O «Corte nas Pensões»
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Artigo de António Alves Caetano,
irmão de Marcello Caetano, que os jornais se recusam a
publicar, sobre as pensões dos reformados e pensionistas.
Estimados Amigos,
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Como os jornais não publicam as
cartas que lhes remeto e preciso de desabafar, recorro aos meus correspondentes "Internéticos", todos os
amigos que constam da minha lista de endereços. Ainda que alguns não liguem ao
que escrevo.
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Não
sei a que se refere o Senhor
Primeiro-Ministro quando afirma ser a penalização fiscal dos
pensionistas resultante de todos aqueles que, em Portugal, "descontaram
para ter reformas, mas não para terem estas reformas".
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Pela fala do Senhor
Primeiro-Ministro fica-se a saber da existência de
pensões de aposentadoria que estão acima daquilo que resultaria da correta aplicação do Cálculo Actuarial aos descontos que fizeram. Sendo assim - e não há razões para admitir que o Senhor Primeiro-Ministro não sabe o que diz - estamos perante situações de corrupção.
pensões de aposentadoria que estão acima daquilo que resultaria da correta aplicação do Cálculo Actuarial aos descontos que fizeram. Sendo assim - e não há razões para admitir que o Senhor Primeiro-Ministro não sabe o que diz - estamos perante situações de corrupção.
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Porque o Centro Nacional de Pensões
e a Caixa Geral de Aposentações só podem atribuir pensões que resultem da estrita
aplicação daqueles princípios actuariais aos descontos feitos por cada cidadão,
em conformidade com as normas legais.
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Portanto,
o Estado tem condições de identificar cada uma dessas situações e de
sancioná-las, em conformidade com a legislação de um Estado de Direito,
como tem de sancionar os agentes prevaricadores, que atribuíram pensões
excessivas.
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Mas,
é completamente diferente a
situação face aos cidadãos que celebraram contratos com o Estado. Esse
contrato consistia em que, ano após ano, e por catorze vezes em cada
ano, o cidadão entregava ao Estado uma quota das suas poupanças, para
que o mesmo Estado, ao fim dos quarenta anos de desconto lhe devolvesse
essa massa de poupança em parcelas mensais, havendo dois meses em que
era a dobrar, como acontecera com os descontos.
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E
tem de ser assim durante o tempo
em que o cidadão estiver vivo e, em parte mais reduzida, mas tirada,
ainda, da mesma massa de poupança individual, enquanto houver cônjuge
sobrevivo. E esta pensão tem o valor que o Estado, em determinado
momento, comunicou ao cidadão que passava a receber. Não tem o valor que
o cidadão tivesse querido atribuir-lhe.
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Portanto,
o Estado Português, pessoa
de bem, que sempre foi tido como modelo de virtudes, exemplar no
comportamento, tem de continuar a honrar esse estatuto. Para agradar a
quem quer que seja que lhe emprestou dinheiro para
fazer despesas faraónicas, que permitiram fazer inumeráveis fortunas e
deram
aos políticos que assim se comportaram votos que os aconchegaram no
poder, o Estado Português não pode deixar de honrar os compromissos
assumidos com esses cidadãos que, na mais completa confiança, lhe
confiaram as suas poupanças e orientaram a sua vida para viver com a
pensão que o Estado calculou ser a devida.
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As
pensões que correspondem aos
descontos que cada qual fez durante a vida ativa nunca poderão ser
consideradas excessivas. Esses Pensionistas têm de merecer o maior
respeito do Estado. Têm as pensões que podem ter, não aquelas que
resultariam do seu arbítrio. E é este o raciocínio de pessoas honestas.
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Esperam
que o Estado sempre lhes entregue aquilo que corresponde à pensão que
em determinado momento esse mesmo Estado, sem ser coagido, lhes
comunicou passariam a receber na sua nova condição de desligados do
serviço ativo. Ou seja, a partir do momento em que era suposto não mais
poderem angariar outro meio de sustento que não fosse a devolução, em
fatias mensais, do que haviam confiado ao Estado para esse efeito.
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Os
prevaricadores
têm de ser punidos, onde quer que se situem todos quantos permitiram
que, quem quer que seja, auferisse pensão desproporcionada .
OPINIÃO
Salazar, a pobreza, o pó e o ouro
Os
portugueses iludiram-se culturalmente: julgaram que o
dinheiro fácil que chegou durante três décadas comprava a solidez da educação e o
espírito da invenção e inovação. E do risco. É uma tónica portuguesa:
prefere-se a renda ao risco. O resultado está à
vista.
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Em 1962, António Oliveira Salazar sintetizou de forma clara a visão que tinha do seu Portugal: "Um país, um povo que tiverem a coragem de ser pobres são invencíveis". Este mundo pobre, ou remediado, acabou após a entrada na União Europeia.
