PORTUGAL, ONDE ME SINTO CADA VEZ MAIS DESCONSOLADO, DESCONFORTÁVEL, DESPROTEGIDO
8 de junho de 2012 15:29
ANTÓNIO D'ALMEIDA
Totalmente solidário,aplaudo o desabafo e ponho à vossa reflexão.
A Voz da Abita (na Reforma) 08/06/12
Recebido, por correio electrónico, do Contra-Almirante (R) António Rodrigues Cabral:
PORTUGAL, ONDE ME SINTO CADA VEZ MAIS DESCONSOLADO, DESCONFORTÁVEL, DESPROTEGIDO
1. Dizem alguns que - "a política é, antes do mais, uma questão de imaginário e de simbolismo. Muitos comportaram-se e, hoje, outros assim continuam, numa liderança onde conta é a velocidade, a energia e o voluntarismo que exprimem, numa permanente combinação da vertigem do movimento com a manipulação estatística e a amnésia do cidadão/espectador".
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2. Infelizmente parece-me, cada vez mais, que se pratica uma nauseabunda banalização do exercício político. Creio que nos últimos 22 anos esse exercício foi apondo no meu País uma impressão digital do tipo daquelas em que, depois de colocar o dedo na almofada preta, se marca o papel como se fosse um rolo da massa. Fica uma enorme borrada, prima muito afastada de uma verdadeira impressão digital.
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3. Ocorreu-me isto depois de mais uma série de episódios na vida do meu País, e da revisitação e reorganização dos meus armários carregados de livros, documentos e papeis, em que ando metido há já algum tempo. Aqueles episódios e as tralhas nos armários têm-me provocado muitos espirros. Por reacção alérgica aos comportamentos indecentes e à pouca vergonha despudorada, por alergia ao pó que sempre se acumula em coisas deixadas em descanso muitos anos.
. 4. Ensinaram-me na faculdade que o Direito, muito genericamente, é um sistema normativo complexo capaz de promover mudanças na sociedade, sem o objectivo de moralizar condutas, mas evitar perigos; pretende ordenar os aspectos fundamentais da convivência, um sistema portanto de normas de regulação de condutas sociais através de normas e princípios jurídicos assistido de proteção coactiva. Pretende, portanto, a conservação da sociedade e a realização pessoal dos seus membros, pretendendo o bem comum, atingindo justiça e segurança. Aprendi ainda, também muito genericamente, que um negócio jurídico é um acto jurídico praticado no exercício da autonomia privada, pelo qual as partes escolhem elas próprias os efeitos jurídicos a que ficarão subordinadas.
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5. Na ordem jurídica interna, aprende-se também na Faculdade de Direito de Lisboa, há hierarquia de leis e, por exemplo, despachos, recomendações ou resoluções quer a nível governamental ou mesmo da Assembleia da República não podem revogar legislação que lhes é superior.
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6. Já Fernando Pessoa escrevia décadas atrás, que o Estado nada tem a ver com o espírito. O Estado não tem o direito de me compelir nesse campo, como por exemplo também não tem o direito de me impor uma religião.
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7. Isto referido, 3 observações: a. como já vi expresso, em português uma mentira é uma mentira, não é uma "inverdade", não é uma "falta à verdade", não é "não disse a verdade", não é "omitiu a verdade", não é "ocultou a verdade".
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b. o regime não produziu nenhuma "elite". Juntam-se é muitas vezes ou os intervenientes mais improváveis ou sempre os mais que prováveis, verdadeiros falcões, que matam mas não comem as vitimas; vê-se o mesmo caldinho de sempre, aparecem sempre as mesmas caras conhecidas, com aparência de pertença a clubes diferentes.
c. Do futuro não sabemos nada.
8. Do futuro nada sabemos, de facto, mas repare-se em alguns aspectos do
presente:
.
a. desrespeito completo da hierarquia das leis, e de compromissos assumidos com os cidadãos
b. sempre as mesmas caras salvadoras da banditagem seja de que origem for
c. sempre o mesmo bafio nas comissões de revisão, nas de acompanhamento, nas
de arbitragem
d. estar horas à espera de atendimento numa consulta no SNS com uma idosa de
86 anos, consulta que muito custou e demorou a ser marcada, é sentir na pele, na carne, e já no osso.
e. dizem uns pantomineiros que "o nosso sistema é muito bom, agora o abuso que dele é feito é que é muito mau"
9. De facto, o Direito no meu País é para uns escassos cidadãos, que muito apregoam a cidadania, a liberdade, a fraternidade, a igualdade. Mas convém que fique só nas famílias deles. Como cidadão, sinto-me cada vez mais desconsolado, desconfortável, desprotegido. Se juntar a minha qualidade de militar, sinto-me vilipendiado.
