segunda-feira, 16 de maio de 2011


O desprezo elitista pelas alegações de abuso sexual - o caso Strauss-Kahn

Dominique Strauss-Kahn (DSK), director-geral do FMI e candidato socialista favorito à presidência da República francesa, foi preso ontem, 14-5-2011, já no avião da Air France que se preparava para partir para Paris, sob acusação de acto sexual criminoso (agressão sexual), violação tentada e sequestro, a uma criada do Hotel Sofitel, onde estava instalado.



O New York Post, de 15-5-2011, refere que Strauss-Kahn terá «alegadamente sodomizado» a mulher, de 32 anos - já o NY Daily News, de hoje, diz que Strauss-Kahn obrigou a empregada do hotel a sexo oral. O New York Post, que é mais detalhado, diz que a empregada terá entrado, pela uma da tarde de sábado, para limpar a suite do Sofitel de New York (de 3 mil dólares por noite), julgando-a vazia. Segundo relata o jornal, Strauss-Kahn, casado em terceiras núpcias com a jornalista Anne Sinclair, estava no casa de banho e, alegadamente, perseguiu-a pelo corredor, puxou-a para o quarto, ela libertou-se, mas ele agarrou-a novamente e arrastou-a para a casa de banho, onde a agrediu sexualmente, tendo ainda tentado fechá-la na casa de banho. Ainda de acordo com esse jornal, a polícia de New York acredita que Strauss-Kahn, que terá deixado o seu telemóvel e outros pertences pessoais no quarto do hotel do hotel de onde saíu à pressa, tentava fugir às autoridades. A empregada do hotel foi levada de ambulância para o hospital, onde foi tratada a pequenas feridas. Strauss-Kahn, que continua detido, já negou as suspeitas.

A empregada trabalha há três no hotel e o seu desempenho e comportamento são descritos como totalmente satisfatórios pelo director do hotel Sofitel, o português Jorge Tito.

Strauss-Kahn já tinha sido referido em 2008 num caso de alegado abuso de poder no FMI (caso Piroska Nagy), noutro de favoritismo com contorno sexual nesse mesmo ano (o caso Émilie Byhet) e ainda num caso de agressão sexual à jornalista Tristane Banon em 2002, na sua garçonnière. Apesar disso, DSK era mais censurado pelo estilo sumptuoso de vida: soberba penthouse na Place des Vosges da capital francesa, além de outro apartamento em Paris, ultra-luxuoso riad em Marraquexe, valiosíssima colecção de obras de arte, hotéis sofisticados, Porsche Panamera, que justificou ser emprestado, alfaite de luxo em New York. Mas, como sabemos de experiência feita, casas caras, carros raros e alfaites finos, não parecem ser problema para os votantes da esquerda-caviar (e da esquerda cuscus) europeia. E acrescento que nem sequer o abuso sexual. A incoerência entre o carácter e o discurso não preocupa minimamente o eleitorado da esquerda europeia.

Com este caso nova-iorquino de alegada nova agressão sexual até o insuspeito Monde conclui que a candidatura de Strauss-Kahn à presidência francesa tem poucas hipóteses de se concretizar. Mas veremos como os media tratarão este caso de alegada violação em comparação com o caso Berlusconi de alegada prostituição com raparigas (de 17 anos...), pelo qual está a ser justamente julgado em Itália.

O ainda director-geral do FMI - e protector dos países europeus gastadores - não tem imunidade diplomática e, num julgamento que poderá começar já daqui a três meses, as penas máximas previstas nos EUA para as acusações que sobre ele impendem são pesadas, em comparação com as europeias: acto sexual criminoso ou agressão sexual (15 anos de pena máxima), violação tentada (15 anos) e sequestro (5 anos). A justiça norte-americana é muito mais dura, na pena, na aplicação da lei pelos tribunais e pelas polícias (como reconhece o José) e mais moderna na fundamentação teórica do que a portuguesa - veja-se o caso doloroso da ilibação pelo Tribunal da Relação do Porto da alegada violação de uma grávida de oito meses, em depressão profunda, pelo seu psiquiatra - acórdão do processo n.º 476/09.0PBBGC.P1, de 13-4-2011.

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