Segurança
PSP comprou blindados para a 'guerra' nos bairros
por VALENTINA MARCELINOHoje
A polícia assumiu que era atacada com armas de guerra nos bairros de risco
A PSP reconhece que é atacada por armas com calibre de guerra em zonas urbanas de risco, localizadas nas áreas da sua responsabilidade. Este foi, pelo menos, o principal argumento que consta do caderno de encargos, a que o DN teve acesso, para comprar os seis blindados, que supostamente deveriam chegar para a Cimeira da NATO.
De acordo com o documento do Governo Civil de Lisboa, que define as especificações técnicas dos veículos, estes não se tratam de simples "viaturas de transporte pessoal com protecção balística", conforme garantiu o ministro da Administração Interna (ver texto ao lado) e o comando da PSP. Tratam-se, isso sim, de verdadeiros blindados de guerra, idênticos aos usados pelos americanos e ingleses no Iraque.
A única diferença em relação aos tradicionais é que, em vez de uma torre com uma arma de fogo, os da PSP terão - pelo menos na sua acção em Portugal - uma torre com um observador. São de muito maior dimensão e capacidade que os blindados da GNR e até que os Pandur do Exército.
Segundo o caderno de encargos "o veículo com protecção balística para transporte pessoal da PSP destina-se a fazer face a ocorrências policiais de maior risco, nomeadamente aquando da necessidade de intervenção nas múltiplas zonas urbanas sensíveis localizadas na área de responsabilidade da PSP, quando são usadas armas 56 (sic, mas será calibre 5,56, de guerra) de fogo, seja contra elementos da PSP, seja contra qualquer cidadão".
Por outro lado, o tipo de blindagem que é exigida, a NIJ-STD- -0108.01. Nível III (Standards do National Institute of Justice dos EUA), corresponde a uma protecção balística para calibre 7,62 mm FMJ (Full Metal Jacket), perfurantes. Este é um calibre utilizado normalmente em espingardas automáticas, tipo G3, ou nas metralhadoras ligeiras em cenários de conflito convencionais - Iraque ou Afeganistão.
A presença deste tipo de armamento, de forma regular, nos bairros periféricos, não era, até agora, conhecida. Opresidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), José Manuel Anes, entende que "a única justificação para que a PSP tenha sentido a necessidade de comprar estes blindados é a de ter feito uma análise da situação e desta ter levado a previsão de acontecimentos muitos graves e violentos", que podem ser "expressão de descontentamento de massas". O responsável lembra que "em certos bairros há grupos de crime organizado que têm acesso a armas de grande calibre".
No último relatório anual de Segurança Interna, já se alertava para o facto dos bairros problemáticos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto serem "palco de actividades ligadas ao tráfico internacional de armas e do crime organizado".
Sobre o tráfico de armas, diz o relatório, este é abastecido, "num primeiro nível, por microrredes informais com contactos externos com as principais organizações de traficantes que operam na Europa (sobretudo do Leste) e, num patamar menor, por pequenos distribuidores que assegura a venda directa e se instalam, sobretudo, nas zonas urbanas sensíveis de Lisboa e Porto".
Durante 2009, estes bairros foram palco ainda de incidentes que obrigaram a PSP e a GNR a entrar em força com os seus operacionais em 192 ocasiões para repor a ordem pública. A PSP destacou 712 elementos e a GNR 3425 efectivos.
O DN pediu esclarecimentos à PSP e ao Gabinete Coordenador de Segurança, sem sucesso
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