quarta-feira, 22 de maio de 2013




Posted: 21 May 2013 03:05 AM PDT
Um graffiti do artista Nomen foi coberto com tinta cinzenta. Relvas e maçonaria eram os visados.

Por: Frederico Duarte Carvalho, jornalista e escritor (blog - facebook)


A zona das Amoreiras, mais concretamente a Avenida Conselheiro Fernando Sousa, é “tela” para muitos graffitis. Entre os trabalhos mais emblemáticos podemos encontrar os líderes da actual coligação governamental, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, como marionetas da chanceler alemã, Angela Merkel. Há também um Passos Coelho pistoleiro e um grande “Pray for us Portugal”. O artista que assina estes trabalhos é o mesmo: Nomen. Nascido em Angola em 1974, este é um nome que se foi impondo na arte de rua, sendo uma referência mediática.

Em Março passado, Nomen apresentou uma obra dedicada à licenciatura do então ainda ministro Miguel Relvas. Estava localizada uns metros mais à frente dos outros trabalhos, ao chegar à esquina da Rua Marquês de Fronteira. Era um mural com alguma visibilidade, já que beneficiava de um semáforo que obrigava os automobilistas a pararem, permitindo assim bastante tempo para admirar todos os detalhes do graffiti.
“Faço estes murais para envergonhar as pessoas. Porque sei que eles têm que passar ali com os motoristas, que os amigos vão falar disso, é só para os envergonhar. Sei que não tem qualquer impacto político”, disse Nomen ao jornal Diário de Notícias na altura em que fez apresentação do trabalho dedicado a Miguel Relvas.


No graffiti, para além da figura do ministro e um Zé Povinho vestido como se fosse o fundador de Portugal, o rei D. Afonso Henriques, também se podia ver referências à maçonaria. Estava lá o desenho de um esquadro e compasso, o olho que tudo vê e ainda um livro com o título “Loja Universalis”. Esta última será a loja do Grande Oriente Lusitano, GOL, à qual Miguel Relvas pertence. Em destaque, o autor escreveu ainda: “A maçonaria não manda aqui”.

Mural que falava do Relvas e da Maçonaria foi apagado
O antes e o depois

Só que o mural foi recentemente apagado. Alguém decidiu tapar tudo com tinta cinzenta, respeitando todos os outros murais à volta, pintando apenas os limites daquele trabalho dedicado ao caso Miguel Relvas… O autor soube do acto de censura através de uma conhecida e, na segunda-feira de manhã, passou pelo local para deixar uma última mensagem aos autores do feito.
O Tugaleaks entrevistou Nomen sobre o sucedido.


O que o levou a fazer aquele mural?

Eu pinto acerca da actualidade e tento dar mais força e ênfase às notícias e à informação que me rodeia no quotidiano e dela tentar destrinçar o certo e errado. Digamos que o Relvas estava “mais a jeito” porque é um ultraje para o sistema educativo, governo e cidadanismo.

Teve alguma reacção diferente de outros que já tenha feito e que seja digno de registo? Aquele envolvia referência directas à maçonaria…

Sim, tive. Este foi o graffiti “invisível”, ninguém nos media quis saber dele, não apareceu em nenhum jornal ou Comunicação Social, excepto um tímido aparecimento no site do Diário de Notícias. Porquê? Simples, o problema não era o Relvas, era a alusão à maçonaria. Percebi logo, quando no fórum de comentários do DN, alguém pago se esforçou demasiado em retóricas acerca de como eu estava estupidamente errado em conotar a maçonaria neste processo, quando toda a gente sabe que as notas dele na escola foram apoiadas por maçons. Depois, não apareceu em mais lado nenhum. Claramente, os media estavam mudos para esse assunto, muitos jornalistas e editores frequentam lojas maçónicas. Não foi de estranhar… Este, para mim, foi o mais importante mesmo… Pois, ficou provado por A+B o quanto vale a nossa liberdade de expressão e o que é de facto este modo de “Artificial Democracy”.

Quando é que soube que foi apagado, tem alguma ideia por quem, a mando de quem?

Soube no sábado, através de um ‘post’ no Facebook de uma conhecida. Não tenho ideia
nem vou especular. Mas, com certeza, coisas demasiado óbvias nunca devem ser ignoradas…


Pensa fazer um outro alusivo ao que aconteceu?

Não… Só se fosse mesmo para os media em geral… Fui lá hoje [segunda-feira, dia 20] pôr uma “dedicatória” a quem fez tal acto de censura.

E o leitor, por que motivo acha que este mural foi apagado?

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