Aldeias no Alentejo e Algarve, ilhas no Tejo, castelo em Torres Novas. A crise faz aumentar a oferta para quem pode investir
Perdida na encosta mais alta da serra de Monchique fica a aldeia do Barbelote. Uma dúzia de casas em ruínas com, dizem todos que a conhecem, uma das «melhores vistas da região sobre a costa vicentina». Está à venda por cerca de 750 mil euros. Não é caso único em Portugal. Uma aldeia termal, que foi a primeira do país com licença de casino, um castelo em Torres Novas e uma ilha no Tejo também estão à espera de um comprador que lhes devolva a vida de outros tempos.
«A aldeia fica na encosta da serra, rodeada de canteiros e tem muitas nascentes que vão dar à cascata do Barbelote [uma das atracções turísticas da zona]», conta José Martins, um dos proprietários dos quase nove hectares no topo da serra de Monchique. Há uns anos juntou-se com quatro amigos e comprou as 13 casas em ruínas do Barbelote para montar ali um projecto turístico. Mas o grupo não teve capacidade económica para avançar. E colocou a aldeia à venda.
«Os meus avós ainda lá viveram, mas a aldeia que chegou a ter mais de 50 pessoas e até escola primária foi ficando ao abandono», explica.
Apenas lá vive ainda um casal de habitantes originais, que apesar de ter vendido a casa teve luz verde dos proprietários para ali continuar a habitar. «Tomam conta da aldeia. Plantam batata doce e milho nos canteiros [sucalcos] e não deixam aquilo morrer», adianta o proprietário.
Há dois anos, a aldeia esteve mesmo para acabar nas mãos de franceses. «Até fui a Paris para tratar da venda. Eles vieram cá e ficaram deslumbrados. Mas o negócio acabou por não se realizar», recorda.
O presidente da câmara de Monchique, Rui André, fala das potencialidades da venda destas antigas aldeias para recuperar locais que de outra forma estariam condenados a desaparecer. «Podem ser pólos importantes de atracção turística. Muitas destas aldeias são aglomerados de casas. Não estão classificados como sítios de interesse e portanto mais facilmente podem ser vendidos», nota. A Câmara de Monchique tem apoiado estes projectos através da criação de infra-estruturas e do apoio a estas iniciativas de turismo.
Pedralva: de 'favela' a turismo de natureza
Desertificados e em risco de desaparecer do mapa, algumas aldeias ganharam nova vida ao mudarem de mãos. Foi o que aconteceu a Pedralva, Vila do Bispo, junto à costa atlântica, transformada num turismo de natureza.
Há quatro anos nas 50 casas de Pedralva, quase todas em ruínas, restavam apenas sete pessoas. Já tinham sido 100. «Era uma aldeia fantasma, num estado de grande degradação. Parecia uma favela com ruas de lama», diz António Ferreira, que com outros três amigos começou a comprar as casas uma a uma para as reabilitar.
Durante quase dois anos negociaram com mais de 200 proprietários e herdeiros não só em Portugal mas também em Inglaterra, França, Holanda ou na Alemanha.
«Foi uma loucura. Chegámos a ter de contactar 28 pessoas por causa de uma casa de 33 metros quadrados», desabafa o antigo publicitário, que está agora à frente do projecto turístico da aldeia. «Neste momento temos 30 das 50 casas da aldeia. Estão praticamente todas recuperadas».
O mesmo aconteceu com as ruas, que foram calcetadas e onde os velhos postes eléctricos desapareceram.
Enquanto projecto de turismo de aldeia – onde é possível alugar casas para férias e fins de semana ou fazer passeios de burro – Pedralva abriu as portas em Maio de 2010. «Investimos aqui quatro milhões de euros. Há uma grande carga fiscal e muita burocracia. Mas o projecto foi muito apoiado pela autarquia e localmente. Os habitantes sentem que estamos a recuperar a história da vida deles», remata.
Marvão vale sete milhões de euros
A primeira licença de jogo em Portugal foi dada ao casino da aldeia alentejana do Pereiro que desde há meio ano está à venda por sete milhões de euros. A enorme herdade, onde se ergue a aldeia, está desde a década de 1920 nas mãos da família de Daniel Sequeira. «Era do meu avô, depois do meu pai e agora é minha», explica ao SOL o proprietário.
Daniel é dono da área de 80 hectares de olival e montado onde se inclui a aldeia com mais de uma centena de casas, capela, escola, infantário ou lagar.
A zona de casario inclui umas antigas termas, com os respectivos quartos e uma sala de jogo que foi pioneira no país. «Estas termas chegaram a ser as maiores a Sul do Tejo. Tínhamos capacidade para uma centena de pessoas e estiveram a funcionar até ao início dos anos 70», conta o proprietário.
Daniel chegou a ter um projecto de hotel rural para a propriedade – onde se produzia tudo, de azeite a vinho, se plantava trigo, milho cevada e aveia, e se criavam animais –, mas não tem condições financeiras para avançar sozinho. «São 20 mil metros quadrados de casas que precisam de ser reabilitadas», diz, explicando: «Não faz sentido só reabilitar uma parte». Por isso, o seu ‘sonho’ ficou em stand by até que um investidor quisesse apostar na sua ideia. Há várias pessoas interessadas no projecto – que está à venda através da Sothebys Realty – mas ainda nenhuma fechou o negócio.
17 milhões por uma ilha no Tejo
Mais acima no rio Tejo uma ilha de 3,3 quilómetros quadrados, com potencial agrícola e de turismo, está à espera de um comprador. «É o sonho de qualquer empresário», garante a empresa canadiana responsável pelo site Private Islands Online onde esta ilha foi posta à venda por 17 milhões de euros.
O Mouchão de Alhandra pertence a um privado e está há meses na internet, sendo a única propriedade lusa à venda através deste site, especializado em ilhas. Surge lado a lado com ofertas em locais tão distantes como as Bahamas ou as Seycheles, mas também na Grécia ou na Finlândia.
O Mouchão de Alhandra não é a primeira ilha do Tejo a ser alienada. Há menos de dois anos, Ismael Duarte, um avaliador imobiliário e consultor financeiro, decidiu vender a ilha do Rato. Pedia 3,5 milhões mas a ilha acabou por ser vendida num leilão em 2009 por 260 mil euros a um proprietário que quis manter o anonimato.
Perdida na encosta mais alta da serra de Monchique fica a aldeia do Barbelote. Uma dúzia de casas em ruínas com, dizem todos que a conhecem, uma das «melhores vistas da região sobre a costa vicentina». Está à venda por cerca de 750 mil euros. Não é caso único em Portugal. Uma aldeia termal, que foi a primeira do país com licença de casino, um castelo em Torres Novas e uma ilha no Tejo também estão à espera de um comprador que lhes devolva a vida de outros tempos.
A ilha com vista para o Montijo, Barreiro e Setúbal está ainda desabitada, mas eram frequentes as embarcações que ali atracavam para admirar os flamingos que povoam o Tejo.
Um castelo do século XVII, reconstruído no final do século XIX pelos Condes da Foz, em Torres Novas é outras das propriedades à venda no País. O imponente castelo – com 900 m2 quadrados – tem 20 quartos e inúmeras salas com vista para cinco hectares de campo e um jardim romântico.
A Sothebys Realty, imobiliária responsável pela venda, não revela o preço do imóvel, onde cada quarto tem um tema e há importantes exemplares de azulejo e talha dourada.
Numa altura de grave crise económica, as imobiliárias acreditam que a tendência é que surjam no mercado boas oportunidades de negócio para quem tem dinheiro para investir.
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