O Farol, a dura realidade e a necessidade de fazer Portugal
por Inês Serra Lopes , Publicado em 19 de Janeiro de 2011 | Actualizado há 13 horas
São 94%, os portugueses que desconfiam dos políticos. E quase metade diz que se vivia melhor antes da Revolução. País à espera de rumo
Não é que Belmiro de Azevedo não tenha razão. É verdade que o discurso político se resume a três ou quatro frases. Ou que os políticos não dão explicações - eu diria pior, que nem sequer prestam contas -, e que não fazem pedagogia. Tudo isto foi dito ontem, na apresentação dos resultados do projecto Farol, uma iniciativa de alguns homens que merecem ser ouvidos e que têm o dever de pensar o país, como Proença de Carvalho e António Pinho Cardão, Jorge Marrão, da Deloitte Brandão de Brito, Alves Monteiro e o próprio Belmiro.
Os resultados da sondagem do Farol sobre as escolhas dos portugueses dão que pensar. Confrontados com o estudo, os cidadãos fizeram o seu diagnóstico do país. E o resultado não é bom.
Para começar, quase metade dos inquiridos (46%) diz que as actuais condições económicas e sociais são piores, ou muito piores, do que a vida há 40 anos, antes do 25 de Abril.
Sem qualquer surpresa, o desemprego é considerado o principal problema nacional (81%), com o sistema de saúde (26%), o endividamento das famílias (26%) e a pobreza e exclusão social (25%).
Para uma assustadora maioria, o país está a caminhar na direcção errada (78%), pois não há uma estratégia de desen- volvimento (66%) e Portugal não é competitivo (64%).
Este quadro negro é preenchido com uma crise de confiança na democracia e nas instituições. É impressionante o número de portugueses que desconfiam, ou confiam muito pouco, na classe política (94%), nos partidos políticos (89%), nos governos (90%), na Assembleia da República (84%), nos tribunais (76%), nos sindicatos (75%) e na administração pública (75%). Na prática, isto traduz uma certeza desoladora: as pessoas não confiam no Estado, nos seus representantes. Sejam eles quais forem.
A chave do Farol, para mim, é o facto de os inquiridos considerarem que a responsabilidade de traçar a estratégia de sucesso deve ser partilhada pelos empresários e pelo Estado. Para 83% a responsabilidade pelo sucesso de uma organização é dos empresários, que são também responsáveis pelo combate à dependência de incentivos (89%). Para o Estado reservam o papel de motor da competitividade e do desenvolvimento económico do país (78%), sobretudo com o apoio às iniciativas empreendedoras (54%). Tudo isto me leva de volta a Belmiro de Azevedo. Que tem razão. Mas não deixa de ter culpa. Os empresários discutem, em público, as questões que interessam e que as campanhas eleitorais evitam? Dão explicações? Fazem pedagogia? Denunciam sequer os maus políticos e as más políticas?
Espero que o Farol sirva para acordar a sociedade para uma coisa simples: mais do que fazer diagnósticos, é preciso fazer Portugal. E, como os portugueses percebem bem, isso depende de todos. Especialmente dos empresários.
Grande repórter
Escreve à quarta-feira
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