les misérables
Eu abomino Passos Coelho. E suponho que o seu gabinete esteja cheio de
jotinhas, aldrabões, mentecaptos e mentirosos, muitos deles filhos dos
amigos, muitos deles incompetentes, muito deles sem qualquer
experiência, muitos deles indignos sequer de serem acessores de um
Presidente da Junta, quanto mais de um Primeiro Ministro de um país
alegadamente civilizado.
Ainda assim, estou convicta de que cada vez que fazemos todos um enorme
alarido porque no gabinete de um Primeiro Ministro alguém ganha três mil
euros (sensivelmente 1800€ líquidos), é contra nós próprios que
falamos.
O assessor pode ser mau, o Primeiro Ministro uma fraude, o Governo uma
catástrofe, mas um assessor do gabinete de um Primeiro Ministro ganhar
1800€ líquidos não tem rigorosamente nada de extraordinário.
E quando, muitos de nós com perfeita consciência disto, alinhamos em
ataques populistas baseados nestes valores, contribuímos para uma
cultura nacional de miserabilismo salarial. Subscrevemos um mercado de
trabalho tacanho, explorador e bafiento. E assinamos por baixo de uma
economia em que um licenciado começa a sua carreira a ganhar
miseravelmente e dez anos depois, com muita sorte, já só ganha muito
mal; por baixo de uma cultura que aceita que pensões de quinhentos euros
possam ser cortadas; por baixo de uma cultura que encara a progressão
salarial como uma quimera.
Em resumo, fazemos ao Governo que faz de nós miseráveis o favor de pensar como miseráveis.
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