06 Setembro 2009 - 00h30
Polémica: Manuela Ferreira Leite acusa o primeiro-ministro
“Quem não está de acordo sofre retaliações”
Um programa silenciado, um grave atentado à liberdade da Comunicação Social e um clima de retaliações. Este é o diagnóstico de Manuela Ferreira Leite, líder do PSD, quanto à suspensão do ‘Jornal Nacional de 6ª, da TVI, e consequente afastamento de Manuela Moura Guedes. No fim da linha, "nunca ninguém saberá o que realmente se passou", mas para a presidente social-democrata acredita que "quem ousa dizer alguma coisa que não está de acordo com o Governo de Sócrates sofre retaliações".
A expressão 'asfixia democrática' voltou ontem ser invocada por Ferreira Leite nas suas primeiras declarações sobre o afastamento de Manuela Moura Guedes. O incómodo manifestado pelo primeiro-ministro em relação ao jornal da TVI e o facto de ter havido uma tentativa de compra da TVI pela PT, denunciada pelo PSD, são dois momentos que contribuem para o clima que se vive. Pacheco Pereira acrescenta: 'Quando um homem de poder ataca um órgão de Comunicação Social numa das suas entrevistas, está a dar uma ordem, não está a emitir uma opinião. O que eu sei é que ele deu a ordem, e que alguém a executou.'
E se o PSD não deixa cair o tema, o CDS-PP também não. Paulo Portas afirma ao CM que 'pela primeira vez desde o PREC um primeiro-ministro elegeu uma televisão, um director e uma jornalista como adversários principais'. Mais: no Parlamento, o primeiro--ministro 'não escondeu a vontade de os substituir via PT'. Por isso, a conclusão é óbvia: 'Um mês depois, o ‘serviço’ aparece feito. Cada um que interprete como quiser.' Portas endurece ainda o discurso contra as maiorias absolutas de um só partido pela ' tentação de interferir' nos media.
'JORNAL DE SEXTA' FOI DOS MAIS VISTOS DE SEMPRE
O ‘Jornal Nacional’ da TVI de sexta-feira, apresentado por Patrícia Matos, foi visto por 1 296 300 milhões de espectadores, obtendo um share de 39,9%, um dos mais altos do último ano. Sem Manuela Moura Guedes, afastada pelos accionistas da estação de Queluz, o caso Freeport voltou porém a abrir o jornal. A escolha da jovem pivô partiu da própria Manuela Moura Guedes, apesar de ter tido contra si quase toda a redacção.
APONTAMENTOS
DIRECTORES
A redacção da TVI acredita que durante a próxima semana será conhecida a nova direcção de Informação da estação de Queluz.
ELOGIADA
A equipa do ‘Jornal de Sexta’ considera que Patrícia Matos cumpriu muito bem a missão ao apresentar o jornal de sexta e ofereceu-lhe flores.
DOIS PIVÔS
Há pelo menos dois pivôs insatisfeitos por não terem sido contactados para apresentar o jornal: Henrique Garciae Belo Morais.
DISCURSO DIRECTO
'ESTE CASO PODE SER DECISIVO NAS ELEIÇÕES': Henrique Neto, Ex-deputado do PS sobre caso TVI
Correio da Manhã – O cancelamento do ‘Jornal Nacional’ da TVI foi uma cilada ao PS, como dizem alguns socialistas?
Henrique Neto – Pode ser várias coisas, agora uma cilada não é, com certeza. Quer o PS tenha tentado ou não fazer alguma mudança na TVI no passado, não é credível que a Prisa decidisse, fosse o que fosse, à revelia do PS. Porque não há ninguém no seu juízo que hostilize o Governo de um País.
– O PS diz que não teve nada a ver com a decisão. É credível?
– Um erro dos espanhóis é compreensível, um erro do PS eu não acredito, porque seria uma estupidez enorme. O que pode ter acontecido é que o PS terá tentado influenciar as coisas há alguns meses, mas nada aconteceu, e aconteceu agora, no pior momento.
– Este caso pode ser decisivo nas legislativas?
– Pode ser decisivo. Eu sempre disse que o PS ganhava as eleições, mas sem maioria. Agora, tenho dúvidas.
– Porquê?
– Com a crise económica, as pessoas não querem mudar de Governo. Outra coisa é as pessoas terem dúvidas sobre o primeiro-ministro. E isso vai fazer mudar o sentido de voto, nomeadamente dentro do PS.
MINISTRO VAI SER CHAMADO A DEPOR
Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência, vai ser ouvido na qualidade de testemunha no âmbito do processo Freeport. De acordo com o semanário ‘Expresso’, os procuradores responsáveis pela investigação só vão chamar Silva Pereira depois das eleições legislativas e autárquicas para evitar especulações e aproveitamentos políticos durante as campanhas eleitorais. O actual ministro da Presidência era, na altura em que o Freeport foi licenciado, secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza de José Sócrates, ministro do Ambiente.
Rui Gonçalves, na altura secretário de Estado do Ambiente do actual primeiro-ministro, já foi ouvido, igualmente na qualidade de testemunha, pelos procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal. Entretanto, o director da Polícia Judiciária, Almeida Rodrigues, admitiu à Lusa que 'tudo aponta' para que o conteúdo da carta anónima que implica Bernardo Pinto de Sousa, primo de Sócrates, na entrega de subornos 'seja destituída de fundamento'. Até ao momento, já foram constituídos sete arguidos.
NOTAS
SOARES: SIMPATIZA COM PIVÔ
O ex-presidente da República Mário Soares disse ontem ser simpatizante de Manuela Moura Guedes e considerou o seu afastamento do ecrã uma questão do foro da empresa.
TVI: IMPRENSA ESTRANGEIRA
A suspensão do ‘Jornal’ de Moura Guedes foi noticiada nos jornais espanhóis e britânicos, que ligam a polémica ao processo Freeport e ao primeiro-ministro, José Sócrates.
PACHECO: ACUSA SÓCRATES
Pacheco Pereira reagiu e responsabilizou o primeiro-ministro pelo cancelamento do ‘Jornal de 6.ª’, considerando que Sócrates 'deu a ordem' para acabar com um noticiário 'incómodo'.
CORREIO DA MANHA 6.9.2009
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