quinta-feira, 14 de junho de 2012

Saúde

64 mil idosos passaram a pagar nos hospitais. Estado ganhou quase meio milhão de euros

Hospitais são a parte mais frágil do sistema e podem colocar em risco o SNS

É um dos efeitos das medidas da austeridade na saúde. Relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde considera muito restritas as medidas tomadas para tão pouco e aconselha uma reavaliação.
14-06-2012 7:36 por Dora Pires




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A crise e a austeridade dificultaram o acesso dos portugueses aos serviços de saúde. A conclusão é do Observatório dos Sistemas de Saúde. Só no Alentejo, mais de 64 mil idosos perderam a isenção de taxas moderadoras. Por esta via, a receita do Estado subiu quase meio milhão de euros.

Também no Alentejo, os cortes no transporte pago aos doentes não urgentes chegaram aos 65%. Um exemplo em destaque no documento, de como as receitas da “troika” para a área da saúde partem de números, mas atingem pessoas.

O relatório que vai ser apresentado esta quinta-feira de manhã adverte que foram tomadas demasiadas medidas restritas para tão pouco tempo e considera essencial uma reavaliação: perceber o verdadeiro impacto dos cortes, fazer correcções e ganhar mais tempo.

O documento aponta vários exemplos de medidas que afectam directamente a vida dos utentes. Porque a crise, já se sabe, não dá saúde a ninguém – bem pelo contrário – é importante perceber, em concreto, o impacto dos cortes na saúde na vida das pessoas, nomeadamente em Portugal.

Em países como a Grécia, refere o relatório, é bem patente o aumento dos comportamentos de risco, do consumo de álcool e drogas e o aumento das doenças mentais, com subidas nunca vistas das taxas de suicídio.

Por cá, os sinais vão no mesmo sentido, mas está a cair bastante, por exemplo, o consumo de ansiolíticos – medicamentos que perderam nos últimos anos quase metade da comparticipação do Estado.

Os hospitais são apresentados como a parte mais frágil do sistema, que pode pôr em risco o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Falta financiamento e não chega pagar metade da dívida acumulada. A situação de racionamento implícito na saúde alastra e podemos perder depressa o que tanto demorou a erguer – e nunca fez tanta falta.

O ministro Paulo Macedo é elogiado por ter enfrentado, como ninguém, “lobbies” como o das farmacêuticas, mas é acusado de ser bem mais brando com outros que dependem demasiado do Estado, como o sector privado.

O relatório deixa, por exemplo, a pergunta: porque é que, tendo os hospitais públicos capacidade para tratar 20% dos hemodialisados, só são tratados 10%? E porque é que o número de doentes renais em fase terminal é, em Portugal, o dobro do que existe noutros países europeus?

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