De: Contra os Canhões
Data: 21-09-2010 1:52:22
Para: Undisclosed-Recipient:,
Assunto: PROCESSO CASA PIA
Resposta a Miguel Gaspar
PROCESSO CASA PIA
(…) Oito anos depois, ficámos todos reféns da dúvida (sobre culpabilidade de Carlos Cruz).
Miguel Gaspar, in “Pública” de 19-8-2010
Já não bastava praticamente todas as TVs (e nomeadamente a do Estado) terem dado uma “mãozinha” a Carlos Cruz na defesa da sua “honorabilidade”, agora vem o “Público” através do seu director-adjunto, Miguel Gaspar, afirmar que todos estamos reféns da dúvida da sua culpabilidade!
Por “amor de Deus”, parem com tanta hipocrisia e deixem de fazer pressão sobre um sistema judicial que já sabemos ser tão frágil…
De facto, em texto da primeira semana de Agosto postado na net, (de onde um semanário retirou para publicação), eu “lembrava a vergonha do processo Casa Pia, chamando-lhe mesmo um monstro jurídico, onde ninguém ficava bem no «retrato» que se fizer posteriormente”.
O alvo da minha crítica eram os juízes, que tinham deixado arrastar o processo durante todos aqueles anos, mas pensando nas vítimas e em todo o seu sofrimento ao longo de tão escabroso caso judicial. E escrevia assim em relação a tal “retrato”:
(…) Nem os professores universitários que têm vindo a colaborar com os sucessivos governos, nas alterações do Código Penal e do Código de Processo Penal e assim permitindo os mais variados incidentes e recursos, nem os partidos políticos que lhes deram a necessária cobertura legislativa. Desde o 25 de Abril a grande preocupação dos diferentes legisladores tem sido a defesa dos direitos dos arguidos (possíveis criminosos, para todos perceberem), esquecendo-se normalmente dos direitos das vítimas e dos agentes de polícia, que diariamente arriscam a vida no combate ao crime. E cada vez com maiores riscos nos tempos actuais. …)
A “grande dúvida” de Miguel Gaspar e de “todo o povo português”
Agora eu fico pasmado como é possível um jornal como o “Público” ter posto um jornalista a publicar um texto de defesa do condenado Carlos Cruz, apenas porque ele consegue ser um bom artista de teatro e um grande comunicador televisivo…. Afirma então:
(…) Depois de oito anos de pesadelo colectivo só uma condenação poderia ter esse efeito de alívio colectivo. O grande comunicador desfez esse efeito. Foi um magnífico espectáculo. Ele aspirava apenas a uma coisa. Não queria provar-nos que estava inocente. Queria só que duvidássemos e que ficássemos prisioneiros dessa dúvida. Conseguiu. Parou o País e o Pais hesitou. (…)
Olhe que não, olhe que não, sr. Jornalista! Os portugueses não são estúpidos e não gostam de “comer gato por lebre”. Carlos Cruz está no seu direito de continuar a sua defesa, mas no local onde todos os cidadãos a fazem: nos Tribunais. Nem o “grande entertainer e o homem em quem todo o País confiava”, na opinião deste jornalista, deve ter mais direitos que os restantes cidadãos.
No centenário da implantação da República tentemos todos ser republicanos e defender a Justiça montada nesta República, dentro do princípio da “Igualdade e Fraternidade” e não contemporizando com os desmandos e as injustiças praticadas. Quando o jornalista aplicou aquele título “O Homem da Dúvida”, ao seu texto, terá sugerido aquela máxima da Justiça, “Na dúvida para o réu”, isto é, quando os julgadores têm dúvidas sobre a culpabilidade dos arguidos devem absolvê-los e mandá-los em paz… Claro que isto terá que ver com a decisão a tomar pelos tribunais superiores e onde será ratificada ou não a sentença agora aplicada.
Lembrando que Miguel Gaspar em todo este seu texto laudatório a Carlos Cruz não escreveu uma única palavra em relação à crítica situação e ao martírio vivido por muitas das vítimas deste processo, apenas lhe faço uma pergunta. Se uma das vítimas fosse seu familiar teria a mesma postura?
Manuel Bernardo – 19-9-2010
PS: A quem quiser divulgar na net ou publicar este texto em algum OCS, chamo a atenção para o facto de eu não permitir qualquer corte, “por razões de espaço”. Ou tudo ou nada…
Sem comentários:
Enviar um comentário