A Ucrânia e a inutilidade europeia
Os acontecimentos da Ucrânia não têm sido
suficientemente transparentes para que se possa ter deles uma opinião
definitiva. Salvo esta: a Europa, apesar de querer ter uma política
externa comum é uma inutilidade. Enquanto reúnem e refletem
infinitamente sobre o assunto, os EUA agem. Nem sempre bem, com erros, é
certo. Mas o tempo não corre a favor da paz na região, pelo que é
urgente que alguém atue e depressa.
Merkel, em conversa telefónica com Obama, afirmou que,
depois de falar com Putin, não tinha a certeza de que ele compreendesse
bem onde se estava a meter. Porque ao contrário do que se passou até
aqui - salvo no caso da Geórgia (e nesse caso o Ocidente permitiu que a
Rússia ficasse com a área de influência que pretendia), o conflito entre
as velhas superpotências é quase direto. A Ucrânia sempre deixou claro
que desmantelava as suas ogivas (como o fez), mas exigia respeito pela
sua unidade territorial. Foi firmado um acordo que envolveu as grandes
potência e que os russos estão a colocar em causa, apesar de terem sido
eles, justamente, além dos europeus os beneficiários principais do
desarmamento de Kiev.
Acresce que a Ucrânia ainda é o maior país da Europa
(com as fronteiras integralmente na Europa) e aquele que tem o maior
exército, após a Rússia. Não é a pequenina Geórgia, nem nenhum dos
outros focos de conflito EUA/Rússia. Além disso, perante a aprovação de
uma ação militar por parte dos russos, mobilizou todos os seus inúmeros
reservistas.
A suspensão dos preparativos para a reunião do G-8 em
Sochi (Rússia) e as pressões que internamente Obama está a sofrer para
ser duro com os russos, não auguram nada de bom. Tanto mais que muitos
analistas americanos acham que o presidente Obama foi brando na questão
Síria (aderindo demasiado rapidamente às propostas de Putin) e que este
é mais um teste do ex-coronel do KGB aos nervos e coragem dos
americanos. A exigência de firmeza face a Moscovo é simples de dizer,
mas difícil de concretizar, sem se lançar o mundo numa aventura cuja
saída se desconhece.
Ao mesmo tempo, na própria Rússia, depois de uma queda
sem precedentes da Bolsa (indicadores que não existiam por lá no
passado), há mais apelos à prudência.
E da Europa, em nome de quem se fizeram as enormes
manifestações anti-russas em Kiev e noutras cidades ucranianas? Pois não
sabemos de nada... Há a Lady Catherine Ashton com o pomposo título de
Alta Representante da União Europeia para os Assuntos Externos que
apelou à paz e parece que ontem se fez uma reunião de ministros de
Negócios Estrangeiros cheia de intenções piedosas.
Mas de uma vez por todas a Europa tem de dizer
claramente o que quer: ou reconhece que os países que eram da ex-URSS
(salvo os três bálticos que já estão na UE) são da área de influência
russa, ou reivindica, por princípio, a liberdade desses países para
fazerem o que entenderem. Não podia era fingir que a Ucrânia vivia em
democracia, após a duvidosa vitória do pró-russo Viktor Yanukovich, e
depois apoiar golpes palacianos contra os regimes desses países.
E também foi isso que aconteceu em Kiev.
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