Perda de direitos dos militares pode conduzir a uma nova revolução
por LusaHoje
Para o "capitão de abril" bastam 800 militares para derrubar um governo, mas "um novo 25 de Abril" só deverá acontecer com a perda de direitos dos militares.
Em entrevista à Agência Lusa, a propósito do livro "O dia inicial", que conta o 25 de Abril "hora a hora", Otelo reconhece que, ao contrário da sociedade em geral, os militares não têm demonstrado grande indignação pelo estado do país.
"Os militares pertencem à classe burguesa, estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a sua reforma diminuída". Mas a situação pode mudar, na perspectiva deste obreiro da "revolução dos cravos", para quem "a coisa começará a apertar, no dia em que os militares perderem os seus direitos".
"Se isso acontecer", sublinhou, "é possível que se criem as tais condições necessárias para que haja um novo 25 de Abril".
Otelo Saraiva de Carvalho lembrou que o movimento dos capitães iniciou-se precisamente por "razões corporativistas", nomeadamente quando "os militares de carreira viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos que, através de um decreto-lei de um governo desesperado por não ter mais capitães para mandar para a guerra colonial, permite a entrada desses antigos milicianos".
"Esses capitães são rapidamente promovidos a majores e ultrapassam os capitães que estavam a dar no duro e tinham quatro anos de curso", adiantou. Otelo lembra que, "quando tocam nos interesses da oficialidade, ela começa a reagir. Há 37 anos, essa reação foi o movimento de capitães", que culminou no derrube de um regime com 48 anos.
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