PORTUGAL
Administradores de hospitais públicos admitem suspensão de medicamentos pelas farmacêuticas
17 de setembro de 2011, 22:50
A Associação dos Administradores Hospitalares admitiu hoje que possa vir a ser suspenso o fornecimento de medicamentos aos hospitais públicos, à semelhança do que está a acontecer na Grécia, e atribuiu ao governo as culpas pelo endividamento dos hospitais.
“Não excluo a possibilidade de vir a ser suspenso esse fornecimento. Estou extremamente preocupado, até por não ouvir qualquer resposta do Ministério da Saúde” sobre as dívidas estatais aos hospitais públicos, disse à Agência Lusa, Pedro Lopes, presidente da associação.
O presidente da farmacêutica Roche, numa entrevista hoje do presidente ao Wall Street Journal, anunciou ter suspendido a entrega de alguns medicamentos, incluindo para tratamento de cancro, aos hospitais públicos gregos com elevadas dívidas à empresa e precisou que esta medida pode vir a ser aplicada em Portugal, Espanha e Itália, pelas mesmas razões.
Ressalvando que esta situação nos hospitais gregos “não tem de acontecer em Portugal”, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Pedro Lopes, em declarações à Lusa, alertou estar “há muito tempo” a “avisar” as autoridades portuguesas para o facto de os hospitais públicos estarem “a entrar num processo muito perigoso” por causa do endividamento, nomeadamente às farmacêuticas.
“A dívida dos hospitais [públicos] com a indústria é elevadíssima e deve rondar neste momento os 1.500 milhões de euros, se não for maior”, afirmou Pedro Lopes, salientando tratar-se de valores “muito elevados”.
“O caminho é esta dívida continuar a crescer”, disse, frisando que “se o Estado não pagar o que deve aos hospitais, estes não têm dinheiro para pagar à indústria” farmacêutica.
“Têm de criar condições para os hospitais terem liquidez financeira e pagarem as dívidas” às farmacêuticas, defendeu, salientando que o Ministério da Saúde “deve muito dinheiro” aos hospitais pelos contratos-programa que estabeleceu e que “não honrou” pois “ainda não fez as contas dos últimos anos”.
O Ministério da Saúde, contactado pela Lusa, não quis ainda comentar o caso, deixando em aberto a possibilidade de esclarecimentos nos próximos dias.
A Lusa tentou, sem sucesso, contactar também o representante da Roche em Portugal.
Na Grécia, segundo o Wall Street Journal, os doentes estão a ser obrigados a ir buscar medicamentos à farmácia e levá-los para os hospitais públicos, onde são administrados.
Em declarações ao jornal, o presidente executivo da Roche, Severin Schwan, afirmou que as dívidas dos hospitais tornaram “o negócio insustentável”.
No ano passado, quando a Grécia anunciou um corte no preço da insulina, soube-se que a dinamarquesa Novonordisk tinha parado de fornecer algumas marcas de insulina aos hospitais gregos, substituindo-a por insulina genérica mais barata, mas o Governo grego acabou por recuar e impor um corte inferior, reatando a farmacêutica o fornecimento.
@Lusa
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