Eu acho compreensível que os funcionários da RTP estejam preocupados com o seu futuro. Se a empresa fosse governada racionalmente, um terço deles não teria lugar. Mas a verdade é que graças à forma desastrada como o tema tem sido tratado, eles conseguiram que se confunda serviço público com RTP. E essa confusão é uma das piores coisas que pode acontecer se quisermos, com seriedade, continuar a ter um serviço público de rádio e televisão.
Uma coisa é serviço público, outra é o universo da RTP- não podem ser confundidos e como se tem demonstrado ao longo dos anos a RTP proporciona pouco serviço público, mas em contrapartida faz mais concorrência aos privados, na televisão e na rádio.
Por estes dias li, sem surpresas, que os famosos 150 milhões da contribuição para o audiovisual, que pagamos na fatura da eletricidade, chegavam para pagar o funcionamento da SIC ou da TVI. Como se sabe não tem chegado para pagar a da RTP – já que ainda recebe indemnizações compensatórios e receitas de publicidade.
Aqueles que defendem um serviço público de televisão e rádio devem pensar no que é preciso fazer para que ele exista dentro desses 150 milhões. Não será difícil perceber que a estrutura terá de diminuir, que o número de canais terá que ser menor, que a programação deverá ser complementar, em vez de concorrencial em relação aos privados. Não é um processo fácil e demorará uns três anos a executar. Mas é possível, e é a única forma de conseguir que daqui a alguns anos exista outra produção audiovisual, que retrate melhor o país, as pessoas, a sua cultura e os seus hábitos – quer nas notícias, quer na programação.
Só mais uma coisa – no momento atual esta não é a discussão mais importante sobre o futuro de Portugal. Mas é uma questão cuja resolução sinalizará a vontade de mudança.
(Publicado na edição de hoje do Metro)
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