O Estado a que chegámos
por Sérgio Lavos

passou despercebido a quase toda a gente: Álvaro Santos Pereira, numa entrevista dada a seguir ao anúncio do programa de revitalização da economia, diz que quando um seu secretário de Estado saiu, houve gente que abriu garrafas de champanhe.
A quem estava ele a referir-se?
A
Henrique Gomes, o homem que ousou enfrentar os lobbies da energia em
Portugal e que pretendia fazer baixar as rendas excessivas da EDP.
Extraordinário
país,
este, em que um ministro admite em público que um dos seus secretários
de Estado foi demitido por tentar defender o Estado (que somos todos
nós) dos interesses privados que o parasitam. E por quem foi ele
demitido? Pelo primeiro-ministro, claro.
A
história é simples, e contada pelo próprio Henrique Gomes: duas horas
após ter sido entregue ao primeiro-ministro o relatório onde se defendia
uma taxa sobre as rendas da EDP, já António Mexia, um dos homens mais
poderosos do país, conhecia o seu conteúdo. Henrique Gomes tinha o apoio
do seu superior directo, o ministro, mas deparou-se rapidamente com as
dificuldades inerentes ao estado corporativo em que vivemos.
Passos
Coelho
(ou alguém por ele), assim que vislumbrou algo que de facto poderia
fazer pouparmuito dinheiro ao Estado, apressou-se a contactar quem na
realidade ele serve, o poder económico e financeiro. É claro que Mexia
não poderia tolerar tal afronta, e rapidamente o secretário de estado
foi exonerado, e apresentada uma pífia razão para o seu afastamento.
Numa
democracia avançada, este caso por si só seria razão para a queda do
Governo. Imaginemos por exemplo o escândalo que não seria Obama afastar
um membro da sua equipa por influência de um dos poderosíssimos lobbies
de Washington. Pois.

Mas
não
vivemos. Este é o pais que, de ano para ano, vai caindo mais no ranking
internacional sobre a percepção da corrupção. Este é o país em que a
direita sobe ao poder no meio de uma gravíssima crise de
sobreendividamento e consegue ir buscar 21 000 milhões de euros à classe
média e aos mais desfavorecidos, deixando os intocáveis e inimputáveis
do país continuarem a prosperar e a fazer os seus negócios.

É
a direita que nunca irá tocar nas rendas energéticas que beneficiam a
EDP e outras empresas privadas, porque os seus aliados naturais são a
banca e as corporações que vampirizam o país.

Estas
corporações
são e serão protegidas enquanto esta direita se mantiver no poder.
Haveremos de estar a pão e água, que a EDP, a Galp, as empresas de
telecomunicações e os bancos continuarão a manter as suas rendas,
benesses e lucros intocados. Nada é mais certo do que isto, custe o que
nos custar.
Entretanto
as Empresas continuam a fechar, pois não conseguem competir com outros
países, devido aos encargos com a energia (Gás e Electricidade), como
está em vias de acontecer com a Siderurgia Nacional, que se as coisas
continuarem assim, deslocar-se-á para Espanha..
Sem comentários:
Enviar um comentário