quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Mayor de Toronto assume ter fumado crack ao fim de seis meses de acusações

Polémica começou em Maio com vídeo em que Rob Ford apareceria a fumar a substância feita à base da cocaína. Governante negou sempre, mas agora admitiu que estaria alcoolizado quando o fez, garantindo que não é viciado e que vai continuar no cargo.

Depois de seis meses de polémica, quando foi acusado pela primeira vez em Maio de ter fumado crack, uma substância feita à base de cocaína e altamente viciante, o mayor de Toronto veio agora assumir que o fez há um ano mas que foi um episódio isolado e que tenciona manter-se no cargo.
“Fizeram-me uma pergunta em Maio e podem repeti-la”, começou por dizer Rob Ford, surpreendendo o grupo de jornalistas e fotógrafos que o esperavam numa conferência de imprensa. “Sim, eu fumei crack. Mas sou um viciado? Não. Experimentei? Provavelmente numa das minhas bebedeiras, provavelmente há um ano”, disse o mayor, citado pelo New York Times.
Contudo, o governante da cidade do Canadá garantiu que não tem mentido, justificando que a pergunta não tem sido formulada da maneira certa — perguntaram-lhe se ele inalara cocaína e se era viciado, quando o que fez foi fumar crack e apenas para experimentar, nem se lembrando bem das circunstâncias, diz o mayor. “Eu não estava a mentir. Vocês não fizeram as perguntas correctas”, insistiu, pedindo depois desculpa pelos erros e assumindo que nem se lembra de algumas coisas do vídeo.
Sair do cargo… só com eleições
Ainda citado pelo mesmo jornal, o mayor garantiu, contudo, que vai manter-se no cargo, mas que sabe que para isso terá de “reconquistar a confiança” da cidade. “Fui eleito para fazer um trabalho e é exactamente isso que continuarei a fazer”, concluiu. A ABC acrescenta que o governante remeteu quaisquer decisões para as eleições de Outubro de 2014, onde deverá deixar a decisão de continuar no cargo nas mãos da população.

Já no domingo, durante um programa de rádio, Ford tinha admitido que de vez em quando fica alcoolizado mas nunca abordou o tema da cocaína. Em relação ao álcool tem sempre negado um problema de dependência, apesar de reconhecer que deve fazer um esforço para se manter longe das bebidas. Só que, segundo a BBC, ao contrário do que seria de esperar, a popularidade de Ford subiu quatro pontos percentuais, para os 44% nos últimos dias.
A confissão de Ford surge depois de, na semana passada, o chefe da polícia de Toronto, William Blair, ter confirmado que conseguiu obter o polémico vídeo que desencadeou toda a polémica em Maio, altura em que vieram a público informações sobre a existência de uma gravação, vista por apenas três pessoas, mas que ameaçava fazer cair Rob Ford, um político controverso que habituou a cidade canadiana ao seu comportamento agressivo. Nas imagens, o mayor apareceria a consumir crack.
O director do site de informação norte-americano Gawker e dois jornalistas do jornal Toronto Star foram chamados a ver o vídeo para ver se o queriam comprar e, apesar de não o terem feito (eram pedidos 100 mil dólares e não era possível confirmar se a informação era fidedigna), todos ficaram convencidos de que a figura que aparecia era, de facto, em tudo idêntica a Ford. O Toronto Star optou por fazer um editorial onde defendeu que o governante devia explicações à cidade. O Gawker, como o jornal canadiano The Province, lançaram, na altura, petições online para recolher o dinheiro necessário à compra das imagens. A oposição insistiu na sua demissão.
Na altura, o mayor reagiu aos pedidos de explicações que se sucederam dizendo que a acusação era “ridícula” e não passava “de mais uma história do Toronto Star” para o descredibilizar. O seu advogado ameaçou os jornalistas com processos de difamação e disse estar ainda a tentar perceber “se o tal vídeo existe e se foi adulterado ou manipulado”.
Uma série de polémicas
Esta é apenas a última de uma longa lista de suspeitas lançadas contra o mayor, eleito em 2010 com a promessa de pôr fim à “guerra aos carros” na cidade (uma acusação que fez ricochete quando foi filmado a ler documentos enquanto guiava num viaduto de Toronto). No início do ano, um tribunal de apelação anulou uma anterior decisão judicial de perda de mandato por alegado conflito de interesses num caso em que era acusado de ter recebido dinheiro para uma equipa de futebol da qual é treinador. Dois meses depois, a antiga rival na corrida à Câmara de Toronto acusou-o de a ter tocado de "forma imprópria" quando assistiam a uma cerimónia pública.

Mas Ford começou a construir a sua reputação há mais de dez anos, quando era apenas membro da assembleia municipal. Num vídeo de uma sessão, em 2003, Ford diz sentir-se “insultado” com a proposta para a criação de um centro para pessoas sem-abrigo na zona onde residia, num subúrbio de Toronto. Em vez de uma “reunião pública” para discutir o assunto, “não será melhor fazer um linchamento em público?”, perguntou na altura. Noutras imagens, de 2007, o autarca diz lamentar a morte de ciclistas em acidentes rodoviários na cidade, mas acrescenta: “No final de contas, a culpa é deles”.







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