Publicação: 26-04-2011 11:41 | Última actualização: 26-04-2011 14:15
EUA mantiveram centenas de inocentes presos em Guantanamo, revela Wikileaks
Os Estados Unidos mantiveram secretamente em Guantanamo centenas de inocentes durante anos, mas libertaram dezenas de presos de "alto risco", indicam novos documentos do Wikileaks divulgados pela imprensa estrangeira este fim de semana.
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Wikileaks, o que é?
Site fundado por Assange continua a abalar o Mundo com a divulgação de documentos confidenciais O 'site', que desde novembro entregou a vários jornais internacionais milhares de telegramas diplomáticos norte-americanos, entregou no domingo à noite documentos militares de 2002 a 2009 sobre 704 dos 779 homens que passaram pela prisão instalada na base naval de Guantanamo, em Cuba.
Segundo os documentos, publicados nomeadamente pelo El Pais (Espanha), The New York Times (EUA), Le Monde (França) e La Reppublica (Itália), pelo menos 150 detidos de Guantanamo estavam inocentes e 380 eram "soldados rasos" combatentes talibãs ou estrangeiros.
Alguns dos inocentes foram detidos com base em informações dadas por outros presos, considerados doentes mentais ou pouco fiáveis pelos próprios interrogadores, ou mesmo informações extorquidas através de tortura, segundo o New York Times.
Outros tinham o mesmo nome de indivíduos procurados, caso de um agricultor afegão que passou dois anos em Guantanamo por ter o mesmo nome que um comandante talibã.
Alguns dos documentos publicados pelo NYT explicam com pormenor a origem de tais erros. Os investigadores eram por exemplo instruídos para perseguir homens que usassem relógios Casio F91W, vulgares na altura mas que eram utilizados pela Al-Qaeda nos treinos de colocação de bombas.
A falta de documentos de viagem, a posse de uma calculadora ou o envolvimento numa obra de caridade eram igualmente considerados como sinais de atividade terrorista.
Cerca de 380 detidos foram rapidamente identificados como combatentes sem importância.
Segundo o jornal Le Monde, "numerosos menores viram-se em Guantanamo sem que tivessem qualquer relação com os talibãs".
Mas os exemplos opostos revelados pelos telegramas também são muitos. Um jovem afirmou repetidamente ter sido capturado no local errado à hora errada e convenceu disso os interrogadores, que mais tarde perceberam ter ordenado a libertação de Abdullah Mehsud, um extremista talibã que cometeu vários atentados depois de sair de Guantanamo.
Cerca de 200 detidos classificados como de "alto risco" por poderem constituir uma "ameaça futura para os Estados Unidos ou para interesses dos Estados Unidos" foram libertados ou extraditados para países terceiros numa altura em que Washington estava sob pressão para esvaziar a prisão, segundo o NYT.
A administração do Presidente Barack Obama lamentou a publicação "infeliz" destes documentos e afirmou ter "feito tudo o que podia para agir com o maior cuidado e o maior rigor na transferência de detidos de Guantanamo".
Segundo um documento, o "cérebro" dos atentados do 11 de setembro, Khalid Sheikh Mohammed, disse aos seus interrogadores que a Al-Qaida tinha escondido uma bomba nuclear na Europa que seria ativada se Usama bin Laden fosse morto ou detido.
A Al-Qaeda planeou recrutar funcionários do aeroporto londrino de Heathrow para um atentado e deitar cianeto nas condutas de ar de edifícios públicos nos Estados Unidos.
A prisão de Guantanamo tem nesta altura 172 detidos. O governo norte-americano espera repatriar ou transferir para países terceiros cerca de 100, julgar 33 por "crimes de guerra" e manter os restantes 48 detidos sem julgamento.
A Casa Branca reiterou, no início deste mês, o compromisso de encerrar a prisão, apesar de anunciar na mesma altura a intenção de ali julgar os cinco acusados dos atentados de 11 de setembro de 2001 e não num tribunal de direito comum em Nova Iorque, como inicialmente anunciado.
EUA mantiveram doentes mentais presos durante anos
26 de Abril, 2011
De acordo com documentos obtidos pelo Wikileaks e revelados pelo El País, cerca de 30 detidos em Guantánamo sofriam de doenças mentais e vários tentaram suicidar-se diversas vezes.
Os documentos que a organização de Julien Assange entregou ao jornal espanhol revelam que a relação entre os guardas e os prisioneiros eram marcadas pela violência e que os responsáveis pelos interrogatórios eram soldados obcecados por descobrir o paradeiro de Bin Laden.
Os documentos a que o El Pais teve acesso demonstram que 30 presos de Guantanamo sofriam de «doenças do foro psiquiátrico, transtornos de personalidade, depressões profundas», esquizofrenia e problemas de consumo de drogas. Apesar desses transtornos terem sido comprovadas por avaliação médica, os doentes permaneceram presos e impedidos de voltar aos países de origem durante anos.
Vários doentes mentais tentaram o suicídio enquanto se encontravam na prisão de alta segurança e três chegaram mesmo a consegui-lo.
O diário espanhol conclui que, mesmo em casos de doença extrema, a procura de informação foi sempre colocada acima da saúde dos indivíduos.
SOL
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