domingo, 28 de agosto de 2011

Estou parado no meio de uma encruzilhada,

ouço ruídos intensos de grande velocidade,

multidão sem rosto, de gente atormentada,

olhares esgazeados, respirando ansiedade,

caminham sobre nuvens, vão agrilhoados,

não sentem as algemas, é uma crueldade,

são novos escravos caminhando acorrentados,

nas mãos em concha, carregam bestialidade,

vendedores de tudo e nada, andam ocupados,

as pratas já foram em memórias de saudade,

a aliança de ouro, marca de apaixonados,

em breve será alienada numa loja da cidade,

pouco resta para oferecer, estão tão afundados,

já perderam tudo, os princípios, a dignidade,

agora são dependentes, autómatos agarrados,

prostituem o corpo em becos de clandestinidade,

a alma está negra, carregada, com sonhos castrados,

vão para a religião, para uma qualquer divindade,

multiplicam igrejas de fé, sotaques abrasileirados,

Deus parece dormir perante tanta barbaridade,

pouco importa, o que conta é sermos abençoados,

nem que seja um homem prenhe de brutalidade,

prometendo esperança em mezinhas africanizadas,

saia lá da bruma um salvador de contabilidade,

nos tire da agonia e nos transforme em regulados,

a liberdade já não conta, menos a credibilidade,

somos somente uma massa, pelotão de soldados,

comandados por generais cheios de falsidade,

buscam o poder para protegerem os afilhados,

é o tempo que corre, não há outra verdade,

tomemos consciência de que estamos tramados,

tomámos a sobrevivência em troca da felicidade.

LUIS FERNANDES

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