sábado, 25 de janeiro de 2014

jornais

Vergonha na Justiça e dos jornais

Henrique Monteiro

Há casos que me enchem de vergonha. Digo daquela vergonha de ser português, de termos certas particularidades vingativas, invejosas ou intolerantes. Depois, penso que os outros povos também as devem ter e reconcilio-me.
Isto vem a propósito da criança que desapareceu na Madeira, tendo aparecido três dias mais tarde. Ou dos jovens que morreram na praia do Meco de forma mais ou menos inexplicada. Com uma facilidade enorme insinuam-se acusações (escusam de vir dizer que são os jornalistas, eu sei que são jornalistas e polícias e magistrados, embora não sabendo onde começa a onda, sei que passa por estes três vértices, pelo menos). No caso do bebé madeirense de 18 meses colocaram-se várias hipóteses, entre as quais a de rapto, porque um bebé não aguentaria vivo três dias. A ideia parece plausível, mas os pediatras Paula Valente e Mário Cordeiro (este último com vasta obra publicada afirmam - sublinhando não conhecer os contornos do caso, como aliás ninguém parece conhecer - que isso não é bem assim. Diz Mário Cordeiro, a meu ver, com bastante propriedade: "O ser humano tem a capacidade intrínseca, resultante de muitos milhares de anos de história ancestral que estão na nossa memória antropológica de sobreviver em condições extremas". Pois é, o mundo não começou ontem, nem sequer no ano em que fundaram a polícia.
No caso do Meco, há ténues insinuações contra um jovem que sobreviveu. O jovem pode estar em estado de choque pela perda simultânea de seis amigos e além disso ainda ser injustamente acusado, mas que interessa? É preciso um culpado! Nada pode acontecer sem que haja um culpado!
Claro que eu não faço ideia o que aconteceu, apenas sublinho que não se pode ter esta ligeireza na abordagem dos temas, porque há precedentes incomodativos.
Por exemplo, quando se acusou os pais de Maddie (chegaram a ser constituídos arguidos) sem a mínima consistência, ou casos ainda mais estranhos como o de Leonor Cipriano, presa depois de torturada na própria sede da PJ de Portimão, acusada de matar a filha cujo corpo jamais apareceu.
Tem de haver culpados, tem de haver culpados! Isto berra a multidão e clamam os jornais! Não é novo, mas é sempre chocante ver como a natureza humana não evoluiu significativamente.  Talvez por um estranho atavismo, continuemos a delirar com os novos modelos de crucifixões, de autos-de-fé ou de fuzilamentos na praça pública.
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