o mundo girava à volta dos Caminhos-de - Ferro, cá dentro e lá fora. Os Caminhos-de-Ferro, foram um sonho vivo, que se tornou realidade no mundo inteiro.
Foi uma vida de sacrifícios: meses de trinta dias sem descanso, dias e dias fora de casa e da família, trabalhos ora de dia ora de noite, refeições fora de horas, sonos tantas vezes passados em locais sem o mínimo de conforto, verdadeiras geladeiras no inverno e ardentes fornos no verão, sempre acompanhados da reca, - uma cama usada por muitos, feita com quatro ripas de madeira, umas cordas e um colchão de palha, - que, embora desconfortável para quem naquela época andava de lado em lado, era prática e funcional.
Claro que nem de perto nem de longe fui um herói, mas apenas um dos muitos que viveram e trabalharam nas mesmas condições, tiveram a mesma dedicação e como eu sofreram os mesmos revezes, quando a sorte nos era madrasta. Era uma vida dura e ao mesmo tempo aliciante: A vida sem sacrifícios, é o retrato da monotonia e não tem sabor.
Nem sempre a minha dedicação foi reconhecida. Porém, bastava-me o reconhecimento de mim próprio pelo dever cumprido, sem direito a qualquer outro benefício, que não fosse a garantia de um emprego, um salário no fim de cada mês e a garantia de uma pensão de reforma para os últimos anos de vida.
Embora me não tenham dado aquilo que por lei me era devido, passei à situação de reforma com a convicção de que os meus tormentos tinham acabado, e a esperança de uma vida estável e um descanso merecido começava.
Porém, agora, quando os anos já pesam e o corpo começa a sentir as mossas dos estilhaços, já não temos a certeza de nada, restando-nos a nostalgia dum passado glorioso que o charlatanismo ignóbil assaltou e destruiu. Só na região de Trás-os-montes e Alto Douro,
Como nos Caminhos-de-Ferro, o mesmo acontece um pouco por todo o lado e em tudo onde a pobreza política põe as mãos. Actualmente, os assaltantes inventam o que não é preciso, não fazem o que nos faz falta, menosprezam o que se fez no passado, dizem o que não sentem, e esmurram-se para esconderem do povo que lhes serve de pódio, a incompetência que têm demonstrado, ao longo dos últimos 37 anos.
Como não têm capacidade para criar fontes de rendimento, vingam-se nos impostos, nem que apertem o pescoço a quem já não ganha para levar a vida com dignidade
Por José Guerra 17-04-11