O Processo
25 Outubro, 2013
É no ónus da prova que reside o problema. Cabe a cada português, tendo a infelicidade de se apanhar na rocambolesca encenação, apresentar a prova da sua inocência e não o inverso. A responsabilização individual não existe: todos são culpados até à impossível prova de inocência. “Eles são todos iguais”, “ladrões”, “corruptos”… Todos são corruptos até à irrealizável demonstração de idoneidade. Paira um homem-de-palha sobre cada um que expresse opinião divergente do tribunal popular, normalmente visível da acusação de este estar a soldo de alguém, frequentemente o inimigo do momento, o “traidor” do pensamento único na ditadura formal do politicamente correcto.
A justiça popular portuguesa condenou Kate McCann (a que “chora como uma jogadora de poker”) e absolveu Sócrates através da destruição de escutas. Vivemos bem com isso, elegendo heróis e criminalizando vilões, colmatando um sistema de justiça burocrático-hierárquico com a sobranceria arrogante de democratas encartados com capacidades psíquicas de análise do bem e do mal.
A verdade não importa. Importa apenas a narrativa que se constrói do que poderia ser verdade se não fosse apenas uma das infinitamente possíveis mentiras. O reflexo primário desta postura reside no termo “inverdade”, o tal que permite atribuir culpas sem o peso formal de acusação da mentira.
Criminalizamos uma pela cara e absolvemos outro pela destruição de eventuais provas. É, vai tudo correr bem.
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