sábado, 31 de março de 2012

Ir à vinha


O governo, pela mão do ministro Gaspar, foi a Luanda oferecer uma boa fatia da Galp aos angolanos. Para se ser rigoroso, o que se deve dizer é que o Estado português se propõe entregar ao clan Eduardo dos Santos mais um naco de poder. Os angolanos nada têm a ver com isto e seria um desastroso engano confundir a chusma de bandidos engravatados que se pavoneia nas poltronas institucionais de Luanda com as populações que se amontoam nos bairros insalubres, bebem água contaminada, adoecem e morrem à beira de esgotos a céu aberto.

Os capitais que a clique Santos diz trazer para Portugal são o fruto do confisco da riqueza de um país e da opressão de um povo, vêm manchados de miséria e de vergonha e contaminam na nossa terra o que ainda nos resta de honorabilidade e de decência.

Em Lisboa, nas administrações dos grandes bancos e de certas grandes sociedades, tapa-se o nariz e afivelam-se sorrisos ao apresentarem o resultado como vitórias empresariais de que nos deveriamos orgulhar. E dessa forma dão cobertura e são cúmplices dos crimes passados, presentes e futuros daquela clique. De parceiros passamos a sócios.

Mas mais grave do que essa conivência de corruptos, é a ilusão de que esse caminho tem futuro. Quanto mais o Estado português se deitar na cama com o gangue dos generais, seus descendentes e comparsas, mais desprotegidos ficarão os portugueses que por lá tentam uma nova vida e mais comprometidas ficam as nossas relações futuras com os países de expressão portuguesa à medida que estes se forem democratizando.

Como diz a nossa gente, tão ladrão é quem vai à vinha como quem fica de fora.

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