sábado, 22 de setembro de 2012



Ao compasso do tempo…

Inaceitável! Indecente! Indecoroso!
Brasilino Godinho
01. Povo em doloroso transe
O povo de Portugal, na parte maioritária mais genuína e (nas perversas condições actuais), excessivamente sofredora e explorada, está farto dos espectáculos bacocos e das linguagens estultas da maior parte dos políticos que ocupam a praça pública. E não só do circo grotesco, da paródia sensaborona e do palavreado descabido. Também da corrupção que, qual erva daninha, cresce desmesuradamente. Igualmente do compadrio e do tráfico de influências e participação de interesses que subvertem a coesão social e são formas de domínio por parte de poderes que manobram nos sombrios túneis por onde prolifera a impunidade e a audácia de gente sem vergonha e nenhuns escrúpulos.
Mas, pior para o cidadão português é sentir a toda a hora a traiçoeira e repugnante agressão gratuita à sua integridade moral e (ou) física; o ataque à dignidade da pessoa; o contínuo empobrecimento; a falta de liberdade; a censura e a repressão dos que protestam; a tentada e persistente manipulação das consciências; a privação dos meios de subsistência; e a impossibilidade de tantos carenciados pagarem os tratamentos médicos. E, ainda, no caso dos reformados, ter ocorrido o incrível esbulho das suas pensões de que o Estado era fiel depositário (agora o Governo, travestido de Estado omnipotente e ditatorial, mostra-se infiel e desprezível apropriador).
Por todas estas razões de suma importância o Povo está, actualmente, desiludido, inquieto e revoltado. Em primeiro lugar, deu-se conta de que Portugal - ora possuído por uma casta de oportunistas, de impreparados e de desavergonhados actores de baixa política destituídos quer de sensibilidade e competência, quer de algum vago resquício de interesse pelo Bem Comum - está prosseguindo uma via de extinção como Nação independente e de desgraça colectiva. Em segundo lugar, tomou consciência da sua condição de explorado, de vítima e de que está indefeso, desprotegido, vilipendiado, à mercê de todas as violências e arbitrariedades dos detentores e lacaios do Poder.
E assim compenetrado da situação em que está envolvido, houve por bem traduzir seu estado de espírito no p.p. dia 15 de Setembro ao descer às ruas para manifestar, inequivocamente, que repudia e despreza todos esses fautores da sua desgraça. Mais, não confia nessa gente. Outrossim, veio protestar com veemência contra as políticas de destruição dos tecidos social, industrial e comercial que vêm sendo prosseguidas pelo desgoverno nacional.
02. Inaceitável! Indecente! Indecoroso!
Quer o modo de dizer, o jeito de estar e o expediente de fazer, dos políticos e governantes que, abusivamente, nos atormentam.
Tudo isto, de composição aberrante e de aspecto, forma e sentido, nitidamente ofensivos para o genuíno ser português, se consubstancia na hipocrisia e no cinismo vigentes na sociedade.
E desde logo é, precisamente, na expressão “o governo está a pedir sacrifícios aos portugueses”, muito usada pelos governantes, políticos, comentadores, jornalistas e locutores de rádio e televisão, que está implícita a desfaçatez de quem, assim levianamente e pela rama, trata as questões de maior importância. Também, realçada a impropriedade semântica. Igualmente denunciada a inconformidade objectiva do seu intrínseco conteúdo.
Pois que a gritante verdade é que o Governo não pede coisa nenhuma. Nem exige. Se pedisse, sujeitava-se a uma recusa. Se exigisse, haveria sempre um qualquer expediente a que recorrer para ignorar, iludir ou contornar a exigência.
O que o Governo faz é impor! Com arrogância, rigor e severidade! Pior, ainda, com o maior autoritarismo e descaro. E “Custe o que custar”, conforme proclama sem quaisquer sentidos de justiça e de solidariedade para com os cidadãos mais desfavorecidos. O que é factor não despiciendo, visto que aos governantes, políticos e poderosos o “custar” não lhes afecta minimamente; ou seja: nem, sequer, a ponta de um chavelho.
Concluindo: tudo o que está acontecendo em Portugal, nos domínios da desgovernação, é:
INACEITÁVEL! INDECENTE! INDECOROSO!

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