Quando os ponteiros do relógio batem as 18:30, já várias pessoas estão concentradas junto à entrada dos serviços administrativos da Santa Casa da Misericórdia do Montijo. Aguardam em silêncio que lhes abram a porta, esperam pelas refeições que lhes vão alimentar as famílias, no jantar daquele dia.
É o caso de Ildiko Csomai, uma romena de 30 anos que está em Portugal há onze anos, e tem a seu cargo uma filha de oito anos.
“Estive a trabalhar sempre, mas fiquei sem trabalho. Na última empresa onde trabalhei saí sem ele [patrão] me pagar. Estou à espera do fundo de desemprego há dois meses, mas tenho de dar comida à minha filha e, graças a Deus, a Santa Casa da Misericórdia deu-me essa ajuda de poder vir buscar almoço e jantar. Não tenho vergonha”, contou à Lusa.
As 80 refeições servidas, entre 40 almoços e 40 jantares, são destinadas a 45 pessoas, distribuídas por 14 agregados familiares, explicou à Lusa a diretora técnica das cantinas sociais da SCMM.
Segundo com Cármen Fevereiro, 50 por cento daquelas pessoas pertenciam à classe média, e agora, resultado de um ou dois dos elementos do casal terem ficado desempregados ou de estarem numa situação de sobre-endividamento, acabam por não ter dinheiro para comprar comida.
“O rendimento ‘per capita’ mais elevado que temos é de onze euros”, adiantou.
A cantina social da SCMM é apenas uma das 950 que o Governo quer ter a funcionar de norte a sul do país, projeto para o qual o Ministério da Solidariedade e Segurança Social destinou 50 milhões de euros.
O provedor da SCMM explicou que o protocolo assinado com o Governo estabelece um teto máximo de 80 refeições por dia, pelas quais paga 200 euros, 2,5 euros por cada refeição.
O número é ultrapassado na lista de espera, que conta já com 20 famílias, em média constituídas por três pessoas. Feitas as contas, são 60 almoços e mais 60 jantares, num total de 120 refeições.
Na Santa Casa da Misericórdia do Montijo, a cozinha já existia e servia para confecionar as cerca de 700 refeições diárias para os utentes.
O objetivo do Governo, aliás, era esse mesmo, tendo o ministro da Solidariedade e Segurança Social adiantado que a rede de cantinas sociais seria uma resposta nacional às carências das famílias, que não passaria pela construção de novos equipamentos, mas antes pela maximização do que já existe no terreno.
À Lusa, o presidente do secretariado regional de Setúbal da União das Misericórdias Portuguesas adiantou que o primeiro distrito a ter direito a protocolo assinado para arrancar com as cantinas sociais foi o de Setúbal, dando prioridade aos concelhos com maiores problemas de desemprego.
“Nas zonas com mais população é onde existe mais desemprego e aqui, no distrito de Setúbal, fomos para os concelhos com mais desemprego (…), que são Almada, Seixal, Barreiro, Montijo, Palmela, Setúbal e Moita”, explicou Francisco Cardoso.
Destas, acrescentou, estão a funcionar para já apenas três, em Almada, Montijo e Barreiro, sendo a primeira uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).
A Lusa tentou obter do Instituto de Segurança Social o número total de cantinas sociais já em funcionamento e a sua localização, mas tal não foi possível.
Entretanto, em abril, abriram 26 cantinas sociais no distrito do Porto e, posteriormente, já em maio, arrancaram 16 no distrito de Santarém.