terça-feira, 4 de março de 2014

A Ucrânia e a inutilidade europeia

Henrique Monteiro
Os acontecimentos da Ucrânia não têm sido suficientemente transparentes para que se possa ter deles uma opinião definitiva. Salvo esta: a Europa, apesar de querer ter uma política externa comum é uma inutilidade. Enquanto reúnem e refletem infinitamente sobre o assunto, os EUA agem. Nem sempre bem, com erros, é certo. Mas o tempo não corre a favor da paz na região, pelo que é urgente que alguém atue e depressa.
Merkel, em conversa telefónica com Obama, afirmou que, depois de falar com Putin, não tinha a certeza de que ele compreendesse bem onde se estava a meter. Porque ao contrário do que se passou até aqui - salvo no caso da Geórgia (e nesse caso o Ocidente permitiu que a Rússia ficasse com a área de influência que pretendia), o conflito entre as velhas superpotências é quase direto. A Ucrânia sempre deixou claro que desmantelava as suas ogivas (como o fez), mas exigia respeito pela sua unidade territorial. Foi firmado um acordo que envolveu as grandes potência e que os russos estão a colocar em causa, apesar de terem sido eles, justamente, além dos europeus os beneficiários principais do desarmamento de Kiev.
Acresce que a Ucrânia ainda é o maior país da Europa (com as fronteiras integralmente na Europa) e aquele que tem o maior exército, após a Rússia. Não é a pequenina Geórgia, nem nenhum dos outros focos de conflito EUA/Rússia. Além disso, perante a aprovação de uma ação militar por parte dos russos, mobilizou todos os seus inúmeros reservistas. 
A suspensão dos preparativos para a reunião do G-8 em Sochi (Rússia) e as pressões que internamente Obama está a sofrer para ser duro com os russos, não auguram nada de bom. Tanto mais que muitos analistas americanos acham que o presidente Obama foi brando na questão Síria  (aderindo demasiado rapidamente às propostas de Putin) e que este é mais um teste do ex-coronel do KGB aos nervos e coragem dos americanos. A exigência de firmeza face a Moscovo é simples de dizer, mas difícil de concretizar, sem se lançar o mundo numa aventura cuja saída se desconhece.
Ao mesmo tempo, na própria Rússia, depois de uma queda sem precedentes da Bolsa (indicadores que não existiam por lá no passado), há mais apelos à prudência. 
E da Europa, em nome de quem se fizeram as enormes manifestações anti-russas em Kiev e noutras cidades ucranianas? Pois não sabemos de nada... Há a Lady Catherine Ashton com o pomposo título de Alta Representante da União Europeia para os Assuntos Externos que apelou à paz e parece que ontem se fez uma reunião de ministros de Negócios Estrangeiros cheia de intenções piedosas.
Mas de uma vez por todas a Europa tem de dizer claramente o que quer: ou reconhece que os países que eram da ex-URSS (salvo os três bálticos que já estão na UE) são da área de influência russa, ou reivindica, por princípio, a liberdade desses países para fazerem o que entenderem. Não podia era fingir que a Ucrânia vivia em democracia, após a duvidosa vitória do pró-russo Viktor Yanukovich, e depois apoiar golpes palacianos contra os regimes desses países. 
E também foi isso que aconteceu em Kiev.

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