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Em cima da nossa pobreza caíram toneladas de dinheiro. O país ficou sulcado por auto-estradas e rotundas. As mercearias de bairro fecharam e nasceram hipermercados. Os portugueses passaram a preferir ir passear para os centros comerciais do que para os jardins. A democracia de consumo chegou como se fosse um milagre redentor. Todos acharam que faziam parte da classe média, alimentada pelo crédito fácil.
Em 1962, António Oliveira Salazar sintetizou de forma clara a visão que tinha do seu Portugal: "Um país, um povo que tiverem a coragem de ser pobres são invencíveis". Este mundo pobre, ou remediado, acabou após a entrada na União Europeia.
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Em cima da nossa pobreza caíram toneladas de dinheiro. O país ficou sulcado por auto-estradas e rotundas. As mercearias de bairro fecharam e nasceram hipermercados. Os portugueses passaram a preferir ir passear para os centros comerciais do que para os jardins. A democracia de consumo chegou como se fosse um milagre redentor. Todos acharam que faziam parte da classe média, alimentada pelo crédito fácil.
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O paraíso tinha também construído na sombra o purgatório, feito de cumplicidades: do BPN à Parque Escolar foi um mundo
de oportunidades de "negócio" para muitos. Deixando de ter a coragem de ser remediado o povo português
tornou-se uma presa fácil de uma crise que não percebesse.
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Destruída a base
industrial, agrícola e piscatória do país, com fundos comunitários para abater tudo isso e trazer a
"modernidade", Portugal ficou indefeso quando chegou a grande crise de 2008. Já antes era visível mas todos se recusavam
a ver: o Estado continuava a ser a
mãe de todas as batalhas e de todas as rendas.
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A própria sociedade civil e iniciativa privada viviam de bem
com o Estado, fosse ele guiado pelo PS ou pelo PSD. A mais breve nota de
suicídio da história
portuguesa foi
escrita por José Sócrates, o último da linhagem de destruidores de um país que
poderia ser remediado mas inteligente.
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Tudo se desvaneceu
no ar. O crédito fácil foi substituído pela amarga austeridade. António de
Oliveira Salazar, em 1963, dizia: "Quero
este país pobre, se for necessário, mas independente - e não o quero colonizado pelo capital americano".
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A colonização é hoje exercida pela Comissão Europeia e pela troika, numa Europa que
parece cada vez mais dividida cultural
e moralmente, entre um norte protestante e um sul católico. A moral calvinista é uma forma demolidora de salvação
(salvamo-nos pelo trabalho), face à forma como se perdoam os pecados, no
confessionário, a sul.
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Tudo nos divide. A
forma como os protestantes criaram o capitalismo moderno enquanto nós víamos as naus
carregadas de pimenta e ouro irem directas para Amesterdão e Londres para
pagar os nossos prazeres ao sol diz muito do que são formas
diferentes de olhar para a civilização.
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Mas, ainda assim, os
portugueses iludiram-se culturalmente: julgaram que o dinheiro fácil que chegou durante três décadas comprava a solidez da
educação e o espírito da invenção e inovação.
E do risco. É uma tónica portuguesa: prefere-se a renda ao risco. O regime atolou-se e o BPN representa-o
perfeitamente nas suas ligações pouco transparentes a tudo e a todos. Se
quisermos estudar este regime
estudemos o BPN. Antes e depois da nacionalização. Está lá tudo o que se
andou a fazer desde a entrada na União Europeia.
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Maquilhou-se a pobreza com um falso riquismo que só
encheu os bolsos e a estima de alguns. Que hoje vivem acima dos dramas dos comuns portugueses
que só acreditaram no cartão de crédito, na casa acima das suas possibilidades, nas férias
nos "resorts" mais aprazíveis, no carro do último modelo e no
telemóvel 3G.
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Esse mundo ruiu para a maioria. Mas na sombra da crise há
quem continue a viver de rendas, escudado nos invencíveis contratos com
que o Estado prometeu dar tudo sem receber nada. Voltamos assim aos anos
de 1960, como se tudo não tivesse passado de uma ilusão.
Com uma diferença: em Agosto de 1968, Oliveira Salazar dizia: "No dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó". - Hoje, nos bolsos de alguns que nasceram, cresceram e singraram com este regime, só se encontrará ouro. M.Fernanda
Com uma diferença: em Agosto de 1968, Oliveira Salazar dizia: "No dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso, só encontrará pó". - Hoje, nos bolsos de alguns que nasceram, cresceram e singraram com este regime, só se encontrará ouro. M.Fernanda
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