António Cabral, Almirante, Reformado, 7 de Junho 2012 (escrito como estou
habituado)
PORTUGAL, ONDE ME SINTO CADA VEZ MAIS DESCONSOLADO, DESCONFORTÁVEL, DESPROTEGIDO
1. Dizem alguns que - "a política é, antes do mais, uma questão de imaginário e de simbolismo. Muitos comportaram-se e, hoje, outros assim continuam, numa liderança onde conta é a velocidade, a energia e o voluntarismo que exprimem, numa permanente combinação da vertigem do movimento com a manipulação estatística e a amnésia do cidadão/espectador".
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2. Infelizmente parece-me, cada vez mais, que se pratica uma nauseabunda banalização do exercício político. Creio que nos últimos 22 anos esse exercício foi apondo no meu País uma impressão digital do tipo daquelas em que, depois de colocar o dedo na almofada preta, se marca o papel como se fosse um rolo da massa. Fica uma enorme borrada, prima muito afastada de uma verdadeira impressão digital.
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3. Ocorreu-me isto depois de mais uma série de episódios na vida do meu País, e da revisitação e reorganização dos meus armários carregados de livros, documentos e papeis, em que ando metido há já algum tempo. Aqueles episódios e as tralhas nos armários têm-me provocado muitos espirros. Por reacção alérgica aos comportamentos indecentes e à pouca vergonha despudorada, por alergia ao pó que sempre se acumula em coisas deixadas em descanso muitos anos.
. 4. Ensinaram-me na faculdade que o Direito, muito genericamente, é um sistema normativo complexo capaz de promover mudanças na sociedade, sem o objectivo de moralizar condutas, mas evitar perigos; pretende ordenar os aspectos fundamentais da convivência, um sistema portanto de normas de regulação de condutas sociais através de normas e princípios jurídicos assistido de proteção coactiva. Pretende, portanto, a conservação da sociedade e a realização pessoal dos seus membros, pretendendo o bem comum, atingindo justiça e segurança. Aprendi ainda, também muito genericamente, que um negócio jurídico é um acto jurídico praticado no exercício da autonomia privada, pelo qual as partes escolhem elas próprias os efeitos jurídicos a que ficarão subordinadas.
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5. Na ordem jurídica interna, aprende-se também na Faculdade de Direito de Lisboa, há hierarquia de leis e, por exemplo, despachos, recomendações ou resoluções quer a nível governamental ou mesmo da Assembleia da República não podem revogar legislação que lhes é superior.
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6. Já Fernando Pessoa escrevia décadas atrás, que o Estado nada tem a ver com o espírito. O Estado não tem o direito de me compelir nesse campo, como por exemplo também não tem o direito de me impor uma religião.
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7. Isto referido, 3 observações: a. como já vi expresso, em português uma mentira é uma mentira, não é uma "inverdade", não é uma "falta à verdade", não é "não disse a verdade", não é "omitiu a verdade", não é "ocultou a verdade".
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b. o regime não produziu nenhuma "elite". Juntam-se é muitas vezes ou os intervenientes mais improváveis ou sempre os mais que prováveis, verdadeiros falcões, que matam mas não comem as vitimas; vê-se o mesmo caldinho de sempre, aparecem sempre as mesmas caras conhecidas, com aparência de pertença a clubes diferentes.
c. Do futuro não sabemos nada.
8. Do futuro nada sabemos, de facto, mas repare-se em alguns aspectos do
presente:
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a. desrespeito completo da hierarquia das leis, e de compromissos assumidos com os cidadãos
b. sempre as mesmas caras salvadoras da banditagem seja de que origem for
c. sempre o mesmo bafio nas comissões de revisão, nas de acompanhamento, nas
de arbitragem
d. estar horas à espera de atendimento numa consulta no SNS com uma idosa de
86 anos, consulta que muito custou e demorou a ser marcada, é sentir na pele, na carne, e já no osso.
e. dizem uns pantomineiros que "o nosso sistema é muito bom, agora o abuso que dele é feito é que é muito mau"
9. De facto, o Direito no meu País é para uns escassos cidadãos, que muito apregoam a cidadania, a liberdade, a fraternidade, a igualdade. Mas convém que fique só nas famílias deles. Como cidadão, sinto-me cada vez mais desconsolado, desconfortável, desprotegido. Se juntar a minha qualidade de militar, sinto-me vilipendiado.
António Cabral, Almirante, Reformado, 7 de Junho 2012 (escrito como estou
habituado)
ANTÓNIO D'ALMEIDA
Ex-Aluno dos Pupilos do Exército
Bacharel em Contabilidade
Licº Ciências Militares/AM (Ref)
Gestor de Empresas (Ref)
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