O Bloco já não é bom como o milho
(imagem obtida aqui)
É o que diz Henrique Raposo no Expresso on line do segundo dia do mês de Setembro do Ano da Graça de 2013:
Na
última década e meia, o Bloco foi a gaja boa do pedaço, o mulherão
mediático que toda a gente queria mimar com piropos, que clube tão sexy,
sei lá. Esta confederação radical apresentava uma agenda de costumes
que encaixava no ambiente de Lisboa e tinha figuras que passavam bem na
TV. Louçã e demais vigários de cabeção vermelho eram bons marketeiros,
quais metralhadoras de frases de efeito que faziam as delícias do
repórter preguiçoso. Para sublinhar esta sensualidade política,
recorde-se ainda que a agremiação tinha miúdas giras numa versão óbvia e
felliniana (Joana Amaral Dias) e numa versão ínvia e timburtoniana (Ana
Drago).
Entretanto,
as coisas mudaram. A agenda fracturante esgotou o espaço da
razoabilidade. Resultado? Os bloquistas têm de esticar a corda até ao
absurdo, até ao humor involuntário. Por exemplo, já vi gente a namorar
um "estudo científico" que garante que os gays são melhores pais do que
os heterossexuais. Que estudo tão científico, tão progressista, tão
sexy. Ora, a ideia de proibir legalmente os piropos encaixa como uma
luva neste fim de linha simultaneamente cómico e totalitário. Sim, à
primeira vista, isto parece piada. Proibir piropos? Se ouvir um pedreiro
derramar um "és tão boa" sobre uma cidadã curvilínea, um polícia deve
autuar o pedreiro de imediato? E o pedreiro loquaz paga a multa com
multibanco? Mas debaixo deste humor involuntário encontramos algo mais
sério: a velha pulsão totalitária dos comunismos que fundaram o Bloco, o
desejo de controlar todos os aspectos da vida quotidiana, de padronizar
todos os indivíduos segundo uma cartilha, de extirpar todas as pequenas
imperfeições que não seguem essa cartilha.
Por
outras palavras, o Bloco já não é bom como o milho. É uma velha com
buço. Sem a agenda sexy, sem marketeiros e sem fellinianas, este partido
ostenta um buço igualzinho ao do PCP. Sim, claro, é um buço muito
progressista, muito de esquerda, sei lá, mas não deixa de ser um buço.
E, buço por buço, prefiro o da Odete Santos.
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