quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Jovens

Familiares não sabem dos detidos

Mais de trinta manifestantes detidos no último fim-de-semana em Luanda num protesto contra o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, continuam incomunicáveis e com paradeiro desconhecido, denunciou ontem a organização Human Rigths Watch (HRW), enquanto os familiares de detidos nas manifestações exigem saber onde estão os jovens.

Por:Paulo Madeira

A HRW afirma que testemunhas dos confrontos garantem que "muitas pessoas ficaram feridas e que mais de 40 manifestantes foram detidos". A organização estima que "mais de 30 detidos estão incomunicáveis e com paradeiro desconhecido". De acordo com declarações de Joel Júnior, irmão de um dos detidos, à Lusa, "existem pelo menos 24 pessoas levadas pela polícia cujas famílias não sabem do seu paradeiro". O advogado de um detidos queixou-se de ter sido impedido de contactar com o seu cliente. Recorde-se que a polícia angolana garante que apenas quatro agentes e três cidadãos ficaram feridos e 24 pessoas foram detidas.

Foi entretanto adiado para amanhã o julgamento sumário de 21 dos detidos, que deveria começado ontem, sob justificação de que o juiz não tinha ainda conhecimento de todos os dados do processo. Os detidos ainda compareceram no Tribunal da Polícia, envergando camisolas alusivas ao protesto do passado sábado e, no exterior, juntaram-se dezenas de pessoas, que exigiram justiça. "Os que tiveram sorte, viram-nos. Uma mãe quase desmaiou ao ver o filho de regresso à cadeia", contou ao Correio da Manhã fonte contactada em Luanda. n *com Lusa

MINISTRO DIZ QUE "LEI FOI VIOLADA"

O ministro angolano da Defesa, Cândido van-Dúnem, considerou ontem que as detenções e consequentes julgamentos, no passado sábado, na sequência da manifestação de jovens realizada em Luanda, só aconteceram porque houve violação da lei.

ANA GOMES QUER QUE LISBOA REAJA

A eurodeputada Ana Gomes afirmou que é "imperativo" que Lisboa expresse o seu protesto às autoridades de Angola pela agressão de que foram alvo jornalistas portugueses, no sábado, em Luanda, além da repressão sobre cidadãos angolanos.

"FUI RAPTADO E AMEAÇADO"

Pandito Nerú, um dos organizadores do protesto, relatou à Human Rights Watch ter sido raptado, no passado sábado, antes da manifestação, sob ameaça de arma, por homens não identificados e armados com AK-47 . Além de confiscarem o material que tinha preparado para o comício, afirmou que "foi levado para uma praia distante, onde o intimidaram com ameaças de morte". O jovem acrescentou que foi libertado horas mais tarde.

MARCOLINO MOCO EXIGE REFORMAS

Marcolino Moco, ex-primeiro-ministro de Angola, considera que o país pode enfrentar uma revolta popular, à semelhança de países como a Tunísia, Egipto e Líbia, caso o MPLA (partido no poder) não avance com profundas reformas democráticas.

O antigo secretário-geral do partido que governa Angola declarou à ‘Voz da América' que "as revoltas desencadeadas no Norte de África têm vindo a estimular a resistência civil no país". Salientou ainda que qualquer país onde as autoridades queiram enveredar por regimes fechados "arrisca-se, mais cedo ou mais tarde, a consequências semelhantes às que se observam no Norte de África". Moco realçou ainda o papel da internet na luta dos jovens contra o regime, concordando em que as redes sociais têm contribuído para aumentar a dimensão do descontentamento.

Opinião diferente tem naturalmente o porta-voz do MPLA, Rui Falcão, que diz que não se pode confundir "direito de manifestação com arruaça". "Em Angola, como em qualquer Estado de direito, as pessoas são livres de se manifestar, mas não podem pôr em causa o direito de terceiros", afirmou Falcão.

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