Isto não vai acabar bem
por Samuel de Paiva Pires, em 22.10.13
Vejo gente que habitualmente se
pronuncia contra qualquer corte na estrutura do estado, particularmente
no que concerne à possibilidade de despedimento de funcionários
públicos, indignada com os cortes nos salários destes e nas pensões
previstos no Orçamento do Estado para 2014. Assim é difícil incutir um
módico de razoabilidade neste debate. Ou se racionaliza e reforma a
estrutura do estado, o que passa em larga medida pela extinção de
diversos organismos e o despedimento de funcionários públicos, mantendo o
nível salarial habitual dos restantes, ou, para garantir a igualdade
tão propalada pelo Tribunal Constitucional e procurar manter o status quo, se corta a remuneração a todos. Tudo o mais são apenas tentativas de realizar a quadratura do círculo. Não dá.
E por isto mesmo é que, há uns dias,
interrogava-me sobre se será mesmo positivo que este seja o último
exercício orçamental sob intervenção externa. Sem
uma reforma do estado de fundo, especialmente na administração central -
que, diga-se de passagem, é sempre algo que encontra forças de bloqueio
e resistências que tendem a frustrar qualquer tentativa de reforma -,
tendo já o sector privado e as famílias realizado o ajustamento
necessário, continuando o Tribunal Constitucional a ter uma
interpretação restrita da Constituição que impede qualquer reforma de
fundo que passe pelo despedimento de funcionários públicos e não sendo
possível encontrar um consenso no sentido de rever a Constituição para a
adequar aos tempos que vivemos, a possibilidade de voltarmos aos
mercados com o intuito de continuarmos a endividar-nos para sustentar um
estado insustentável, não augura nada de bom - cenário que é ainda
agravado pela inexorável possibilidade de o PS voltar a ser governo.
Enfim, mais coisa menos coisa, o João Caetano Dias estará provavelmente coberto de razão.
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